sábado, dezembro 11, 2010

FGV, a melhor Faculdade de Direito?

            Pela primeira vez nos exames da OAB, alunos da GV, por expressiva aprovação, colocaram a sua Faculdade em primeiro lugar em São Paulo e em segundo, em termos nacionais. Congratulações! Parabéns, mesmo!

Para fazer um breve passeio por esse episódio, vamos desconsiderar que também é a primeira vez que a FGV organiza os exames aqui considerados. E que, clonados da excelente Faculdade de Direito de Harvard, verdadeira Sanfran da Commonwealth, há que se considerar um excelente merchandising aos futuros calouros de 20XI, que lá entrarão. Contribuindo com a bagatela de quatro mil reais. Mensais. Para poucos. Difícil de estar, não de entrar. Clonada também a essência do Capitalismo. A mim me parece ótimo. Um dia esse nosso encantado país teria mesmo que sair do Feudalismo e entrar finalmente na Era Capitalista. Ainda que com trezentos anos de atraso. Parabéns então, de novo à FGV, por essa abertura dos portos! Nosso povo vassalo fica lhes devendo essa. O que é um bom começo. Ressalte-se, mais uma vez que, apesar de isso ser fato consumado, não tira o mérito dos alunos aprovados e da conseqüente colocação da Faculdade, em termos estaduais e nacional. 

E onde entra a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco nessa estória? Não entra. Quando Paul McCartney decidiu vir ao Brasil, pouco se lixou para a existência do atual sucesso do Restart. Nome que é um pseudônimo. O nome verdadeiro é Delete. Muito embora exista uma Kombi de  windows 7 admiradores do trash, ficamos nós lá, apinhados no Morumbi, naquelas noites memoráveis. Para ser grande, sê inteiro(infernando pessoas).

O intrincadíssimo painel de um avião, por vezes mal-comparado ironicamente à lógica da mente feminina, permite que se faça uma viagem de sucesso. Desde a decolagem até à aterrisagem. Cada componente pertinente àquele sucesso é continuamente monitorado. Todos eles têm que funcionar, independentes e sincronizados. O resultado final, o sucesso esperado. Ou não.

Os adoráveis calouros que aterrisam, feito às águas de março, nas Arcadas têm que ter sido admiráveis. Para estar no extremo direito da curva de Gauss, ser parte de dois por cento sobrenadante em um caldo de feras tem mesmo que ser a nata. E passar a viver nas nuvens, a trinta mil pés de altura... e de distância dos minúsculos terráqueos, vivendo com os pés no chão.

E é ai que pode nascer o engano. Um passo tão grande, diante da viagem, será apenas o start. Não Restart, não se confunda. A viagem de/ao sucesso não tem piloto automático. Cada maldito reloginho do imenso painel  deve ser checado a todo instante. A envolvente e deslumbrante vida nas Arcadas pode fazer com que diminuta parcela de franciscanos eventualmente se descuide. Talvez uma ressaca tardia da maravilhosa Peruada entorpeça mentes. Ou ainda o amargo sabor de entregar o XI obnubile certos grupos. E eles então venham a constituir os XI% que não cumpram a tarefa de averiguar um dos relojinhos, qual a provinha da OAB.

           Na meritocracia, privilégios  conquistados trazem grandes responsabilidades. A paisagem externa, acima das nuvens, mais perto de convívio com Deus e distante da pequeneza dos homens, o fascínio que exerce essa jóia multifacetada chamada Arcadas, o convívio entre mentes brilhantes, o exercício diuturno do animus jocandi, a incessante luta para manter a humildade.  Essas e outras são coisas que podem momentaneamente fazer com que alguns poucos franciscanos percam a noção de que a viagem, muito mágica com seus mistérios só se coroa de êxito com a aterrisagem. E no retorno à estranha sensação de passar a viver com os pés no chão, que não são o familiar Jardim de Pedras. E a rotina não mais se faça entre brilhantes, mas com terráqueos, agora não mais microscópicos, dada a proximidade. . Enfim, o treinamento nas alturas foi feito para se aprender a viver a viagem real, aqui embaixo mesmo.

           E nada desse circunlóquio tira o mérito dos aprovados da FGV, que continuam a merecer cumprimentos pela façanha alcançada. Inclusive agradecimentos especiais, pois é sempre bom lembrar que alguns tapinhas brasileiros em algum relojinho emperrado possa trazer tudo ao status quo ante. Por outros 183 anos mais.

             Mas, e quanto ao título desses escritos: FGV, a melhor Faculdade de Direito?
               

Bazinga!!!!!!!!!!!!!


Arcadas, XI de dezembro, CLXXXIII
Leia o Livro
Arcadas: segredos, magia e estórias

quinta-feira, novembro 25, 2010

Lovely Paul: o show e a Beatlemania

Um abraço MUITO especial

Três quilos em suor, atividade saltitante aeróbica comparável aos quatro mil orgasmos de Blackburn, Lancashire, treze horas de overdose alucinógena suficientes para uma Magical mistery tour . E três horas do mais puro amor com 64 mil pessoas ao som hipnotizante de um garoto: Sir  James Paul McCartney. Para todos, apenas Paul. Eis o domingo, indescritível, incrível, inenarrável e maravilhoso, 21 de novembro de 2010.
       
Depois disso, quatro noites de um sono inconciliável, acompanhado de uma frenética e compulsiva captação de todas as imagens e sons buscáveis na net, para uma pastinha singelamente denominada: domingo.
Por fim, diante dos olhos, da mente, do espírito e, principalmente do coração, a resposta. Isso sempre teve um nome, perdido no labirinto dos tempos: BEATLEMANIA. I've just seen a face I can't forget the time where we just met.
Não havia exagero na Beatlemania. Ela já era a própria expressão do exagero. Com tudo o que se tem agora disponível em comunicação para tornar o Planeta Terra um ovo, fica muito difícil imaginar como é que se sabia quase que imediatamente tudo o que ocorria  no mundo todo, no que se referia aos Beatles. Havia, nesse nosso sub-imundo Brasil, o rádio. Talvez uma telepatia emocional. Talvez qualquer coisa. Mas, com certeza, uma coisa: sabia-se quase que instantaneamente de tudo. E embora não tenhamos tido a sagrada graça daqueles meninos por esse nosso fim de mundo daqui, a Beatlemania tomou conta de tudo, feito a um tsunami. Quando da apresentação do filme A Hard day's night(aqui chamado de os Reis do ié-ié-ié, motivo de riso para os fabfour)  houve, nos cinemas por onde passou, uma quebradeira generalizada. Alguns ficaram completamente destruídos. Quantos, não sei dizer. Mas, com absoluta certeza, dois. Como testemunha ocular e partícipe.
Por que é que pessoinhas quebram tudo, assistindo a um filme, por sessenta e sete vezes, de quatro malucos na tela? Sabe-se lá!
Por que é que alguém acaba sendo preso por roubar uma capa, apenas a capa, de um LP, porque a foto era inédita? Mais tarde, muito mais tarde, vim saber que havia sido liberado por via do princípio da bagatela. Mas a bagatela está muito bem guardada comigo. 
Por que é que de cada três habitantes da Terra, um tem algum disco dos Beatles? Algo em torno de dois bilhões de discos vendidos. E um Guinness particular, apenas para eles. Como compilar um inusitado disco contendo 27 primeiros lugares que se torna o 28º?
Por que a compulsão de ter tudo, saber tudo e querer tudo o que se refere aos Beatles? 
São infindáveis as perguntas sem resposta. Pergunte à Beatlemania. Como ela não é uma pergunta, mas uma resposta, cria-se uma tautologia adorável.  
1964
 Enfim, a Beatlemania, um alucinógeno em overdose natural, torna a vida uma absoluta loucura insana agradável de ser vivida, abre as portas da percepção e da criação e nos leva para uma mágica e misteriosa viagem por longos e sinuosos caminhos. Como naquele Maracanã, com suas noventa mil pessoas cantando, chorando e pulando junto
Quem, naquele domingo esteve ali, sabe o que tudo isso significa.  Mesmo as mais poderosas câmeras não conseguiam captar com nitidez as imagens. Mas a nossa retina muito bem as captou e guardou-as no coração. O sentimento chamado Beatlemania não é para ser contado ou explicado, mas apenas para ser vivido.
Obrigado, Paul! Por existir, por ter sido e ser a Beatlemania e por tê-la nos trazido de volta, mesmo que por fugazes 180 minutos, para esse estéril, árido e desolado mundo de 2010, que pede por Socorro!

