sábado, janeiro 15, 2011

A incrível estória do lobo mau e o passaporte vermelho



Mula, o Imperador do Mato Virgem, cujos poderes são atribuídos diretamente pelo Divino, reservou para a sua sagrada dinastia o Passaporte Vermelho. Nada de anormal que seus fiéis súditos possam ter estranhamento. Seres instituídos por divindade estão isentos de prestar contas à ralé da vassalagem. Esporádicos episódios de rebeldia são absolutamente normais e esperados. E prontamente apaziguados os insurretos. Remunerados a vista. 

Sabem os Iluminados que a plebe é assim mesmo. Locuplete-se-lhes. Dê-se-lhes então o pão. Aos não esfaimados, dê-se-lhes circo. E tudo  tornará à quietude da subserviência. 
Já em outros lugares menos evoluídos, a coisa é bem diferente. Harry Truman, após os seus anos na Presidência dos EUA,  deixou a Casa Branca, atravessou a rua e entrou em seu próprio carro, dirigindo-se a sua casa de sempre, não mais a Branca. Sem seguranças também, pois que ex volta a ser pessoa comum, mortal como todos os demais. Já é parte da História a visita que os reis da Suécia  fizeram ao Brasil.  A viagem feita em avião comercial. Certo que, devido as suas reais posições, cometeram o abusado privilégio de viajarem na primeira classe. Isso causou certa perplexidade no Congresso em Escocolmo. Além disso, foram também acompanhados de um representante do país e um tradutor. Claro que estes vieram de classe econômica. Mesmo assim, sob o apupo dos parlamentares suecos, indignados com tais privilégios. Só porque são o Rei  e a Rainha? Há também estórias de outros povinhos. Filhos e netos da Rainha da Inglaterra combateram nas Ilhas Malvinas e também foram mandados ao Iraque. Netos da Rainha não são a Rainha. São cidadãos. Visitando ainda outras republiquetas, na França encontramos o Presidente, devidamente processado em seu primeiro dia civil, após terminar o mandato presidencial. Já em outro paisinho de terceira linha, podemos encontrar o Ministro sentado no metrô ao nosso lado, na Alemanha.

Porém, todas as Nações citadas são da direita fascista reacionária, de capitalismo selvagem, com a exploração do trabalho pelo Capital. Há opressão dos menos favorecidos e a desigualdade social. Onde todos são iguais e assim tratados, com suas desigualdades desigualmente consideradas.

O que não ocorre no Brasil. Os iguais tomam o poder para tornarem-se desiguais, defendendo a igualdade para outrem. Consequentemente, a malfadada desigualade precisa ser depositada carregada nas cuecas e bolsetas. Você sabe com quem está falando? Temos a Constituição mais cidadã do mundo, que inclusive tpor isso em direito também ao Passaporte vermelho. A (facção que rouba com a) esquerda brasileira fez triunfar o socialismo e vivemos num regime que tende, em futuro próximo, à perfeição do comunismo. Aquele mesmo que todos os povos  desistiram de buscar, posto ser a sereia dos regimes. No Brasil vingou a silenciosa revolta do proletariado oprimido. Elegemos a nossa primeira mulher presidente. Embora haja divergências. Como o título do cargo não tem feminino, fica sendo mesmo A Presidanta. Isso feito pelo voto direto do povo, democraticamente obrigatório. A um custo bastante barato até: cem reais para toda a massa ignara. Para outros, um empreguinho aqui, um carguinho ali. uma cota para vagabundo acolá.  Aos obreiros empreendedores, um banco estatal distribuindo fortunas. Sem juros, óbvio, que isso é coisa de capitalista. A serem transferidas para outros paraísos além do nosso. Fiscais, neste caso.  Aos detentores do poder de eventual veto, chamados pelo povão de pra-lamentar, um estímulo pecuniário mensal. Tido como absolutamente legal e moral. Completando o dantesco quadro, a oposição só pode apoiar, já que ela faria e fará o mesmo. Em time que está ganhando não se mexe, diz o povão. Intelectuais preferem a pompa do modus operandi do status quo. 

Assim são os gênios. Adam Smith descobriu que, para ficar rico na Bolsa,  o segredo é comprar na baixa e vender na alta. Marx descobriu que quando a gente não tem nada e precisa até mandar até a filha fazer miché, o melhor sistema a ser proposto é fazer com todos os que têm muito dividam... comigo. E o Mula, muito mais genial do que Montesquieu e Tocqueville juntos, percebeu que é mais fácil preencher o bolso do eleitor obrigatório, do que ficar tentando convencê-lo com ideologias bestas que ele não vai entender jamais. O ovo de colombo eleitoral.  Enquanto a sociedade pensava em financiamento público de campanha, ele apresentou pronto o projeto realizado de Eleição por voto comprado. Sistema bem mais eficaz pois, efetuado o depósito em conta, prescinde de eleição e já se prepara a posse. E todo o processo de campanha, necessário por ser pecuniário, possiblita outro caixa dois, tornado institucional. E ainda, de forma também genial, respeitou a Representatividade do Estado de Direito: para um povo de bandidos em potencial, elegeu uma assaltante de bancos, que lutava ferrenhamente pela redistribuição de renda alheia.  Santa e genuína representatividade. Montesquieu descobriu que o povo é ignorante. Mula percebeu que ele quer dinheiro: é só depositar em conta e preparar a posse. 

Como criticá-lo, ser oposição, se ele descobriu para mim como fazer na próxima eleição?  

O povo costuma dizer hoje, após oito anos de destemperanças: é melhor estar ao lado do Mula. Se segui-lo, ele te caga. Se na frente dele, ele te fode. Melhor ao lado então.  

O Mula não pegou um Passaporte vermelho para si próprio, porque pensou que Passaporte fosse whisky - ele só conhecia o odieiti - e ele gosta  é de pinga com limão. Por isso, ele merece, mesmo já como ex, como mentor da revolução do proletário ele-mesmo e dinastia,  realizar o tão desejado sonho de consumo da classe média... dos anos sessenta: imagina só, cumpanhero! Eu, passando uma semana inteira de férias no Guarujá? Tudo di grátis e ainda protegido pelos milico? Vixe! Isso é que é um sistema du bão mermo!