segunda-feira, junho 22, 2009

Relatório anual de greve da usp: copiar-e-colar

De todas as festividades anuais, e haja festividades!, dos alunos das Arcadas, certamente a mais maçante é a greve da usp. Todo ano, já com calendário marcado, o povo do Butantã declara-se em greve. Os motivos reais dela não são declarados, provavelmente por serem escusos e espúrios, vide bandeiras do PSTU, MST e Gaviões da Fiel. Mas a pauta de reivindicações declaradas são aquelas mesmas de 1968. Os gritos de guerras também são os mesmos. Só os personagens e as datas mudam. Os gritadores atuais são filhos e até netos daqueles que brandiram suas armas e bandeiras, naquela longínqua Década da Paz, do Amor... e da greve. Alguns ainda até hoje moram de graça no Crusp. Netos, pais e avôs. Afora as lideranças, que se deram bem e hoje assentam-se em Brasília, distribuindo cargos e altos salários para si e para apaniguados, parentes, amigos and so on.

A São Francisco tem lá o seu vínculo burocrático-financeiro com a usp. Por isso, também anualmente, o Centro Acadêmico “XI de Agosto” faz uma enquete, consulta os alunos acerca da greve. A consulta é pro-forma, visto que feita para aplacar anseios dos líderes das greves anuais, pré-agendadas. Política de boa-vizinhança entre Centros Acadêmicos. Mas o resultado é sempre o mesmo: 60-80% dos franciscanos não quer greve, não adere e muito menos lidera greves. O apoio declarado pelos alunos é aquele, no melhor estilo “tá bom, façam lá a sua greve. Mas me incluam fora disso”. Sempre para o desalento dos grevistas, cujo sonho sempre foi inutilmente incluir a São Francisco em suas greves. O nosso sonhado cenário de “lutas sociais”. Afinal, o Território Livre é nosso quintal, todas a “grandes lutas” se travaram e se centraram em nosso Pátio. E a liderança pensante, brilhantes franciscanos. Isso tudo num glorioso tempo que nem usp havia. Era e é, como sempre, a São Francisco. Mas em vão. Arcadas, sem greve.

No transcorrer de tudo isso, acompanho com interesse renovado as longas mensagens e pequenos ensaios que se produzem na Internet, nos egroups das salas de todas as turmas. Primeiro, devo declarar que o pessoal tem tempo de sobra. Eu, para ler; eles, para escrever longas digressões acerca, inicialmente da greve. Favoráveis ou contras. Posterior a isso, o assunto descamba e passa a abranger o inimaginável. Tais como os direitos difusos, a Guerra de Tróia, os perigosos buracos negros, a recente ascensão do Corinthians, bem como o show da Susan Boyle. Canta muito bem a moça! Escrevem bem e bastante os admiráveis pares franciscanos.

Há uns cerca dez alunos da São Francisco que participam das manifestações de greve que 0,001% dos uspianos fazem, com aquela citada maçante regularidade anual. Tais alunos deixam na garagem da sua cobertura duplex no Morumbi os seus Audi, BMW e outros carrinhos populares, pegam um ônibus (argh!!) e vão para o Butantã, encontrar os seus pares de Esquerda, revoltados com a opressão e a desigualdade. Ressalte-se que, no caso desses alunos das Arcadas, ser de Esquerda não remete a qualquer ideologia, como primeiro se faz pensar, mas apenas indica em qual punho ele carrega o seu Rolex. Que deixa em casa, para se juntar ao perigoso, mas útil manipulável populacho. Esse proceder, enfadonho e renitente, faz parte da surrada cartilha para tentar inutilmente eleger esses dez alunos como Diretoria do “XI de Agôsto”. Resta lembrar que, enquanto houver um só aluno que tenha presenciado a traiçoeira palhaçada da gestão esquerda e grotesca do XI, em 2007, fica garantido que eles não serão eleitos outra vez.

O recurso chamado greve, em sua essência, sempre conteve a idéia de ser uma inesperada carta na manga, uma última arma, com a potência de um tsunami, cuja enérgica ação visava mexer com estruturas, aprimorar e equalizar algo. Isso lá pelos idos de antanho. Com o passar do tempo, pela banalização do seu uso previsível e único, num modus operandi anacrônico e repetitivo, na linguagem requintada presidencial, o tsunami passou a ser apenas uma marolinha. No máximo algumas ondinhas maiores, utilizadas para a prática salutar do surf, entre aficcionados. Que, obviamente sairão por ai, declarando em altos brados que manifestações escritas como essa que se lê, são a expressão de uma direita reacionária, fascista, pequeno-burguesa, dos opressores do maldito sistema capitalista, etc e tal. Descarregarão, como sempre, feito descarga, todo o vocabulário do kit-Marx que sobejamente conhecemos, pela repetição. Na falta de argumento convincente, utilizaram a tão criticada violência da Polícia. Com o diferencial de que esta age, quando age, por dever legal. Aqueles, por pura apelação.

Inovando, incrivelmente, dessa vez resolveram fazer uma grandiosa passeata, cujo destino era o nosso Território Livre, o Largo de São Francisco. Mas a inovação não é criatividade, é apenas o uso da fraude. Indução ao erro da mídia e do povo em geral, já que tendo o Largo como ponto final da tal manifestação, faz acreditar ao desavisado que aderimos, apoiamos e até lideramos tal greve. O que é uma mentira.