Luiz Gonzaga

domingo, novembro 14, 2010

Uma noite memorável

Uma noite memorável, o XI/XI. Iniciando-se às 18:27h o lançamento Nacional do livro As Arcadas: segredos,  magia e estórias

Hideo, o Arauto da Morte, o anunciador de eventos na São Francisco, geralmente necrológicos, já havia comunicado aos quatro ventos. A Associação dos Antigos Alunos já havia comunicado, coincidentemente aos antigos alunos. Os corredores do Pátio das Arcadas já haviam comunicado, numa das magias desveladas no livro, a todos quantos por ali circulam. Sem sequer dizer palavra, posto que corredores supostamente não falam. Corredores normais, ressalte-se. A imprensa foi comunicada.

O Migalhas, destacando-se, anunciou o Lançamento de maneira bastante peculiar e sintomática: Acontece mais uma estudantada na São Francisco. Desta vez, editorial. As Arcadas, o Livro, será lançado na Livraria Martins Fontes, dia XI/XI, às 18:27h (!).

É interessante notar que a expressão estudantada é um verbete coletivo, delineado ao longo de quase dois séculos, por alunos do Largo aprontando mais uma das suas. Por serem inclusive alguns deles, o povo do Editorial do Migalhas sabe bem das coisas. Parece até que já leram o livro. E leram.

As gentes, quando querem entrar na São Francisco, afora alguns que a acham “a” Escola de Direito, da usp, fazem-no porque querem estar na Faculdade da História. Depois de alguns parcos segundos aqui, querem saber que História é essa. E ficam sabendo que a sua página deverá ser escrita pela própria pena. Significa singelamente, no mínimo, participar de mais uma das suas.   

O poeta Cazuza se inspirou na minha pessoa, quando escreveu “eu sou mesmo exagerado”. Certeza.  Só que ele diminuiu um pouco, para não assustar. Levei ao pé da letra a expressão. Escrever a estória de própria pena não necessariamente significa escrever, claro.  O que para alguns é um encargo imenso, para mim, uma diversão. Por vezes, tenho pena da minha pobre pena! E quanto a participar de mais uma das suas, uma cansativa e salutar tarefa, overdose também. Disso tudo, restou uma coleção de memórias coletivas bicentenárias. Não minhas, já que a ninguém interessam as minhas memórias. Nem a mim mesmo. 

Por isso, o anúncio do Lançamento. Engraçado ter que explicar a alguns, o porquê do XI/XI. Pior ainda o porquê dos 18:27h. O Livro é mesmo muito necessário! A idéia central era anunciar que havia alguém das Arcadas aprontando mais uma das suas. É preciso que saibam, para se certificarem que As Arcadas continua a mesma. Por mais estranho que pareça escrever As Arcadas no singular. Mas forço a barra da sintaxe, em licença poética, dado que é singular. Singularíssima. Mas isso também é um outro assunto. Daí a ser anunciado como uma estudantada é uma diferença tamanha. Um orgulho e satisfação.  Algo coletivo sendo feito individualmente. Daí a epifania: havia eu colocado a minha necessária página naquela que é a mais maravilhosa História, a das Arcadas. Dever cumprido.E, aos quantos prometeram o puxadinho no Túmulo, a cobrança da sua contra-prestação naquele pacto sinalagmático.

Além disso, muito gente deu o prazer e a honra de comparecer ao Lançamento. Muita alegria e emoção. Autografar livros para pessoas a quem deveria eu pedir o autógrafo é algo de inusitada felicidade. De livro que deveria ser lançado em XI de agosto de 20XI, antecipado por razões que aqui não cabem, ficará a satisfação de ocorrer como “segunda edição”. 

E, conforme já explicado, o exagerado vai longe. As Arcadas deve se tornar um livro de produção coletiva. Você vai pôr a sua estória ali (por isso, mande-a para mim). Dessa maneira, aquele sacrossanto postulado de que a História das Arcadas é escrita por seus próprios alunos deixará de ser uma simbologia, para ser algo real e concreto. Há o Livro, onde aquele desavisado calouro que pisa nesse Pátio pela primeira vez e toma conhecimento desse encargo, tenha a sua parcela de compromisso em fazer algo, mais uma das suas, e inseri-la nele a sua estória. Não pelas Arcadas que prescindem dele para isso, mas para a sua própria grandeza.

R. Porter
Em cobertura exclusiva para a PÊNIX
XI/XI – o Lançamento d'As Arcadas, o Livro. Uma realidade fantástica

terça-feira, novembro 02, 2010

Uma luz no fim do túnel

Retirei todas as postagens que se referiam ao processo eleitoral. E retirarei este também, tão logo receba as cerca de mil visitas, quando de novas postagens. Este blog se presta, se é que presta, a outros fins que não a politicagem brasileira, muito embora a pertinência o nome A LATRINA.
Após um dia para digerir tão nefasto resultado, é bem propício o Dia de Finados para aclamar a vencedora de tão renhida eleição: a vergonha de ser brasileiro. Como se costuma dizer, por exemplo, "não existe um dia das Mães. Todos deveriam ser o seu dia" assim estamos com o resultado: conviver diuturnamente, por mais quatro anos com a indefectível vergonha de ser brasileiro.  
O grande Estadista Mula serviu para nos indicar a esperançosa luz no fim do túnel: um trem que vem em sentido contrário...
Costumam aclamar Mula como "um homem do povo". Pergunto eu: quem não veio do povo? Mas, com ele a coisa ficou bem clara, transparente: o eleito pelo povo nada mais é do que o seu espelho. Portanto, um ignorante, analfabeto, bêbado e aproveitador. Brasileiro da gema. Decorrente dele, o mesmo povo dando aval a todo tipo de maracutaia e safadezas mil. Por nunca saber de nada, uma aprovação ampla, total e irrestrita. Um país comandado por bandidos, acobertados por seu líder maior, igualzinho. Logo, na eleição seguinte, aquele mesmo espelho: a eleição de um bandido. Tem lógica. Sendo o brasileiro um gérson de plantão, nada mais legal do que um sistema onde ele tenha maior chance de arranjar uma boquinha. Esse negócio de meritocracia é burocracia desnecessária. Para que o suor, se na agora Dilmalândia basta ter carteirinha do pt?

A melhor expressão de triunfo que se viu, nas infindáveis manifestações de vitória: "Chupa Brasil! Dilma presidente". A visão tosca do brasileiro, que trata assuntos como esse como se fora o resultado de uma partida de futebol.
Nas minhas idas e vindas por essa vida afora, oriundo de uma miséria escabrosa, aprendi desde logo que não se deve correr atrás do dinheiro. O dinheiro é algo muito mais caprichoso do que uma fêmea no cio. É preciso que você conheça e cumpra o ritual da dança na sua extensa e intrincada totalidade. Um único movimento, gesto ou atitude fora do expressamente determinado, e você está fora. É algo como o cachorro correndo atrás do rabo. 
O que se precisa é correr atrás do conhecimento. Este sim é acessível e quanto mais você o explora, mais ele se mostra. 

domingo, outubro 24, 2010

Os dois filhos de Francisco (ou: o Forum no XI)

Jornalistas escrevem assim: Forum da Esquerda vence em primeiro turno as eleições para o XI. Não sou jornalista. Aliás, um dos meus hobbies preferidos é apontar as suas frases ambíguas no twitter.

Sabe-se que existe uma região logo acima dos joelhos que, quando fletido a noventa graus e sendo pressionada pelos cotovelos, aciona uma desconhecida região cerebral que nos conduz ao devaneio, verdadeira viagem lisérgica. Esse fenômeno prescinde de intrincadas comprovações científicas, mas tem a sua realidade constatada assim que todos os mortais, e até os imortais, assumam essa postura. Nessa posição, jornal só vai servir mesmo é para encerrar ato tão necessário. Mas isso apenas em caso de banheiros públicos, fim de balada, coisa e talz.   Por isso que o abordado pela A LATRINA se presta, se é que presta para alguma coisa, a viajar lisergicamente pelo ai da coisa. Uma frase você lê em qualquer lugar.

Preliminares realizadas, podemos nos adiantar na coisa. Após o pagamento de resgate por três anos seguidos, agora franciscanos em liberdade abrimos caminho por um mar vermelho. Dilema equivalente só mesmo os norte-americanos têm, quando decidem pegar aquela auto-estrada que liga Boston a Chicago. Sai de uma e cai na outra. E vice-e-versa. Talvez franciscanos, na ressaca pós-Peruada, tenham  confundido entre “ébrios” e “hebreus”. Pode acontecer, sabia? Em se falando em Peruada, tudo pode acontecer...

Filhos da São Francisco são mesmo dois. Posto que as Arcadas andam muito doente, suprimi o “são”. Começarei a desenhar o perfil pelo grupo de menor número. Já que hoje o enfadonho politicamente correto manda defender as minorias.  E também porque estou eu no grupo, o que me facilita, e em muito, discorrer sobre. E também porque é muito mais entusiasmante. E também porque eu apenas quis isso. Poderia ter começado pelo outro grupo e tudo bem também. Vamos a eles.

