quinta-feira, abril 26, 2007

XI razões para NÃO IR aos Jogos Jurídicos

I – Meu chefe não vai me liberar.

Considerações: você “se acha” mesmo, né ? No seu escritório, o único que acha que você tem alguma importância é você mesmo. Eles fazem de conta que se importam com você apenas por educação. Não percebeu ainda ?

Sugestão: VÁ AOS JURÍDICOS ! Na segunda, lá pelas 14 horas você liga pro seu querido chefinho e diz que você está no Aeroporto, desde as 5 da manhã, mas os malditos controladores de vôo continuam em “operação-padrão” e você não faz a mínima idéia de quando vai conseguir pegar o seu vôo (o fato de saber se lá existe um aeroporto é detalhe sem importância).

I I – Você é calouro e está preocupado porque ainda não conseguiu entender como é que faz pra ler o Kelsen. Assim que entender, precisa começar a ler, porque todos os seus colegas da sala já leram.

Considerações: Calouro é burro mesmo ! Primeiro, porque acha que vai conseguir ler o Kelsen; segundo, porque acha vai entender o Kelsen; terceiro porque não sabe que ele próprio não concordava com o que escreveu, então mudou de idéia; e, quarto, porque acredita que todos os colegas já leram.

Sugestão: VÁ AOS JURÍDICOS ! Porque temos boas notícias pra você, que não sabia porque calouro é calouro e tudo burro mesmo. A Atlética organiza grupos de estudos para cada sala de cada ano, para os alunos não perderem tempo. As atividades são entre os jogos, na Sala de Estudos do Hotel. O grupo que estuda o Kelsen é o mais procurado de todos. Portanto, você está amparado nesse quesito. Um dos ônibus é destinado a transportar a nossa querida Biblioteca, fazendo circular o conhecimento jurídico por esse Brasil afora.

I I I – Você é um completo boçal.

Considerações: respeitamos a sua deficiência mental, inclusive por saber que os computadores da fuvest ainda não conseguem detectar anomalias nos genomas dos candidatos, tornando franciscano, eventualmente, algum deles. Como é o seu caso.

Sugestão: VÁ AOS JURÍDICOS ! Seus problemas acabaram ! A Atlética, em convênio com a Secretaria de Saúde de Pouso Alegre, conseguiu algumas belas fonoaudiólogas, Com isso, elas darão treinamento intensivo para energúmenos feito você, para que consigam, até o final dos Jogos, articular apenas duas palavras, ainda divididas silabicamente. Vai treinando aí: São Fran-cis-co ! O resto será simples repetição. Garantimos que não é difícil, não. Após 1108 tentativas, a coisa vai que nem quiabo. Vai, beócio !

I V – Você é um entusiasta franciscano, mas teve um probleminha: sofreu um acidente, perdendo as duas pernas, os dois braços, ficou surdo, mudo, cego e está atualmente em estado vegetativo. E o que lhe sobrou de cérebro está pensando que o seu estágio como “peso para petições” corre perigo, caso você falte na segunda feira.

Considerações: caro cotoco, você deve conhecer a antiga máxima: nem só de pão vive o homem. Conhece, né ? Então. Embora isso nada tenha a ver com o caso, não venha com desculpas esfarrapadas. Não seja pessimista. Acidentes acontecem. Procure IMAGINAR o lado bom da vida.

Sugestão: VÁ AOS JURÍDICOS ! Qualquer um vai ter vaga no porta-luvas pra te dar carona. Na Torcida Nota XI, a gente te coloca no estojo de um tamborim e tudo bem. No Aloja’s (quem inventou o apóstrofe ?) a gente arruma um travesseiro pra servir de cama. Você só precisa ter uma precaução. Peça para outro estagiário fechar a janela da sua sala, na sexta-feira. Não tendo vento, sua ausência ali nem será notada na segunda.

