domingo, fevereiro 15, 2009

A prova da OAB: que gabarito!

Nessas minhas andanças pela seara do Direito, tinha mesmo que passar um dia por essa cancela. Verdadeiro mata-burros, literalmente: a prova da OAB.

E é verdade mesmo. Logo mais vai ter festa. Quando abrirem mais trinta cursos de enganação em Direito, nesse Brasilsão do deus-me-livre, estaremos completando o incrível e cabalístico número: 1108 ! É mole ? É “facul” demais pra cabeça, companheiro!

Lá vamos nós então: a prova da OAB. Fontes fidedignas me confidencnaram que a dita prova é feita com consulta, porque pucânus e mack-orelhas acharam que assim fica mais fácil. Dá pra passar, afinal. Porque, se não fosse assim, quem mais poderia passar ?

E chega de prolegômenos. Vamos à prova. Vamos à peça. Eu fui condecorado com ser o causídico, contratado pela dona Ana. Simpática senhora, nos seus lustrosos 64 anos, que me contratou com um escandaloso sorriso nos lábios: havia sido estuprada! E eu então deveria fazer a modorrenta justiça tupiniquim começar a funcionar.

Com algumas idéias na cabeça, sem lenço e sem documento, uma mala com cinqüenta (sem trema) quilos de verborragia jurídica, tinha que preparar... preparar o que mesmo? Uma queixa-crime contra o José, valente e corajoso autor daquela conjunção carnal constrangida, sob ameaça. Não é por nada não, mas eu gostaria de ter sido uma testemunha.

O delegado me argüiu se, nesse caso específico, não seria um caso de Apelação. Todo mundo sabe que delegado geralmente é pucânus. Parece que é o sonho maior deles. Caso típico de nulidade absoluta. Talvez um fator limitante cerebral, sei lá. Mas, dessa vez, tive que anuir. O cara tinha algo de animus jocandi. Realmente, era apelação mesmo !

Um cidadão, em sã consciência, estuprar uma donzela de 64 anos? Ah, faça-me o favor, não? Certamente que iria colocar esse fato como indicativo para aumento de pena. No mínimo o dobro, que o infeliz merece! Fosse lá uma jovenzinha, em seus esfuziantes vinte aninhos, teria lá o meu aval, como diminuição de pena e também atenuante. Ora, pois!

Teve sim testemunhas oculares do grotesco fato. Um casal, casado. Presenciaram toda a cena. Por certo ser-lhes-á indicada terapia, com certeza. Não deve ter sido fácil, não. Ela afirma que a entusiasmada e estuprada Ana gritava, a todos pulmões: me largue, me largue! Já o marido discorda. Confirma que a gritaria, por parte dela era mesmo infernal. Porém, o que era realmente gritava era: milagre, milagre!

Eu cá não sou juiz pra julgar nada , mas por todos os carnavais que já vivi, fico com a versão masculina.

Então eu comuniquei à Ana que precisaria dela uma procuração. Ela ficou espantada com isso. Mas, seu doutor advogado, o senhor tá nessa de “procuração” ainda? Eu também estava, sabia? Procurava, procurava, e nada! Até que me apareceu essa santa alma do José! Mas agora a gente tem que dar queixa, né? Fazer, o quê? Será que a gente não poderia oferecer pra ele aquele negócio de “relação premiada”? Será que eu vou poder visitá-lo na cadeia? Será que se eu oferecer uma indenização para ele, pode haver o caso de reincidência? E crime continuado, como funciona?

Eram muitas as dúvidas da entusiasmada constrangida. Pobre José, quanta violência! Realmente não cabia essa de delação premiada, a despeito da euforia da estuprada. Mas a minha queixa-crime foi um verdadeiro parto. Isso foi! E eu ainda tive que escrever que a vítima, no caso, o José, deveria ser condenado. São ossos do ofício.

Por certo que tenho uma visão não-ortodoxa do Direito, coisa e tal. A julgar inclusive pelos outros brilhantes artigos, tentando criar uma Doutrina só minha, peculiar.

A julgar pelos acessos da Noruega, Moçambique, Suíça, Indonésia, e outros fins-de-mundo, parece mesmo que é esse o destino d'A LATRINA: espalhar merda para o mundo inteiro. É bom isso!

Com tudo isso, fico só pensando: será que fui bem nessa provícula da OAB?

15.04.2008

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Ode ao calouro

Ao ser-lhe outorgado o sagrado direito
De adentrar os umbrais dessa hiperbólica Academia
Por certo baixará humildemente os olhos
Diante da magnificência das Arcadas
E em devaneio, procurará imaginar as pegadas
Dos monstros sagrados, românticos ou não,
Seus nomes inscritos nas majestáticas colunas
E, deslumbrado exclamará: Aqui está a História !
No depois, perambulando entre o Pátio e o Porão
Entre vitórias e descobertas vívidas e vividas,
Em meio às duas mil e trezentas tendências e mentes franciscanas
Numa incrível e indescritível turbulência ímpar
Buscará por onde se permeia o cenário dessa tal História
Ela, aos poucos se revelará vazia, cenário apenas
Chegando a casa, olhar-se-á ao espelho
Ali se deparará com a imagem-resposta
que a Academia nos revela a cada um:
Eis a História ! Eis o Presente !

E ela o espera ávida, cenário apenas,
A preenchê-la com a sua parte, a sua arte
O seu futuro, a dela obra.
Emoldurada em Amizade, animus jocandi e Alegria.

Porém
Aos que chegam e buscam assento
Para, inertes, assisti-la passar
Restará o desconforto e a decepção
De nada assistir, de nada ver, nada criar.
Apenas acreditando que assim seja
O espetáculo que se lhe descortinara.
Pensarão, em suas cabecinhas
Ser então a Sanfran um túmulo com paredes carcomidas
Revivendo anacrônica um passado morto, num presente amorfo.
Para eles, estória apenas.
A Academia, sua medíocre “facul”.
Isso, a imagem que o espelho lhes revela.
O presente amargo, o XI um número. Romano, em esnobismo estéril.
No futuro, restando apenas como boa lembrança.

As Arcadas são sempre as mesmas,
O espelho é sempre o mesmo
O Largo não é estreito
Você, a diferença.

Felício Novo, o poeta calouro