Apenas lembrando: esses gorgulhos involuntários que você agora se apercebe comprovam a  não-ortodoxa teoria de que é preciso divagar mesmo sobre as coisas, para que sejam-lhe companhia em momento tão sublime. Ou outra marca qualquer, visto que aqui não cabe o merchandising. Para uma dieta tão mal-equlibrada, só mesmo longos textos para acompanhar.

As Arcadas são a casa do franciscano. E ele desfila orgulhoso pelo Pátio, como se uma delas fosse-lhe dedicada. Não está, mas é. E ele a ama de uma maneira peculiar e única. É um amar-se tão grande que consta que Freud, quando desenvolveu a sua teoria do Ego, teve que desenvolver outra, para descrever um franciscano: o super-ego. Que mal cabe no Território Livre. A situação mais incômoda por que passa, visto que não tem problemas, mas apenas soluções, é acomodá-lo com os demais, em coexistência pacífica, embora em ebulição perene. Tradição e História permeiam suas atitudes e pensamentos, num rigor intransigente e absoluto: antes de tudo, as Arcadas. Posto que dela lhe germina a grandeza incipiente. Esse Universo Arcadas é o conteúdo inusitado desse continente ímpar chamado Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Que, convenhamos, é a excelência incomparável que sabemos. Transpor seus umbrais na condição de aluno abre mesmo as portas da percepção e do espírito. E brilha todo, porque alto pensa. É temerária a afirmação que são Deus. Mas que são a Sua semelhança, ah, isso são!

Lá pelos idos de fevereiro, a São Francisco é invadida, agora de maneira legítima e maravilhosa, por um amontoado de calouros. Com suas pastinha característica, os pais sorridentes debaixo do braço, cara de abestado, ávido por confirmar sua matrícula no “Direito usp”. Para alguns, certamente que algum deslumbrado familiar já lhe conseguiu a disputadíssima condição de “estagiário”, garantindo um brilhante futuro, antes mesmo que ele conheça o “campus”. A “facul”, a melhor da América Latrina, a faculdade do Castro Alves acaba por se mostrar nem tão boa assim. Tão cheia de problemas. Professores arrogantes. Ninguém a lhe guiar, segurando-o pela mão.  Depois, para se dedicar ao estafante trabalho de servir cafezinho no escritório não se permite nem ao menos quase que freqüentar aulas. Acaba aprendendo mesmo é no escritório, com o estagiário um ano “na frente”, no Direito. Talvez nas filas do Forum.  Lentamente, começa a achar muito estranho aquele pessoal todo que perambula pelo Pátio, que vai às intermináveis festas, Porão, festas, Jurídicos, festas, Peruada e outras festas mais. Com a sua promoção automática, vai se apercebendo a chegada da reta final, o quinto ano. E arrasta-se, consumido pelo escritório, já agora tendo conseguido ganhar realmente dinheiro, algo em torno de dois salários mínimos, e aquela outra sensação de que não agüenta mais, que é preciso acabarem logo esse cinco longos anos. Inclusive porque já nem conhece mais ninguém, dado que “daqui pra lá só tem calouros!”. Mesmo os seus pares, colegas de turma são lhe muito estranhos mesmo. Causa-lhe estranheza isso de umbiguismo, de adoração às Arcadas, quando o que lhe mais interessa é poder pegar o diploma, prestar a oab e ser efetivado. Depois disso, faculdade nunca mais! Eventualmente, levado pelo mais elementar dos instintos humanos, por mera curiosidade resolve então, num estertor agônico, experimentar olhar para o próprio umbigo. E constata que não o possui. Mais hora menos hora, vai descobrir que ele entrou nas Arcadas, mas as Arcadas não entraram nele.

Pode-se depreender então que são gêmeos não univitelínicos, idênticos. Tão diferentes em sua igualdade. Um gera artigo oficial permitindo-lhe explicitamente o culto ao Pindura. O outro tem medo de fiscal do cigarro. Para um o tempo é exíguo, o que para o outro é interminável. Uma crucial disparidade entre eu sou o mundo e eu sou do mundo. O querer ser diferente e o querer ser igual. Tantas e tantas diferenças a enumerar que é melhor deixar para o intuitivo de mentes tão peculiares.

Esse colossal desbalanço fraternal explica a unibanalização do Largo. A mesmice, a vulgaridade, o modorrento marasmo e uma equalização deplorável que prevalece faz lembrar as noites mal dormidas, ou nem dormidas, sonhando em estar na São Francisco. Afinal, para isso nem precisava de esforço algum. E empreguinho tem pra qualquer um, bastando querer trabalhar. E explica também porque nem ao menos houve uma via alternativa, entre o cansaço do funcionalismo público de um resgate e a sandice utópica de um forum. Há que se mudar as mentes franciscanas, antes que nos disponhamos a mudar o mundo. O Pátio é o nosso quintal e o nosso mundo. Ele pode e precisa ser mudado. Já para o outro mundo, as bandeiras de mudança são meras apelações hipócritas para conquistar o poder, sabemos todos.

Ainda assim se pode dizer que podem ser feitas ambas as coisas. Afinal, uma diretoria não deve ser  o reino de uma parcela que a elegeu, mas a representatividade do todo.  Nada contra apoiar e participar da Parada Gay. Mas, façam também um "Manifesto hetero" no Largo. Seria divertido. Tragam o monge tibetano Genoíno no Roda Viva do XI para versar sobre valores morais, tais como Honestidade, Lealdade e Verdade.  Mas, no dia seguinte, tragam a o Tiririca, para deleite geral. Ou um Marcos Caruso, franciscano, para nos contar sobre como ser grande, fora das Arcadas. Ou seja: contemplem a todos, é o que pede a representatividade conquistada de algo tão caro a nós todos, como o "XI de Agôsto". Contra as opressões que assomam um peito franciscano fundamentalista, a terapêutica é elementar e simples: um pouco de muita festa; animus jocandi a gosto (de XI, óbvio); vida inteligente pulsando no Pátio; e, claro, overdose de Buchecha ou equivalente, como deu na Peruada. Cabral, Cabral, segue  sua nau. No mais, a opulência das Arcadas alimenta o seu espírito.

É tempo então de parabenizar o Forum pela expressiva vitória, desejando que todos os nossos sonhos se tornem realidade.  É o que desejam e esperam os filhos de Francisco, da gestão que estará à frente do XI, nesse nosso tão cabalístico 20XI.

Arcadas, 24 de outubro, ano CLXXXIII

sábado, outubro 16, 2010

As Peruadas

Peruada é sempre igual. Por outro lado, cada uma delas é absolutamente ímpar e diferente. Caso esse conceito lhe seja estranho, atribua a explicação a isso: são coisas da São Francisco! E tudo estará pacificado e esclarecido. 
Sabe-se que, inclusive para facilitar a vida de adeptos, o Dia da Peruada será declarado "feriado universal no reino de Deus e adjacências". Projeto de iniciativa do nosso ínclito Legislador Tiririca. Da lavra, mas não de sua pena. Coisa feita por algum aceçor afeito às letras.
Por isso é que as imagens chegam à retina instantaneamente no presente, mas a História está lá, toda ela inscrita, em corações e mentes. 
Acompanhe:
O Grito do Peru
"Ha um parenthesis de alegria nesta cidade carrancuda de arranha-ceus sombrios, cada vez que a rapaziada da Escola promove as classicas festividades com que os "veteranos" recebem os Novos collegas. 
Tá! Ali tá o espírito

As passeatas que então se organisam, culminando na já celebre "peruada", deixam após si uma multidão de dentes á mostra, numa gargalhada gostosa ou num sorriso fino, ironico. 



É Peruada, X.I!