V – Você bem que gostaria, mas não pode ir. Está comendo uma pucana e não quer ter divergência com ela por causa dos jogos, perdendo assim o seu FGTS (Fucking Garantida Toda Semana).

Considerações: o seu gesto é parcialmente louvável, no aspecto de colocar a pucana em seu devido lugar, deitada. Agora, não pode se esquecer que vai ser corneado logo mais. Porque, quando ela arranjar estágio no escritório de um franciscano, vai liberar pra ele também. Sobram pra você duas opções: você será corneado e pegará a sopa daquele nobre colega causídico ou larga a mão de ser imbecil e troque uma pucana daqui por 11,8 pucanas de lá. Simples, não ?

Sugestão: por isso, VÁ AOS JURÍDICOS !

V I – Você já foi a um JJurídicos e acha que já está bom.

Considerações: é verdade ! Dentro dessa sua brilhante lógica aristotélica então, supostamente você já deve ter dado a sua primeira na vida. Então tá bom. Chega. Parta agora pra outras experiências. Temos várias sugestões, porém, só pessoalmente. Anota aí meu celular...

Sugestão: pára de viadagem e VÁ AOS JURÍDICOS !

V I I – Você morreu.

Considerações: não venha com auto-piedade por aqui ! Isso acontece com qualquer um. São coisas da vida que você precisa superar. Prá isso, a

Sugestão: VÁ AOS JURÍDICOS ! Você vai se sentir à vontade. Durante os jogos, os nossos adversários são todos uns mortos, mesmo aqueles que ganham bolsa. Na realidade, deveriam ganhar um caixão, não a bolsa. Já depois dos jogos, nossos insuperáveis atletas é que ficam mortos de cansados. E não ficam aí, reclamando como você, por causa de besteira.

V I I I – Eu só assisto aulas, não conheço ninguém da Sanfran, não pego ninguém, não jogo nada, não bebo e não gosto de baladas e estou mais interessado na minha formação profissional..

Considerações: a gente entendeu perfeitamente que você é um inepto. Muito semelhante ao item VII, sendo que ele tem uma grande vantagem: já fechou os olhos e deitou. É o que tá te faltando. Mas no meio da maravilhosa Torcida Nota XI ninguém vai nem perceber isso. A gente te fornece alguns chicletes e você fica mascando, fingindo que tá cantando. Igual aos jogadores da seleção, cantando o Hino Nacional. Depois você vai poder contar pros netos que, pelo menos uma vez na vida, você fez alguma coisa que prestou. Para você, nada como aquele ditado também: viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta.

Sugestão: por isso, VÁ AOS JURÍDICOS ! e mais: quando contar pros netos, omita o seu currículo, por favor. Pra eles não perceberem que você é um velho, desde os vinte anos.

I X – Aqui, uma interrupção necessária:

Êêê leleô, leleô, leleô , X I ! – repita NOVE vezes.
SANFRAN – ENEACAMPEÃ DOS JURÍDICOS
Pronto, pode reclamar, abra o seu coraçãozinho:

Eu nem sei se a gente vai ganhar.

Considerações: captamos perfeitamente o brilhantismo da sua capacidade de percepção das realidades da vida. A Torcida Nota XI é composta por brilhantes franciscanos, porém poucos têm o seu toque de gênio. Já aprendemos com o Galvão Bueno que existem as possibilidades da vitória, da derrota e do empate. Porém, contando com a sua transcendental ajuda, podemos alertar nossos valorosos atletas sobre as demais possibilidades que só você pode enxergar. Quem sabe você não passe a fazer parte da nossa Comissão Técnica ?
Sugestão: por isso, VÁ AOS JURÍDICOS !


X – Aqui, outra pausa.
Precisamos ir treinando (e alguns aprendendo):
SANFRAN – DECACAMPEÃ 2008
Aí A LATRINA vai fazer o maior sucesso !
Antes que reclamem das “piadas internas”, ajudamos: a DECA fabrica latrinas. Entendeu ?