Enfim, a greve da usp: uma esquálida reencenação de edições passadas. Um show anacrônico e picaresco; inútil, porque vazio; agora, também criminoso.

Luiz Gonzaga
Arcadas, XX de junho, CLXXXII

segunda-feira, junho 01, 2009

O Direito Voluptuário

No Brasil, o que vale é o Direito Voluptuário. Ou seja, leis para que tudo fique bonitinho. Leis para tudo. Enquanto a realidade corre solta. E impune.
Agora será proibido fumar em locais fechados. Longe de querer defender heroicamente a saúde da população, a intenção mesmo é de criar mais uma forma de extorquir dinheiro de bares, restaurantes e afins.
Multar carros parados não impedem que atrapalhem o trânsito. Mas rendem milhões.
Vamos exigir que também sejas fiscalizados os estádios (que são fechados) e os locais de festas tipo Skolbeat (idem). Ah, e que aproveitem também para fiscalizar o tráfico de drogas, que corre solto ali.
Aproveitem também para fechar fábrica de armamentos e seu tráfico. Intoxicação por chumbo é mais letal que o monóxido de carbono do cigarro. Mata na hora.
Que fechem também as fábricas de motoclicletas, pois elas matam, por ano, mais do que a interminável guerrinha entre os diversos tipos de judeus.
Fechem também o Congresso, pois lá há os que desviam para seus bolsos o dinheiro que seria para que crianças não morram de fome, por esse Nordeste afora.
Para distrair a atenção do povo, além de futebol e sexo explícito no horário nobre, resolveram botar a culpa no cidadão por todos os problemas do mundo. Como se ele fosse o vilão e não o Estado. Assim, prendem por desmatamento um índio porque tirou casca de uma árvore, para fazer chá. Mas não prendem as “n” madeireiras chinesas que estão devastando a Amazônia, sob os olhos complacentes e corruptos dos que deveriam protegê-la.
Longe de mim afirmar que fumar faz bem, mas o que faz mais mal é a hipocrisia que tomou conta do assunto. Tudo e todos falando sobre os males que o cigarro faz. E todo o resto ai, acontecendo, como se tudo já estivesse resolvido. E o povo, ignorante como sempre, engole isso. E saem todos feito Dom Quixote, empunhando alguma bandeira imposta pela mídia.
Criam Leis espúrias e oportunistas, porém bonitinhas, sob o dogma de que o que vale é a Lei. Nossos códigos e Constituição são um primor de perfeição. Mas não sobre a realidade real que vivemos. Dizem, com toda a empáfia: vai para a cadeia! Só não completam a frase “... e será libertado meia hora depois, por um Habeas Corpus emanado pelo STF”. Ou ainda, sairá pela porta da frente do presídio, depois de todos devidamente comprados. Mas se tiver furtado um shampoo, esse está realmente condenado a passar o resto dos seus dias trancafiado. Provavelmente morra lá, antes de sair.
Penso até que toda essa campanha é patrocinada pelas fábricas de tabaco. Propaganda gratuita. Não, não. Mas falar sobre isso é Teoria da Conspiração.
Atropelaram até o único princípio que é sagrado em Medicina: NADA que ocorre no corpo humano é unicausal. Mas, com o cigarro pode. Afirmam como donos da verdade, na maior displicência e na maior ignorância: o cigarro CAUSA... Não causa! Desafio a qualquer um a comprovação das 4700 substâncias que dizem existir. Assim como desafio a comprovação da morte de apenas UM, por “fumância passiva”.
Quisera Deus que todas as doenças matassem como o faz o cigarro, depois de trinta ou quarenta anos de uso. Talvez nunca. O cidadão morre antes, por outro mal. Como a Náusea, por exemplo, diante de tanta hipocrisia.
A poluição causada por ônibus, caminhões e carros matam em questão de minutos. Se não acredita nisso, poste-se atrás de um ônibus ligado, por alguns segundos. Sulfetos, monóxido de carbono, chumbo e outras coisas estão ai, no ar, cada vez mais. Mas isso pode. Quando muito, a culpa é sua. Deixe o seu carro em casa. E tudo fica resolvido. Após claro, uma campanha televisiva custando milhões, que irão para bolsos muito bem conhecidos.
E esse Direito Voluptuário criou a Democracia, onde todos temos o direito de fazer como se manda. E o nosso rei, Monarquia Absolutista em pleno século XXI, cercado de bajuladores comprados, distribuem-se estrategicamente para também comprar a pseudo-oposição, que nada mais quer que desfrutar um lugarzinho saudável e rentoso. Para os muito ricos, os paraísos fiscais. Para os muito pobres, bolsa-família. Cada qual tem o cala-a-boca que merece. Recurso prá tudo isso? Vem das multas aplicadas sobre a espremida classe média. Que passa a vida bestamente trabalhando, para bancar o circo e pagar as multas.
Essa conversa toda poderia ser feita em uma mesa de bar, com alguns amigos, cervejas e cigarros. Mas não se pode beber, por causa do bafômetro. Não se pode fumar por causa do aquecimento global. E os amigos estão divididos, entre ser contra ou a favor de tudo isso. Talvez então conversemos pela internet, presos dentro de casa.
Claro está que alguns argumentarão: nossa! Como é que você pode defender o cigarro?
Não tendo sido afetado pelo vírus do "policitamente correto", vou morrer de overdose. Não de monóxido ou álcool, mas da hipocrisia reinante.

Luiz Gonzaga
Um cidadão