De uns annos a esta parte, sobretudo, o "trote" dos academicos tem assumido um carater todo especial, 
A Peruada precisa voltar  ao Pátio das Arcadas
que faz com que o espetaculo agrade a quantos o assistam e não apenas aos que delle participem: é que a passeata dos "calouros" vem dando opportunidade a uma série fecunda de "charges", principalmente politicas,
O Mote

 que têm, entre outras, a vantagem de pôr de lado umas tantas brincadeiras mais ou menos violentas, as quaes já provocaram reacções á altura.
De mais a mais, é bem facil aos moços lançar mão do "ridendo castigat mores".
Sempre presente

 Assim foi hontem. Depois dos indispensaveis preliminares, (banhos de farinha e de outras coisas de outras cores), que duraram cerca de um mez, os "veteranos" da Faculdade de Direito julgaram os seus "calouros" aptos a formarem com elles uma "frente unica", sahindo á rua uns e outros, de mãos dadas, para a "peruada". 
Ipiranga
 O cortejo, bizarro, excentrico, esquisito, carnavalesco, irradiando a satira por todos os lados, deixou o largo de São Francisco 
A São Francisco

ás 8 horas e meia, mais ou menos.
E até ás 13 horas o centro da cidade viveu momentos inesqueciveis. Bom humor, alegria franca; irnonia, fina, fininha, muito cortante...; passagens jocosas, de fazer rir a bandeiras despregadas, como se diz na rhetorica velha; e, pairando sobre tudo isso, ao lado de tudo isso, misturado com tudo isso, - o Ridiculo. Quando o ajuntamento do Largo São Francisco 
O Largo e o povo
conseguiu formar um cortejo que se espichava pela rua São Bento, e dobrava a rua Direita, vinha á frente da rapaziada um distico - "Faculdade de Direito" - encimando um veterano montando um burro. Burro de "verdade" e não calouro, como se possa pensar. Burro de verdade, cujas orelhas compridas quasi se misturavam com as barbas compridas do "cavalleiro". Uma turma de batedores abria alas. E em seguida uma banda de "bersaglieri", cheios de pennas, ar marcial, mas não muito, fazia ouvir a "Giovinnezza" a tres por dois. Mais um bando de veteranos e calouros, e, atrás, tres dos cavalleiros do Apocalypse (o quarto seria o da frente? ou o que fechava o cortejo?). Montados em cavallos bem esqueleticos, escolhidos a dedo: Peste, Guerra, Fome...
Depois disso, uma vacca, tambem "de verdade". Magra, como convém aos tempos de hoje. Têtas murchas, "murchissimas", faziam alguem, que estava na calçada, pensar, talvez, sem a menor malicia, em certos thesouros. A vacca se arrastava a custo. Sobre o seu dorso, uma enorme aranha.
Fazendo o que? Pergunta-se o que que ha e a resposta vem logo atrás da vacca: um "calouro" caracterisado de forma bizarra, camisa preta, cigarro no canto da boca, vasta cabelleira, saudando "á fascista", ladeado por dois leiteiros; um distico - "Assim falou o leiteiro: entésa o braço varonil, sacode a juba leonina, faze-te o "Dux do Brasil", e depois outro - "Sem a força, que valor a "lei...teria?" - Nas mãos, fazendo delle uma petéca, o estranho "Dux" brinca com um xuxú. Um calouro maltrapilho conduz um letreiro: "Assim, eu vou..." Logo depois vêm mais xuxús: é "miss Xuxú, ao lado de "miss Constituinte", num carro
Um caminhão de Buchecha
puxado por vinte e um calouros com as faixas dos Estados.
Ha ainda - estranha inspiração! - mais xuxús: em outro carro vê-se um homem que dorme, á sombra de um carramanchão de xuxús. Vela o seu sonho um calouro, "culote" e perneiras, busto nú, e abanando as moscas com uma vassoura. E ahi ainda um distico - Dorme, que eu velo, seductora imagem..."
Sobre uma carroça ha dois militares que brigam, brigam, e de repente se abraçam, se beijam, e tornam a brigar. Tambem alli um cartaz: "Amigos, amigos... negocios a parte." "E mais este - "Devemos agir "Chinicamente" - o "h", riscado com lapis vermelho.
Outra carroça é um "carro allegorico" dedicado ás calouras. 
Calouras

Trás o distico - "Advocacia das calouras - especialistas em direito de familia...", e vem cheio de panellas, berços, bebês. Sobre uma carroça está sentado um calouro, "disfarçado" de lente. Lê um formidavel livro, ao lado do seguinte cartaz: "Felizes os pobres de espirito".
Ha um truculento militar a cavallo. 
Se tivéssemos essa segurança todos os dias...

Em vez de dragonas tem - ainda... - xuxús. Fuma e bebe.
Sobretudo bebe.
E por fim outro grupo. 
São João
Carregado por meia duzia de rapazes, um estandarte, onde se vê uma fieira desenrolada, tendo na ponta um pião. "Sem commentarios", diz ainda esse estandarte. Fechava o cortejo a "legião dos condemnados": uma porção de calouros semi-nús.
Quando a passeata entra na rua Direita espoucam rojões. E ha uma choradeira geral em frente ao palacio do governo, 
Clamor em frente à Câmara, para um bando de surdos
onde os moços foram render suas homenagens. Choraram muito e dalli prosseguiram: ruas João Briccola, Libero, Viaduto do Chá, praça da Republica, 7 de Abril, Viaducto e largo S. Francisco, onde o cortejo se dissolveu, após uma "maxixada" geral".

Transcrito de "O Estado de São Paulo"

Revista O “XI de Agôsto”
Ano XXX, maio de 1932, Num. 1, pp. 110-112.

Como queríamos demonstrar: os anos passam, mas As Peruadas ficam. Todas imensamente diferentes em sua paradoxal igualdade.  
Aqui, a letra completa da música:
Arcadas, XVI de outubro, anno CLXXXIII

domingo, julho 11, 2010

C O N V I T E

Dia XI de agosto será um dia especial, além da conta.

Na Semana no XI,
No Pátio das Arcadas
(Você sabe: Largo de São Francisco, 95)
às XI:08h
e

às 18:27h

será lançado o livro
As Arcadas: segredos, magia e estórias

Estará disponível , após o dia XI, na
http://saraiva.com.br
e Lojas Saraiva
http://allprinteditora.com.br
e pelo email
luiz.gonzaga.rodrigues@usp.br


E no dia XI, no lançamento.
Mais barato, pois estragarei o Livro com a minha assinatura, caso você insista.


Eu espero você lá.


XIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXIXI

um pouco do livro:




Uma psicografia digitalizada do espírito franciscano, Roy Babbosa.
Pelo minimum Luiz Gonzaga.

Após os meus 1827 dias de "XI de Agôsto", é preciso agora cumprir uma outra tarefa: contar as estórias dos  tempos de um aluno nesse Jardim de Pedras. Qualquer aluno em qualquer tempo. Não são minhas memórias, pois elas não interessam a ninguém. Nem a mim mesmo.  Muito menos a você. Além do que, apenas transcrevo o que recebi do Roy. Eu sou o minimum, posto que principiante nessa  espirituosa tarefa.


Porém, não espere nada dessas inqualificáveis e despretensiosas sangradas escrituras. É um ornitorrinco na Literatura.Não é Memórias, não é História, não é Direito, não é humor, não é Poesia, não é Prosa, não é Filosofia, não é Sociologia, não é Medicina, não é arcaico, não é moderno, não é real e nem psicografia é. É, sem ser. Mas não é, apenas. 
 
Arriscaria até a dizer que não se trata de um livro de um jovem autor e nem mesmo de um autor jovem. Mas tenho certeza que você sabe que isso já foi dito e muito bem dito.



Compareça ao Lançamento
Leia o Livro.
Espero que goste. E que me escreva depois.

Arcadas, XI de agosto, CLXXXIII

sábado, maio 15, 2010

SALA PRIVADA "João Grandino Rodas"


Diante do inequívoco espírito franciscano ao lidar administrativamente com as coisas das Arcadas, inclusive contemplado com a ascensão ao posto de Reitor, creio ser de bom alvitre os alunos realizarem uma singela homenagem ao ex-diretor, indicando o seu nome para uma Sala, perpetuando assim o nosso eterno reconhecimento e gratidão ao seu valor e a sua grandeza.
Considerando que a oferta do número de salas é exíguo, o que encarece inclusive o preço no mercado de venda de salas homenageadas;
Considerando que as mais destacadas e nobres Salas já atingiram alto preço no leilão recentemente realizado, inclusive sob a égide do presentemente sugerido a ser homenageado;
Considerando que os méritos então considerados referem-se tanto à obra em vida realizada pelo antigo aluno quanto o vultoso valor de cotação, em transparente processo licitatório, inclusive no que concerne à esdrúxula contrapartida num ato de doação;
Considerando que a homenagem ora sugerida não levará em conta o valor pecuniário de nossas estimadas Salas, resta o atributo do valor da obra realizada pelo homenageado, na função de dirigente maior da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco;
Considerando que, em sua indigitada Gestão, o presentemente sugerido a homenageado, em relevante serviço de expansão da área da Faculdade, obteve êxito na aquisição de um Aquário;
Considerando que no conquistado Aquário insistiu por transpor os queridos e valiosos livros da Biblioteca, na heroica e louvável tentativa de higienizar os livros, após duzentos anos de manuseio pelos Alunos;
Considerando que, ciente e orgulhoso de sua inusitada contribuição, deixou um valente assecla na vice-diretoria, professor Gazella, como guardião de suas medidas, na tentativa de evitar impugnações por parte dos Alunos,
 
fica então indicada a Sala localizada no Hall dos Calouros como

SALA PRIVADA


João Grandino Rodas

Deve-se enfatizar publicamente que tal homenagem em nada tem a ver com doações em dinheiro para a obtenção da aposição de um nome em sagrado solo das Arcadas. Que a homenagem refere-se estritamente ao reconhecimento à obra em si, a placa será inscrita, não em letras douradas, que poderiam inclusive aludir ao poder do vil metal, mas com o material decorrente mesmo da obra que se realiza no interior da Sala escolhida, nas LATRINAs existentes. 