Voltando à dura realidade:

Eu acho que VOCÊS estão cantando vitória antes da hora.

Considerações: Luciana Gimenez, não vai dizer que você também acha que o fogo queima ? E que a água molha ? É claro que nós estamos cantando vitória antes da hora. A razão, que passou despercebida por tão arguta mente, no caso a sua, é absolutamente simples: você percebeu que os JJurídicos ainda não começaram ? Por isso é claro que é antes da hora.
Sugestão: por isso, para constatar que cantamos vitória ANTES da hora, NA hora e DEPOIS da hora, faça o seguinte: VÁ AOS JURÍDICOS !


X I - Eu não concordo que franciscanos fiquem xingando pucânus, mack-orelhas e toda aquela periferia jurídica nos Jurídicos. Penso que deveríamos nos integrar mais, para unir forças e tornar o Brasil melhor, com mais justiça social e menos desigualdades. Afinal, todos somos da mesma classe, a de estudantes de Direito e...

Considerações: caro comunista, desculpe interromper. É que senão, até você terminar o Kit Um do Manuel, desculpe, Manual o povo já dormiu. Mas concordamos com você em gênero, número e degrau.
Você consegue imaginar que o consumo de cerveja que ocorre ali gera muitos empregos ? Que a Johnson&Johnson tem que duplicar a produção de Johntex, pagando horas-extras, melhorando a distribuição de renda, pagando mais impostos ?
E quem disse que não nos unimos ? Experimente ir nas baladas, que você vai ver todo o mundo coladinho. Já a força é moderada e progressiva. Exemplar !
Então, boneca ! Relaxa ! Você não vai acreditar, mas, na realidade, a gente só faz os Jurídicos e essa coisa toda é pra melhorar a condição do povo brasileiro. É o exercício da cidadania responsável e a nossa cota de sacrifício, né !

Sugestão: por isso, junte-se a nós nessa luta, companheiro: VÁ AOS JURÍDICOS !

sábado, abril 21, 2007

A USP finalmente consegue a sua Faculdade de Direito


A Universidade de São Paulo criou no dia 27 de março último, a sua Faculdade de Direito, a ser instalada no campus de Ribeirão Preto. Com uma grade curricular atualizada e ampla, ampliada também a carga horária para período integral. Só podemos augurar sucesso, tanto à nova Faculdade quanto aos alunos que de lá forem egressos.
A Faculdade de Direito do Largo de São Francisco , criada por Decreto Imperial, aos "XI de Agôsto de 1827" tem, em sua longa História um rol incontável de criações. Se por um lado demonstra a excelência de seus alunos no transcorrer de séculos, por outro o faz como a sua tarefa primeira, a de construir um Estado brasileiro. Sendo assim, em sua personalidade ímpar, a Academia sempre foi o criador e nunca criatura (exceto o ato da própria criação).
As criações da Faculdade entretanto, por meio dos seus alunos, a iniciar pelo próprio Estado Brasileiro, estão aí, vigentes, e portanto sujeitas a todo o tipo de avaliações e interpretações, nos mais variados enfoques que a Ciência possibilita. O que não lhe tira o mérito de criadora.
A criação da Universidade de São Paulo, em 1934, em um contexto histórico extremamente adverso ao Estado, veio mais a título de “reparação” pelas mazelas originárias de um regime autoritário, cujo líder maior foi e é persona non grata, a despeito daquela criação.

Diz a verdade universal que todo o mal traz em si o germe de um bem equivalente. A sociedade paulista e brasileira ansiava pela criação de um centro de excelência em ensino e pesquisa científica. A tal ponto de, mesmo com a criação da Universidade, não haver professores para obter aquele intento, buscados que foram então no exterior. Por isso, tal anseio veio ao encontro e coube sob medida para aquele ato de reparação ditatorial ao Estado de São Paulo. À Faculdade De Direito, à Academia, então com cento e dez anos de existência , caberia então viabilizar intelectualmente aquela criação, posto ter sido sempre criadora, sua tarefa essencial. Para dirigi-la como Reitor, um aluno egresso da São Francisco. E outros, posteriormente.

