quarta-feira, janeiro 21, 2009

O acordo otorrinolaringo-ginecológico-hortográfico




Que saudade que eu tenho,



do tempo que valia a máxima:



quem não tem competência não se estabelece.








Isso é que é acabar com as desigualdades sociais, conforme promessa de campanha presidencial: a partir de 2009, todos passaremos a escrever errado.
Quando veio aqui um infeliz e disse que o Brasil não somos um país sério, o povo chiou. Mas chiou apenas porque tinha que chiar. Que não é sério, não é mesmo. Fato esse público e notório, desnecessária qualquer tentativa de justificação. Porém, em se sobrando tempo para elucubrações, a gente pode juntar fartos assuntos. Esses não faltam, infelizmente. Como há similitudes gerais, a gente as abarca n’A LATRINA.






Não é fácil viver no País do Mula, pensa! Como explicar para um suíço, por exemplo, que a Lei Seca foi implantada por um alcoólatra? Eu já estava aqui, fazendo mil maquinações para encontrar uma explicação razoável. Talvez uma crise de consciência, prá não dar mal exempro? Não, não tem antecedentes pra isso, não. Será porque agora ele tem motorista particular? Ai sim, já começa a fazer sentido.




Mas, eis que o presidencial gajo vem com outra: agora quer mudar a nossa língua! Seria idioma, mas temos que escrever no mesmo nível. Será que é porque ele troca o L pelo R, quer também que todos o possam? Troco então o F pelo M. Liberdade total.




Já que não temos problemas mesmo, nossas questões todas estão praticamente resolvidas, vamos então cuidar de abobrinhas: acordo hortográfico. Tudo maliciosamente misturado: por que é que tinham que mexer no hímen ? Trema comigo nesses questionamentos:

I – Por que chamam de Acordo, se é só o Brasil que acordou sozinho?

I I – Já andamos tão escassos no assunto, agora querem tiram o pouco hímen que restou? Deve ter algo a ver com o Bush (vixe!!), com aquele negócio de campanha da abstinência sexual. Só pode. O que é bom para os EUA não é bom para o Brasil? Eles lá, querendo preservar o hímen. Aqui, uma festa só, quase todo hímen será retirado. Ainda mais com uma lei que chega um pouco antes do Carnaval! Maquiavélico! Não sobra um prá contar estória!

I I I – Esse negócio de tirar o hímen à força eu acho que é inconstitucional. Taí a Lei Maria da Prenha. Era Penha, mas perdeu o hímen, ficou Prenha. Não pode não, ó Mula! Prá tirar o hímen tem quem ser com consentimento, no maior carinho, não pode ser assim, por Lei, não! Na violência? O que é que é isso, minha gente?

I V – E, depois, ficou uma coisa meio máquina, você não concorda? Tire o hímen, mas não trema ! Que coisa! Quer dizer então que o cidadão vai lá, tãtãrãrã e tal, mas nem uma tremidinha de nada? Lá se foi o hímen, mas tô fora?! Cadê a emoção na coisa?

V – Depois, esse acordo vai é aumentar as coisas em extinção nesse mundo. Já não basta o jacaré de penas verdes, e o mico leão dourado que vive na Serra Pelada. É preciso preservar o Planeta! Já pensou que agora a menina-moça está em extinção? Como é que fica uma menina-moça, sem hímen? Inexiste. Esse Mula, viu! Isso de meninamoça é como ele, doutor Honoris Causa.

V I – Já, saindo um pouco de cima desse assunto, com a camada de pré-sal, tudo bem. A Petrobrás vai lá e mete a broca, arranca o hímen e, beleza! Que vire pressal, mas desde que achem o tal do petróleo salgado, claro. Aliás, tô achando que o petróleo que vão descobrir lá na Bahia deve ser de abaixo da camada de óleo-de-dendê... Pronto, tá errado, é óleodedendê ? Pára, Mula. Tá, tá, para Mula, conforme o acordo hortográfico. Quanta abobrinha, santo Deus!






V I I - Tá vendo só? Até o Bill Gates sabe mais português que o Mula! Nem bem eu escrevi “pressal”, e pronto! Já apareceu aquela cobrinha vermelha embaixo dela. Tá errado. Sabia!

V I I I – Nem bem entrou em vigor o tal do Acordo, já recebi de poetas-escroto, colaboradores dA LATRINA fazendo os seus poemas-piada (com ou sem o hímen, pelo amor de Deus?). Até poderia servir como frase de parachoques de caminhão:






Para o caso de ânus novo



Não trema sobre a linguiça




I X – Na verdade, estou aqui achando que o Mula está mais é querendo causar, sabia? Ele tá querendo subverter a ordem das coisas. Pra disfarçar, já que nem governa mesmo, fica inventando moda. Bebe feito esponja, mas não quer ver ninguém bebendo. Agora mexe ai com esse negócio de palavras, coisa que ele não domina nadinha. Nem mesmo em seus raros momentos sóbrios. Só porque era torneiromecânico (sem hímen, claro), falaram que tinha acento diferencial, pronto! Já achou que era o diferencial do motor. De diferencial eu entendo, ele pensou! E quis mexer nos acentos também.

X – Mas vejo ai uma lógica aristotélica, apesar de vir de onde vem a asneira. Quando tinha que dirigir, era bêbado mesmo e tudo bem. Melhorou de vida, tem motorista, então não pode mais beber e dirigir. Fica fácil assim, não é mesmo? Por outro lado, quando torneiromecânico, andava de ônibus, com muitos assentos. Que aliás lhe era cedido, tal o estado comatoso alcoólico que lhe é peculiar. Agora, mudou de emprego, tem carro particular, assento único. Então pode tirar esses acentos todos ai. Principalmente aqueles que vão no motor, no diferencial.

X I – Então, o pepino atual é essa abobrinha: o acordo hortográfico. Algo insosso e sem finalidade prática, posto que “tire o hímen, mas não trema. E que seja em pé, já que o acento também não tem mais”. Mas, em relação à língua mesmo, não mudou nada. Ainda bem! Parece que todos podemos manter os mesmos hábitos milenares, degustando o que sobrou da última flor do Lácio. Penso que nisso o Mula não mexeu por ser o seu estado atual de possibilidades. Ô vida, viu!




Luiz Gonzaga Arcadas, XV de fevereiro,CLXXXII