Finalizando, resta lembrar que toda a mobilização dos nobres colegas franciscanos tem sido de uma dedicação  e unidade admiráveis, mas que, a despeito de tudo, dos Atos, reuniões, votações, assembléias, depoimentos e tudo o mais, OS LIVROS CONTINUAM LÁ, sobrenadantes no Aquário das Arcadas. E que tal situação exige menos burocracias e mais ação. Tal como os alunos mesmos irem buscar os tais livros. Em qualquer lugar que os deixemos, estarão melhor do que no lugar onde estão agora.

Resta lembrar que franciscanos estão mais afeito à ferramenta do animus jocandi  no  realizar coisas. Essa a nossa principal e mais potente bandeira.

O sucesso é sempre é garantido. Tal já não se pode dizer quanto ao manuseio das leis e do Direito. Sendo assim, a empreitada de retorno dos livros deve ser feita mais com o uso do bom humor do que com petições mil. Isso já foi feito em n oportunidades, sempre com resultados altamente positivos e doces também. Como o mel que saboreamos, feito sob a herma do Álvares/Fagundes. Quem sabe agora, saciemos nossa sede de Saber, ao desfrutarmos da Sopa de Letrinhas em que se transformou a nossa Biblioteca, naquele malfadado Aquário?

A mídia é uma arma muito poderosa. Sabedores disso, colocam gente MUITO esperta para as reportagens. O nosso contato com eles deve estar à altura disso. Para não ser manipulado, como vem acontecendo.
Para quem gosta de cargos, ter um Assessor de Imprensa muito bem preparado é vital, nesses casos. 

Portanto, chamem a mídia e façamos a transposição da São Francisco. Dos livros, melhor dizendo.

AAArcadas, XV de maio, CLXXXIII
Luiz Gonzaga
Décio Pignatari - 06.05.2010



terça-feira, maio 04, 2010

Biblioteca das Arcadas: sopa de letrinhas?

Já me contaram que, para conhecer o prestimoso grupo "político" Paradilma, digo, Paradigma, é preciso ser indicado por alguém do grupo. Como se fosse fácil achar um. Depois, é preciso uma carta pedindo autorização para participar, apenas como ouvinte calado, a uma reunião. A carta, digitada e sem rasuras, deve ser em três vias. Com a assinatura devidamente autenticada e reconhecida a firma. Após isso, aguardar a vacacio legis: 45 dias constitucionais, para que o seu nome saia publicado. Se houver sido homologado o pedido, haverá a convocatória. Se não, apenas a negativa sumária. A publicação é feita no Diário Oficial dos Burocratas de Plantão da Gloriosa Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Não aquela Sanfran , mas a modelito grêmio estudantil, vigente após o poderoso resgate de saudosas tradições.

Ai, meu São Francisco! Com nossas mudanças climáticas, ventos estranhos sopram também pelo Largo.

O modorrento e o sempre-quase-nada-lido "jornalzinho do XI" agora faz licitação e concorrência pública para Conselho Editorial. É mole? E isso tudo é prá escrever resenha de filmes e outros quetais. Que se lê bem melhor em publicações especializadas. Franciscano quer ver, quando quer, textos inéditos de alunos, suas criações, poesias e tudo o mais. Está pouco se lixando para a visão e opinião de um outro franciscano sobre as mazelas mundias. Deixem com o Júlio de Mesquita o que é do Júlio de Mesquita. Ou do Otávio Frias, antes que ele suicide.

Uma avalanche de burrocracia. Coisa estranha nas Arcadas. Plebiscito para constatar o óbvio. Contestação do resultado pela baixa adesão, o que é sempre óbvio. Franciscano apenas adere à própria idéia. Ego de elefante, quem não sabe?

E o XI pedindo, pedindo. Lembra mais intermináveis pedidos de Moisés para o Faraó. Há que se lembrar que judeus são o povo escolhido de Deus. O resto é resto. E Ele mandou as pragas e ficou tudo resolvido. No nosso caso, a praga é bem menor, já que franciscanos são apenas semi-deuses. Menos. Alguns empedernidos alunos que ainda teimam renitentemente em acreditar que está chegando o momento em que teremos também a nossa Geyse. Valha-me Deus!

Assim, teimosamente quisemos participar do egroup que se formou acerca do famigerado assunto "Biblioteca". Uma burocracia cibernética. Melhor que nada. Ali dei a minha sugestão para a resolução imediata do assunto. Não surtiu efeito. Talvez porque não tinha assinatura digital, não estava em três vias e outras necessidades modernas.

Então transcrevo aqui a minha sugestão, desburocratizada, deslavada e fundamentalista. Mas genuinamente franciscana, sem resgate de coisa nenhuma e nem espírito de movimento-estacionário-estudantil-sócio do DCE:

Um grupo de alunos, munidos apenas de seu bom-humor e o animus jocandi que sempre caracaterizou as Arcadas deveria se dirigir ao Anexo IV e, cada qual trazendo uma caixa de livros, restituiria os livros para o local de onde nunca deveriam ter saído: a Sanfran.

Uma fila indiana-franciscana. Para que a coisa fique mais alegre, alunos poderiam vestir camisetas com as cores da Gloriosa: alternadamente, um de camiseta preta, outro de camiseta vermelha. Perdoem-me aqueles que vão optar pela camiseta preta, pela despesa extra. Já as camisetas vermelhas a gente sabe bem que já existem. Não sei se vermelhinhos topariam algo assim. Nem mesmo o São Marx previu  isso. Não está escrito n'O Capital. Então não sei. Mas não custa tentar, né?

Sendo que as caixas são pesadas, solidariamente dois carregariam uma caixa. Um de preto e outro de vermelho. Não seria bonitinho? Até seria. Bonitinho ou não, a coisa ficaria resolvida. Sem memorandos, sem plebiscito, sem intermináveis reuniões, sem resgate de coisas que se desconhece, sem movimento estudantil de nada. E DE UMA MANEIRA TIPICAMENTE FRANCISCANA.

Foi assim com a estátua do Beijo Eterno. Foi assim com a herma do Alvares Fagundes de Azevedo Varela. Foi assim com o Menino e o Catavento. Estão no Largo.

Se querem deixar mais interessante, chamem a mídia. Eles adoram isso. Usem o politicamente correto e clamem pelo absurdo que é o descaso para com a Cultura. Jamais nesse país aconteceu algo assim. Chamem a Dilma. Mas não chamem pela mãe dela não, que é palavrão. Chamem que ela vem. O Mula veio em 2002. Tinha até uma carta que ele pediu para alguém escrever, dizendo que a São Francisco é mó legal e que não sabia, entre tantas outras coisas que não sabe, que o tal santo era advogado também. Linda a cartinha.  Tem uma letra linda o asceçor dele. Só vendo! 


Os livros devem voltar para as Arcadas, antes que virem sopa de letrinhas. A Turma CLXXXIII que ainda não conseguiu ver nada, poderia fazer esse favorzinho. 

AAAcadas, V de maio, CLXXXIII

terça-feira, março 30, 2010

Em mãos erradas



 O saudosismo nas Arcadas não tem lugar, a não ser para exercitar algo inexistente em nossa tão sofrida e sofrível população brasileira: a memória. Não é como o dito popular, que diz que "é errando que se aprende". Na realidade, é o lembrarmos do erro em momento futuro que, talvez, impeça-nos de errar de novo. E tem-se História e Tradição que sobra, para demonstrar isso. Basta que a conheçamos, que a relembremos, em exercício.  Por isso, não custa aqui rememorar algumas passagens presentes, nada diferentes, na essência, dos eventos passados.