Dentro então de um novo contexto histórico nacional, adveio então a medida que mostrar-se-ia um impasse, paradoxal e insolúvel: tornar a criadora uma criatura. Fazer da Faculdade de Direito uma unidade da Universidade de São Paulo. Se tal aconteceu nos vínculos administrativos, burocráticos e econômicos, nunca aconteceu na prática. Nem sequer fisicamente. Permanece no Largo de São Francisco a pedra fundamental e lá permanecerá para sempre, qual está escrito: quantas forem colocadas, tantas arrancaremos. Certamente, ao longos dos setenta anos transcorridos de sua criação, a USP, a sociedade, a mídia e até parcela ínfima de alunos fizeram por confundir o inconfundível, o criador pela criatura. Essa não é uma visão emotiva dos fatos, mas apenas os fatos, reais como se mostram.
Por isso, parabenizamos a Universidade de São Paulo pela criação da efetiva primeira Faculdade de Direito, em Ribeirão Preto.

Então, atendo-nos exclusivamente aos fatos, os alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco devem exigir, por isonomia normativa constitucional, que seja também contemplada com os avanços da unidade criada, como a paridade curricular e o ensino em período integral, entre outros. Não nos deve caber questionar a conveniência e a oportunidade da criação daquela Unidade, posto não nos dizer respeito. Cabe-nos sim exigir, mutatis mutandis, a equiparação. Todo bem deve ser copiado.

Essa, a paridade exigida e possível. Tudo o muito mais, a História, as tradições, a excelência discente e docente, o espírito, isso não se consegue por decreto. Permanecerá cativo no Pátio das Arcadas.

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Essa, uma visão. Porém, proponho que outros façam o mesmo, exponham a sua visão. Não como uma crítica ao que aqui vai escrito, mas simplesmente a sua visão. E a veicule pelas Arcadas.
Por ser um contexto inédito na História da Faculdade, proponho também que o Centro Acadêmico "XI de Agôsto" promova um debate interno geral , para que tenhamos "opinião oficial" sobre o assunto. Isso, a despeito de ser sabedor da diversidade ideológica que compõe esse universo ímpar.
Essa é uma das funções primordiais do Centro Acadêmico, como representante e porta-voz dos alunos.

domingo, abril 08, 2007

O gol de placa

Esclarecimentos prévios necessários: para participar do concurso de contos, o mote era: futebol e sexo, na paisagem do Rio de Janeiro. Não deu outra, deu essa: dar a “milésima”” na cidade maravilhosamente perdida, feito balas. La vai !

Se existe um visual belíssimo é o da chegada aérea ao Rio de Janeiro. Curiosamente, a cidade foi chamada de maravilhosa em uma visão de chegada marítima que mal se vê alguma coisa. Sendo portugueses, tudo bem. O Cristo, com seus braços abertos. Estaria ele sendo assaltado ? Não, não. Saúda a todos os que lá estão e os que, como eu, chegam. Penso que não só ele deve estar de braços abertos à minha chegada. Precisa ter mais alguém, totalmente aberta e receptiva. Não que eu seja um espião, terrorista, empresário ou coisa assim, mas tenho uma grande tarefa a cumprir nestas lindas plagas.
Nas minhas andanças por esse mundo afora, muita coisa a preencher as retinas, as lembranças, a mente e o coração. Muitas passagens e paradas, num afogadilho de leve, feito a um cartão-postal sentimental. Para embelezar ainda mais as paisagens maravilhosas que se têm no mundo, nada melhor do que com a pessoa humana.
Nessas alturas do campeonato, a estória dos meus vai-e-vem, literalmente, chega ao cabalístico número de novecentas e noventa e nove. Como todas as grandes conquistas geralmente são de pequenas coisas, o mimo especial. Nada como sacramentar o jogo sexual com um milésimo gol em plena Rio de Janeiro, cidade do Maracanã, de muita partida memorável e gols belíssimos.
Tal dito, vê-se que não pode ser uma pelada qualquer, do tipo vira três, acaba seis. Ou ainda do tipo: três, vira, três; cigarro e whisky. Esse gol merece ser especial. Nada de pênalti. Não que todos os jogos tenham sido vencidos. Algumas derrotas fragorosas, acabando inclusive com a velha desculpa de que isso nunca havia acontecido comigo antes. Muitas vitórias e grandes goleadas também, com a graça de Deus. Embora toda essa estória não me tire a humildade: reconheço os gols impedidos; os feitos com a mão, estilo Maradona, talvez num afogadilho de um metrô lotado ou uma viagem de ônibus prá Cuiabá, onde a partida toda e seu gol foram resolvidos na ponta dos dedos, reciprocamente. Pênaltis perdidos, feito o Zico. Embaixadinhas aconteceram na Câmara de Comércio Exterior, mas com toda a diplomacia. Fora esses, a maioria, feitos na raça mesmo, quando tudo já se considerava perdido e o Sol querendo aparecer, para dar o seu apito final, num jogo sem gol. Gols na prorrogação, tipo morte súbita. Enfim, cada jogo uma história, cada gol um prazer.
Você está me acompanhando, né ?
A comissária de vôo me tira de meus devaneios, avisando que chegamos e dá as boas-vindas. Numa rápida avaliação, sinto saudades das aeromoças de antigamente. Essa não dá jogo.
Pronto, entramos em campo. “Estamos bem preparados, com uma equipe treinada e bem entrosada”. “Temos que dar tudo de si”. “A torcida é grande, maravilhosa e merece um grande espetáculo”. “Esperamos fazer uma boa partida e conseguir um excelente resultado. Afinal, clássico é clássico e vice-e-versa”. Bem se vê que em futebol e em sexo nem sempre se usa uma boa língua. Isso seria eu dando entrevistas, com respostas-padrão a perguntas cretinas. Vamos fazer esse milésimo gol, que goleador é prá isso mesmo. Chega de firulas e quiprocós. Aos finalmentes, que não tô aqui prá brincadeiras.
Do aeroporto ao hotel e daí direto prá praia. Nada como uma boa caminhada pela orla, prá relaxar. Não há alguém mais disponível que andarilhas e corredoras de plantão. Estão ali para o que der e vier e, principalmente, para o que vier e der. Assim como eu, haveria outras. Com um olho na pista e outro nas brancas areias. Anda que anda, com inspiração visual suficiente para centenas de garotas de ipanema, voley e tantas outras peladas.
Ei-la ! A presa, a vítima, a felizarda, a escolhida, sei lá. É ela, é ela!, diria Álvares de Azevedo que, no caso, não sou eu. Bendita malhação ! Sob o Sol que Deus mandava, a garota se esmerando nos alongamentos e relaxamentos. Após algumas gracinhas de praxe, fico sabendo ser ela atleta e que irá competir em jogos internacionais. A modalidade não poderia ser mais convidativa e sugestiva: salto com vara. Perfeito ! Digo ser turista, ao que ela assente como óbvio: meu amarelo-escritório. Diz que treina no Maracanã, todas as manhãs. Convido-a a me convidar para conhecer aquele, o maior estádio do mundo. Diante dessa insistência de um único convite, ela aceita. Ó o gol se delineando aqui. Lá vamos nós ! ‘Tamos no caminho certo.
Entramos no estádio, com ela se sentindo em casa, conhecida. A todos um sorriso, um cumprimento, uma palavra gentil. Na pista de atletismo, os preparativos para o seu treino. Faço eu as vezes de seu personal trainner, e assisto-a saltar. Uma verdadeira campeã ! Finalmente, em direção ao vestiário, passamos por uma escada, com um aviso: proibido trepar aqui. Epa ! Placa colocada devido aos muitos e muitos acidentes que ocorrem por esses estádios do mundo todo, com a torcida passando de um lugar ao outro. Aqui, não ocorreriam. Havia a placa, alertando sobre isso. Ao que parece, não se dirigia a mim, ao meu caso.
E foi ali mesmo, sob a sombra daquele aviso intimidador, tornado inoperante, que entramos em campo, uniforme impecável, nuinhos em pelo. E, mesmo sem o apito do árbitro, mas no calor dos hormônios, inicia-se a pelada, a partida, a milésima ! Dribladas todas as resistências, invadindo uma fraca defesa, avançando pela direita, pela esquerda, pelo centro, lençóis, elásticos, pedaladas e um chute certeiro: bolas no meio das pernas ! E foi só correr pro abraço: Brasil, sil, sil, sil ! De longe, até o Cristo se comove e sai de sua posição de sempre: aplaude. “Ê, leleô, leleô, leleô ! É mil !”. Sabe-se lá a emoção de ser aplaudido e comemorado pelo próprio Cristo Redentor, meu ? Tem gente que não gosta dele, mas que é famoso, la isso é ! Nem tanto quanto o John Lennon, mas é. Mas isso também já deu polêmica adoidado. Mas não vem ao caso e não é da história. Furtivamente, uma comovida lágrima me percorre as faces suadas. Desculpe, essa frase me saiu de um “copiar-colar” de uma outra estória mais brega. Não cabe aqui, não ! A exaustão não me permite a correção, porém. Deixa ela aí que ‘tá de bom tamanho.