Ocorreria a festa de formatura, tão maravilhosa e tão triste. Cisma então a OAB de marcar o seu exame para a véspera. Pode isso? Não. Claro que não. Franciscano vive para comemorar, buscando diturnamente motivos para isso. A formatura é uma delas. Como então resolver tal impasse? Simples. Coube a resolução da árdua tarefa de preservar a mais pura tradição franciscana ao eternamente lembrado, prof. Goffredo da Silva Teles. Em seus garranchos pessoais, nada de computador, digitado, nada. Uma cartinha de próprio punho do professor e estava então resolvida a questão: mudar-se-ia a data da... prova da OAB. Isso é o que se pode chamar de o mais autêntico espírito franciscano. Claro que a OAB não pode querer cometer o despropósito de eventualmente estragar uma festa franciscana. Eles que arrumem outra data. Assim resolvemos as coisas. Afinal, o resto do mundo tem espaço de sobra prá se acomodar às coisas resolvidas nessas Arcadas. Cabe lembrar que, noutro ano, a tal prova coincidiu com a véspera da formatura do povo de Perdizes. Claro que eles então tiveram que remarcar a data da formatura. Comemorar o quê, pelo amor de Deus?  

Já nos dias de hoje recebemos passivamente a visita de um fiscalzinho qualquer a anunciar o fechamento do Porão. O Porão nunca foi fechado por ninguém, exceto pelos alunos. Nem mesmo um ditadorzinho que atendia por Getúlio Vargas conseguiu isso. Nem mesmo com seus vetustos argumentos de subversão, sendo o Porão um antro de alunos subversivos, orgulhosamente. Não obtendo sucesso no tal fechamento, criou uma universidade, para, com tal desculpa, deslocar as Arcadas para aquele ermo. Eles foram para lá, ele se foi, covardemente, como era de se esperar. As Arcadas permanecem no Largo, com o seu nosso Porão devidamente aberto. A despeito da subserviência de alguns, que absurdamente acham que se devem curvar aos argumentos do fiscal. Argumentam: quem o XI pensa que é?  Eu respondo por ele. A salinha do XI, em nosso indefectível Porão, albergou as reuniões daqueles então subvertidos que instituiriam a República nesse Brasil. E isso regado à muito álcool, muitos cigarros madrugada afora. Dizem até que regado também a muito ópio. Afirmação essa que refuto de pronto. Uma calúnia para com os nossos colegas da época. E foi nessa mesma salinha, com telefone ligado diretamente com a sala do Presidente da República, que se criou o Supremo Tribunal Federal. E não foi à toa que composto por XI membros. Todos franciscanos, claro. Criado inclusive com o solene compromisso de que sempre haveria nele, ao menos um egresso dessas Arcadas. Se de lá emanam Habeas Corpus  para livrar os daniel dantas da vida, que se emane então desse mesmo lá, uma contra-ordem ao fechamento do Porão. Simples assim.          

Sei que, um leitor mais mordaz, argumentaria pejorativamente que estou me remetendo a "tempos que não voltam mais". Não se aplica. São tempos que nunca se foram, para quem pensa assim. Muito embora reconheça que, nos tempos do agora, a grandeza das Arcadas mais se espelha numa boa agência de empregos, onde se é possível arranjar um bom estágio, num escritório renomado, antes mesmo do primeiro dia de aula. De calouro. Certo está que é uma grandeza também. Mas uma grandeza relativa à pequenez do nosso mundinho de lulismo e outros afins. A minha conversa é sobre a auto-estima franciscana, algo tão imenso quanto o Largo que nos rodeia e abriga.

Permitiram que se tirasse a sala da Academia de Letraz do Hall dos Calouros, onde sempre esteve, desde que a criaram, pelos idos de 1932. Por alunos medíocres e arredios, feito à Oswald de Andrade e outros mais. Mudança essa motivada pela nobreza do discurso politicamente correto de construir banheiro para deficientes. Não os há, nesse universo chamado Sanfran. Deficiente foi quem a tirou de lá. Banheiro ainda nunca utilizado. Jamais o será. Temos sim professor cego. Desde aluno, cego. Um dos primeiros em seu vestibular de ingresso nas Arcadas. E nunca precisou de banheiro para deficientes, rampa de acesso e outras hipocrisias mais. Não precisou de cotas para ser um dos melhores. Fez toda a sua brilhante carreira sem precisar dessas mesquinharias. Tinha e tem a grandeza do espírito franciscano. E muito nos orgulha, em absoluto, a possibilidade de falar dele, como um aluno exemplar. E que, por certo, jamais frequentará aquele banheiro, por recusar-se a viver das esmolas que virou moda oferecerem. Pode ser que alguém passe por lá, no melhor do animus jocandi, e faça uns versos no banheiro, mas com matéria prima local. Sob certo outro aspecto, penso estar reclamando demais sobre isso. Penso até que fizeram justiça: onde havia a ALz hoje há A LATRINA. Pensando dessa maneira, sinto-me homenageado, indiretamente.

Há os que se imobilizam diante da grandeza da tarefa. Há outros, que apenas se reposicionam para executá-la. Naquela perdida noite de uma Peruada Noturna até a Praça da República, certamente que muitos se intimidariam diante do peso de uma tonelada de granito que suportava a herma do Álvares de Azevedo/ Fagundes Varella. Mas a tarefa estava lançada: o poeta é nosso, a estátua é nossa, doada por um colega nosso. Logo, deve estar no Largo. Não nos é permitido, licitamente, isso? Ora, ora, ora. Levemo-la então. Não conta a lenda que a Montanha foi a Maomé? Então, se foi feito, ao menos uma vez, é possível de ser feito. O espírito fez o milagre. E a estátua está, orgulhosamente, postada onde sempre deveria estar: no Largo. Nosso ordenamento jurídico é imenso o bastante para conter ou comportar uma nova norma que legalize isso. Cada um cos seus pobrema. Resolvemos os nossos. Simples assim.

Essas e tantas outras coisas nos vem à mente, apenas por perambular por esses corredores e Pátio. Eventualmente, salas de aula. Por todo canto vemos escrito e inscrito alguns dos tantos incontáveis nomes que ali deveríamos ver e que falta espaço para homenagens. Lugar ímpar mesmo, essas Arcadas.  Nomes apostos de simples franciscanos que, a sua maneira, honraram seu berço, um Ninho de Águias. O nome ali aposto não o foi pelo tráfico de influência decorrente dos altos postos que galgou. Nem decorrente do dinheiro que eventualmente acumulou com isso. Uma singela e pura homenagem e reverência. Consenso entre colegas franciscanos, atuais alunos e professores. Certamente que vivemos em um submundo colonial, onde até nas lápides dos cemitérios notamos a ostentação e jactância de poder, ora repasto de vermes. As Arcadas sempre passaram ao largo desse mundanismo medíocre. Nunca tivemos salas à venda. E sempre um excesso de nomes para tão exíguo espaço. O que nem sempre foi um problema. O que se faz problema é vivermos uma época em que querem transformar as Arcadas num imenso Brasilzão, onde tudo está a venda, basta acertar o preço.       

Nosso Pátio sempre foi a imagem da pura liberdade. Eventualmente até da libertinagem. Sempre e todo sempre, aluno ou não, um local de livre expressão. Mas vivemos ventos de democracia e liberdade. Ou do espectro delas. E um professor é impedido, ou tentaram ao menos, impedir que livremente se manifestasse, num ato de autêntico autoritarismo e vilania. Não. Não pode. O Pátio foi cenário de incontáveis momentos que tantos nos orgulham. Sempre defendendo o sagrado direito da livre expresão de pensamentos. Por mais inusitados que fossem, não importa. Não pode, ou não poderia, ser maculado com uma estultície tamanha. 

Jesus Cristo afirmou que qualquer do mundo poderia fazer os milagres que fazia e ainda maiores. Bastava que tivesse o espírito. Tive e tenho a a graça de circular livremente por esse Jardim de Pedras, o nosso Pátio, nos mais diversos momentos, de alegria, de festa, de indignação por invasões alienígenas e também de puro extase, nas noites de Vigília, além do culto do ócio, da Amizade e da alegria. Sou absolutamente convencido que nesse Pátio habita o espírito franciscano, esse capaz de todas as coisas. Encontro isso, repassando folhas da vida de franciscano também, Bernardo Guimarães, pelos idos de 1847, apenas reafirmado tudo isso: "... e os estudantes formavam uma legião travessa a valer, divertida, que não temia ninguém. O Pátio e as Arcadas a sua casa". 