Foi assim, o milésimo gol, a milésima. Um legítimo e merecido gol de placa ! Andrada o sobrenome dela, mas não uruguaia, goleiro da Copa de 50, traidor. Soou-me a elogio, que nem sou Pelé, nem nada, mas que ele milesimou em cima de um Andrada. Eu também, literalmente, em cima. “Foi realmente um grande jogo, com o adversário na mesma altura, já que estávamos na horizontal. Tive a felicidade, num lance individual, de enfiar a bola por baixo, sem defesa. E, nesse momento solene quero lembrar das criancinhas abandonadas. Se cuidarmos delas, não teremos tantos marginais no futuro”. Não me ouviram, quem tinha que ouvir. Nem ao Pelé também. Agora temos todos eles, nesse governo aí. Tudo bandido. Qué que isso, minha gente ! Pronto, essa frase também surge solta, componente de outra estória quem nem vem ao caso. Mas que são bandidos, ah !, isso são. Que fique, então.
Esse foi um conto, cujo conteúdo principal, para a premiação, deveria conter “futebol e sexo, na paisagem carioca”. Atendido. A omissão de detalhes brilhantes, lambuzados, suados, escorregadios e lubrificantes, embora óbvia foi proposital. Tal evento será lançado mundialmente em dvd, com os ensaios, as cenas erradas, as descartadas, inclusive cenas não descritas, mantendo o devido suspense. Como extra, um compacto, apenas com as cenas mais interessantes. Haverá, como encarte, um “Manual de como Obter a Mesma Marca”, ilustrado até. Nele, em orientações masculinas, explico como. Nas femininas, explico: como. Depois, o empresário garante uma turnê mundial, com palestras nas melhores Universidades e bordéis do mundo todo, incluindo work-shops. Menos na Dinamarca, porque me disseram que lá a molecada atinge essa marca no jardim-da-infância. Sei lá! Mas, fica aqui avisado: menos na Dinamarca. Depois, vai ter até entrevista na Hebe Camargo e estudos estão sendo feitos, pra passar no horário nobre, que crianças não assistem. Cenas para a próxima novela educativa da Globo. A minha contribuição à cultura brasileira. Esses escritos, um script apenas. Veja em cores. Em breve, nas bancas: O gol de placa. Não perca !

Zaga Gol’Arte