Nas Arcadas não cabe o saudosismo. Não vivemos de glórias passadas. Apenas que temos o recurso de voltarmos os olhos para a própria História, buscando inspiração e fundamento para darmos mais um passo, fazendo a História do Hoje. E, pela vivência do acumulado de atos, uns grotescos, outros absurdos, outros impensáveis, faz-se ver que precisamos mais uma vez buscar na essência do que é o espírito franciscano para enfrentar tudo isso. Só mesmo com a união de todos os alunos em torno exclusivamente desse espírito para vencermos mais uma vez os ataques de mediocridade e hipocrisia que assola um país inteiro, refletindo obviamente nas Arcadas. Nada extenuante como os trabalhos de Hércules, mas apenas estar atento ao que se passa nas Arcadas, impedindo o eterno assédio aos calouros dos comunistas traidores e mentirosos para ganhar o XI, repudiando atos secretos de diretores desvairados, chiliques autoritários de vice-diretores, cobrando providências sobre a Biblioteca e tudo o mais, tentando acordar o sonolento Resgate paras as realidades da vida. Isso tudo , claro,  fora do Porão, que será fechado por encomenda. Não se pode fumar ali, por causa da lei; não se pode beber ali, por causa da lei; não se pode conversar ali, pela censura imposta. Não podemos nem ao menos estar ali, posto que fechado. Graças ao bom Deus que o nosso vínculo é em espírito. E isso ainda não foi colocado em lei e ainda não tem multas pelo uso. Então, posso estar com você, em espírito.

                                                                                             

domingo, fevereiro 14, 2010

O vampiro das Arcadas


Sempre conto por aqui alguns dos incontáveis episódios pitorescos e peculiaríssimos das Arcadas. Tenho tido notícias que recentemente o negócio, a onda do momento, o in é essa invasão de vampiros que assola a Humanidade.  Nada a ver com morcegos que vagueiam na calada da noite, com seus radares móveis, que mais parecem os inspiradores dos guardas de trânsito do Detran. São vampiros vampirescos, gostam mesmo é de sangue, têm caninos de lobos, que mais propriamente deveriam se chamar lobinos. E adoram um pescoço. Confesso que um belo pescoço feminino também me atrai, muito embora não seja vampiro. Presumo. Já que minha preferência nunca foi para mordê-lo.

O que não sabem é que essa coisa toda se iniciou mesmo nas Arcadas. Não apenas o Santo Graal se encerra nesse Jardim De Pedras, mas uma infinidade de outras coisas. Inclusive vampiros. Vamos a eles.

É historicamente de domínio público que filhos de latifundiários eram mandados para essas Arcadas, com o fito de perpetuar poderes locais, localmente espalhados por esse Brasil afora.  Noutros tempos o fundamento do domínio era outro, divino até. Depois, com o Estado, ficou mais politicamente correto que fosse o Direito. Sempre sabendo que o Direito nada mais é do que uma verborragia alucinógena que faz parecer Justiça aquilo que, no mais das vezes está mui distante dela, sendo muito mais o conveniente alcunhado de “justo” Que seja. Dominando também o Direito apreendido nesses assentos centenários, adicionando–o ao tudo mais que não era direito, saíam daqui os meninos, mui espertinhos, além de brilhantes. Deixando sempre suas toscas memórias inscritas nas Tábuas. Absolutamente brilhantes. Sem comparações.

Vinham eles aos treze, doze anos de idade. Poder-se-ia até considerar um trote violento, mandar um neo-púbere ter contato com a Filosofia de Julius Frank, a Política de Líbero Badaró, a Poesia de Fagundes Varella. Sem contar as cantilenas de Direito Canônico, que, cada aula, equivalia a XI chibatadas. Eram opcionais, mas preferidas. Claro que a gurizada toda preferia as chibatadas à chatice das aulas. O Pátio era, como sempre, um encanto para os olhos, balsamo para o coração, apesar do Pelourinho. Um sofrimento útil e compensador.  O certo é que vinham cair nesse Ninho de Águias. Para tornar-se uma delas, no depois.

Futuros calouros que aportavam por essa imensa São Paulo, com suas três ruas e XI mil almas e que tivesse, por um desígnio divino, a idade de XI anos eram recebidos e tratados como um Dalai Lama. A reverência e o respeito advinham por óbvio de sua idade nesse cabalístico e sacratíssimo número redondo franciscanamente, o XI. A referência ao Dalai Lama porém, em nada tem a ver com a nossa intensa e sabida influência cultural com as Índias. As índias que conhecíamos por aqui, conhecia-mo-las mesmo era por detrás das moitas, em suas vergonhas saradinhas e sempre em flor, a descoberto.  Nas quais chafurdava-se feito beija-flores na primavera. E em todas as outras estações, que o mel é doce e a carne, fraca. Culturamente sempre muitíssimo acima da média, franciscano demonstrava-a via animus jocandi. Por isso o Calouro XI era então lançado nas poças de água do Largo, ainda sem o asfalto atual. Que, mesmo sendo atual, ainda permite algumas poças. Na Terra da Garoa, poça era o que não faltava. Consequentemente, lama. O “dá-lhe lama”, que rapidamente passou para a corruptela Dalai Lama. Coisa de franciscanos... Caso duvide, peça pro Marchi te contar a história do pic-pic... Depois de ser lançado à lama, não a do Dalai, mas ao barro mesmo, o festivo calouro era encaminhado ao Poço do Zuniga, que ficava na distante, suburbana Praça da República. Ali, o Batizado, recebendo o venerável espírito franciscano, motivo de outro capítulo dessa interminável e adorável História das Arcadas. Hoje o Batizado se faz na Sé.

Nos dias de hoje, calouros aportam nessa Sanfran devidamente acompanhado dos pais, como se fossem débeis mentais. Fica claro que os pais não conhecem a cria. Seu filhinho para poder chamar as Arcadas de “também” sua, foi melhor do que 98% daqueles que sonhavam com isso. Será que ele não sabe preencher um formulário de matrícula? Sua impertinente presença lhes impede de desfrutar das maravilhas de ser calouro franciscano. Mas dá até prá entender os velhos. Querem mesmo entrar por essas Arcadas, portando o filho como se fora seu troféu, como se fora ele próprio. Sonhos. Delírios. Freud explica isso. Acho que explica. Se não explica, deveria. 

Naqueles idos de priscas eras, calouro aportava aqui sozinho, com sua indefectível maleta. Por que o calouro sempre tem uma maleta? A despedida era feita em sua cidade de origem. Feriado Municipal. Um seu ilustre filho iria para a Capitar, estudar na Faculdade. Por isso assim, a Sanfran sem nome. Não precisava. Nunca precisou. E o garotão, na despedida tinha direito à Banda de música, nada comparável à poderosa BAISF. Tinha discurso emocionado do Padre. Emoção sorrateira e hipócrita, advinda mesmo é da perda de um dos seus meninos, maicojequisoniamente falando. Por fim, o Coronel dava a benção final, ansiando que o filhote retornasse logo, para ampliar as avenças da família e a glória da cidade. Tal pequerrucho aportava em São Paulo, montado em seu pequeno animal. Eram jumentos e burros. Caso fossem jumentos, o estacionamento deles ficava próximo ao Cemitério da Consolação, que abrigava a vívida Marquesa de Santos, Patrona das Arcadas. Parece que lá eles, movidos por um corporativismo animal, resolveram abrir uma faculdadezinha também. Se fossem burros, já o estacionamento eram mais longe, em Perdizes. Franciscanos gostavam e gostam muito de montar aquelas burrinhas. Um monte alegre até. Parece que coordenados por um agiota, também personagem de uma das estórias já contadas.

O certo é que o calouro chegava nesse Ninho de Águias sexualmente zerado. Lembrando que as próprias mãos não movem o marcador. Com o atenuante de ter os seus XI aninhos. Uma pureza. Logo, logo ele teria a sua vezinha. A necessidade faz o ladrão. Essa necessidade fez o franciscano criar a Peruada (oba!).  Outro capítulo dessa Faculdade da História e de estórias. Mas estamos aqui relatando o surgimento do calouro-vampiro das Arcadas.

Veteranos franciscanos sempre receberam muitíssimo bem os seus calouros.  Afinal, são a continuidade da estirpe. Nada menos que isso. O calouro sou eu amanhã. Por causa disso, era premente introduzi-lo na vital arte da introdução. As festas na cidade, baladas, nada! Uma dificuldade! Afora algumas esparsas cabritas ou bananeiras, restavam então as sórdidas festas nas repúblicas dos alunos. Verdadeiro exército. A santa presença feminina, apenas na fértil imaginação franciscana. Não foi à toa que ali se cultivou muito a Filosofia. Sabem todos que o Concreto nada mais é do que a materialização do Nada. Que o que mais o Homem busca na Mulher é esse vazio. Não o tendo, cria desse Nada a Filosofia. Que Nada é, pois. A busca de um Nada buscando preencher a falta de um não preenchimento de um outro Nada. Haja filosofia! Mas, para essa Festa da Penetração de Calouro era preciso resolver o assunto. E a solução para isso hoje deve causar convulsões nos politicamente corretos, mas não podemos nos esquecer que estamos em 1840, caro leitor dessas lembranças psicografadas. Havia o Mercado de Escravos, que permanece até hoje, no Anhangabaú. Não mais como Mercado. Muito menos de escravos. Mas era lá que franciscanos arrematavam, por alguns cruzados uma mucaminha, meninota, que, no depois, trabalharia em uma das repúblicas.  E o Calouro XI era então presenteado. A pequena mucama seria açoitada pelo chicote franciscano, na intimidade do seu Pelourinho alcoviteiro. Lá fora, em uníssono, calouros cantavam então, ao poderoso som da BAISF: ô, ô, Toda Poderosa Sanfran! Por isso, surge então outra expressão, tipicamente franciscana: vestir e suar a camisa das Arcadas!

E foi nesse vampiresco ano de 1869 que toda a coisa se ocorreu. Estava a menina em seus dias de reclusão. Mulher ainda não tinha conquistado o direito à TPM. A solução era o mais completo isolamento. Como todo o conhecimento desse assunto era apenas teórico, o nosso calouro XI confundiu um pouco as coisas e começou a tralha da maneira mais temperada possível: foi com a boca na botija! Não se sabe ao certo se por confusão teórica ou até inspirado pelo ano que corria, o certo é que foi o errado. Ou, ao menos, impróprio. Todo o resto lhe foi muito proveitoso. Mas, ficava-lhe mesmo na mente aquele gosto adocicado nos lábios, causando-lhe verdadeira epifania. Veteranos carregavam o Calouro XI, uma verdadeira festa mesmo, a Festa da Penetração. Desfilavam o orgulhoso calouro por todas as três ruas de que se compunha a cidade de São Paulo, terminando por retornarem todos às Arcadas.
O Calouro não compartilhou aquele estranho sentimento com os demais, mantendo-o um segredo seu. Apenas que, em todas as festas que se tornavam possíveis, as Peruadas que aconteciam toda penúltima sexta-feira de outubro, o dito Calouro, nas noites de lua cheia, elegia uma guria para lhe sugar o sangue. Porém, não mais daquele lugar originário, mas do pescoço. Local mais refrigerado e acessível. E o sangue mais delicioso e adocicado ainda, posto que fresco. Essas notícias corriam rápido pela pequenina São Paulo. Não muito rápido, pois extrapolaria as dimensões diminutas dela. Eram apenas rápidas. 

Todos queriam saber quem era o chupa cabra que abocanhava os pescocinhos das meninas da cidade. Veja lá que não havia ainda Conde Drácula, nem séries de TV, nem filmes de Hollywood. Como todo sempre, as Arcadas protagonizavam a História. Mesmo que não soubessem disso. Formaram uma comissão, grupo que resolveu caçar o nosso vampiro tupiniquim. Em algum livro de bruxarias, ficaram sabendo que vampiros morrem se lhes fincar uma estaca de madeira no coração. Ou ainda uma bala de prata. Acontece que, nesse nosso Brasilzão de ouro não se conhecia a prata e muito menos a bala. Isso era coisa de lugares onde existia  industrializadas, o que só ocorreria aqui, por volta de depois da festejada e justa queda do Muro de Berlim A proibição da indústria datava da Maria, a Louca. Coisa de uns poucos duzentos anos antes. Eita povinho devagar! Eita Rubinho, o Tá-lento! Mas, enfim, restava então a estaca. Um dia, em uma das comezinhas e insossas festas, um Baile na cidade, por fim, depararam-se com o nosso já-não-mais-calouro franciscano a se deliciar com o banquete oferecido por um lindo pescoço feminino. Não no Baile em si, mas nas escuras várzeas que circundavam a cidade. Puseram-se então a correr atrás do infeliz, sempre com a estaca preparada. Conta-se que, na correria, um dos alunos inadvertidamente aciona o gatilho de sua arma, dando um tiro no próprio pé. Isso sem a expressão simbólica da expressão de ‘dar-se um tiro no pé”. Apenas um tiro no pé. Mesmo. Ao invés de ficar chorando o leite derramado e o pé amputado, o franciscano depois escreveu Espumas Flutuantes. Belos Poemas, né? Bom, voltando. Sempre voltando de uma estória para a estória presente, a contada agora. No corre que corre, o vampirinho tropeça e cai. Por cima dele, caem também os perseguidores, Um verdadeiro scrum, muito antes de ingleses terem criado o rugby. E a estaca foi fincada. Não no coração, mas em direção a ele. Pela via mais longa: a retal. A estaca empalou o nosso pobre franciscano. E subiu, subiu, transfixando tudo, até tocar, de leve o coração. E fez-se verdade a magia. Com o simples tocar da estaca o coração, o franciscano desvampirou-se, tornou-se um simples mortal, sem essa tara sanguinolenta de sugar pescoços por ai afora. Isso deu então origem a tudo o mais que se inventa por ai.

Acontece que, ao ser empalado pela estaca, o nosso franciscano teve outra epifania. Não é que ele gostou ? Apoderou-se da estaca e deu-lhe até um nome: a Mão-de-Deus.  Tratava-a com um carinho desmedido, feito a clientes de Urologistas, a quem mandam presentes e cartões de feliz-aniversário. Como nessas estórias de vampiros, bruxas, há muita magia e coisas inexplicáveis, os poderes da estaca agora com nome, ficaram latentes, por mais de cento e cinqüenta anos. Parece até aqueles finais de filmes de terror, cuja última cena mostra um naco de terra se movendo, por sobre uma tumba. Daí vem o filme Parte Dois.

Fecham-se as cortinas e pulam-se 150 anos. Em 2005 houve uma Reforma no prédio. Na realidade o que almejavam é impedir que fizéssemos a Peruada aqui dentro. Muita inveja lá nos de fora. Nada no País dura, exceto a mediocridade e as conseqüentes maracutaias. Nada presta. Nada com que se orgulhar, os brasileiros. Diferentemente dos franciscanos, cujas Arcadas são seu tesouro maior e orgulham-se de tudo que lhes diz respeito. Invejam nossas Tradições. E, principalmente, porque temos Tradições. Querem destruí-las. Com isso, as escavações puseram à mostra uma porção de coisas que se julgava mito e lenda: o túnel do Porão até a igreja ao lado; esqueletos enterrados juntos, muito juntos. Mostrando que frades também davam as suas. As colas que o Ruy Barbosa usou nas provas; um cofre abarrotado de dólares, pertencente aos comunistas, já que o Partidão impede que canhestros adeptos demonstrem qualquer paixão pelo vil metal, embora o tenham, em profusão. Issoi foi também a origem das malas de dólares que ainda hoje utilizam, para comprar a tudo e a todos, no aparelhamento almejado e conseguido; uma carta que Karl Max enviou ao então presidente do XI, dizendo que tudo aquilo, aquelas idéias erradas eram piada e pedindo prá mandar mais ópio, prá poder continuar o segundo volume. E também um pouco mais de dinheiro, que ele estava sem. Já estava até vivendo da prostituição da filha. Era preciso sustentar o companheiro, prá surtar em mais idéias escrotas.

Afora essas e outras coisinhas, descobriu-se também a Mão-de-Deus que ressurgiu nas Arcadas. Porém, de uma maneira peculiar, nova. Ela estava muito bem guardada e saiu do armário daquele então calouro empalado. Junto com ela a epifania começou a aplicar seus resultados vários em seus estranhos poderes. Franciscanos, mestres no animus jocandi, sempre expressaram o brilhantismo de suas mentes enfaticamente brilhantes nas ações e obras. Já esses, primam pelo brilho não mais das mentes, mas das plumas, paetês e outros quetais, aparentando até que a mão possui um excelso e altivo poder de abrir todos os armários. Com isso, hoje pululam no Pátio uma escória de não mais vampiros, posto que extintos pelo toque da estaca, mas uma verdadeira reversão na mão da direção retal e na ordem natural das coisas, contrariando até a música do Raul Seixas, “Rock das aranhas”. Se antes a perereca era o prato principal do sapo, agora o é da sapa. As cobras se auto-devorando, em verdadeiro espetáculo de canibalismo. Partimos do Homo sapiens, para o Homo farbens. Agora temos o Homo homo? Depois, a extinção? Me inclui fora dessa! Eu, que sou um mero calouro da I Turma, de 1828 não entendo mais nada. Sempre fiz o meu papel, cumprindo a minha parte, ponteando a Marquesa. Ou melhor: entendo, mas dessa festa franciscana eu não participo. Pode sobrar prá mim uma dessas novidades e eu sou muito do conservador, quando o assunto é lantejoulas, purpurinas, babados e pregas. Apenas conto, como arte do ofício.

Roy Babbosa
Psicografado por Luiz Gonzaga
AAArcadas, XI de fevereiro, CLXXXIII