quarta-feira, agosto 27, 2014

O debate

Luciana Genro - um discurso de hippie da década de 60, mas que é contra a paz e o amor. É comunista, contra o trabalho, mas a favor do capital. Ela ficou triste quando não perguntaram para ela. Eu fiquei triste quando ela respondeu. 

Marina - um discurso de ecologista da década de 70, mais vazio que a flor de plástico que ela tem na sala. Prega uma nova política conciliadora, mas nunca conciliou com ninguém. Se for uma arrependida, poderia procurar o Pastor Everaldo. Para cada meia frase, uma pausa para os aplausos, além de um sniff especial ao Eduardo Campos. 

Chiuhahua Everaldo - por um estado laico. Gostaria de propor um teste de dna do bolsa-família. Lula é pai, FHC é pai e agora até o Everaldo também!!!! A mãe, quem seria? Não seriam pais os portugueses com os seus espelhinhos aos índios?  

Levy Fidelix - gostei que ele abandonou a ideia da paternidade do aero-trem. E também que não se declarou pai do bolsa-família! Gostei que ele lembrou que todas as dotações orçamentárias somadas, não chegam à dois terços do que reservamos para pagar o cartão-de-crédito com os bancos, que refinanciaram a nossa dívida com o fmi. Mas não gostei porque ele forçou muito a tintura do bigode, que poderia ser um pouco menos negritude total e muito espesso também. Mas não aparar no meio, para não ficar a cara do hitler meio careca. 

Eduardo Jorge - demonstração prática que alguém pode acumular títulos e funções e ainda continuar a ser um débil mental, além de ervangélico. Um ponto percentual pra ele, por saber da existência do  John Lennon. 

Dilma - incrível a sua semelhança com o Salvador Dali. O Brasil surreal que ela pinta é muito lindo mesmo! Tenho pena dos caras que ela diz que a torturaram. Eles é que foram torturados, os coitados! E o coitado que tinha que traduzir a resposta para um português inteligível?  E também não pode ser reeleita porque não há botox que chegue e ela vai acabar explodindo. Se isso acontecer perto de um ventilador, então, Deus me livre! 
Ah, a Petrobrás é mesmo a menina dos olhos de todo bom brasileiro. A pergunta não foi "o quanto ela é mesmo linda", mas sim "por que é que você a estuprou?"

Aécio Neves - se ele conseguir tirar os comunistas do poder, será a minha heroína! Apesar de ele ter orelhas cadim avantajadas, vou ficar com o 45 dele. Se não houver balas suficientes para exterminar todos eles, espero que haja pelo menos uma pra mim.

Vergonha alheia de nacionalidade existe? 
Segundo a Dilma, deitado em berço esplêndido! 

segunda-feira, agosto 11, 2014

Doutorado na São Francisco: eu???

Nessa minha passagem permanente pela São Francisco nos últimos dez anos, parece que sempre causou alguma estranheza, perplexidade e curiosidade de alguns muitos sobre a minha estória pregressa e sobre o porque de ali estar e venerar aquelas Arcadas. Fomentada inclusive pela minha tergiversação a respeito.

Porque hoje estou em êxtase com a minha aprovação para o Doutorado em Direito Médico (depois eu mando alguns cartões de visita) resolvi contar a minha micro-auto-biografia. Pronto, já contei o glorioso final da estória! Caso você seja um dos muitos que não tem interesse em absoluto, basta deletar.  
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Aos cinco anos de idade fui agraciado com a morte do meu pai. A minha freudiana reação a isso foi enclausurar-me em mim mesmo, feito a uma ostra. Coube então à minha mãe alimentar aquela ninhada de dez bocas, lavando privadas. Talvez até A Latrina lhe seja uma homenagem inconsciente. Assim, um dia tinha feijão; no outro, arroz; no outro talvez nenhum. Ela, em certo tempo teve a brilhante ideia de ir à feira às 14 horas, para pegar alguns restos de tomates,  para a "mistura". Aos 8 anos vendia bombril, um gênio no mundo dos negócios: comprava um pacote com seis, vendia cada um ao preço dos seis. Não progredi. Aos meus 10 anos eu inovei, passando a frequentar a feira e sorrateiramente expropriar alguma compradora desatenta em suas compras e a mistura passou a ser mais variada e até de melhor qualidade. Éramos um pequeno bando a fazer isso. Com os mesmos dez anos tive o meu primeiro emprego, atendendo ao telefone (função hoje meio esquisita de explicar) e anotando recados para os meus dois patrões. Depois de um ano saí dessa minha função pois os amigos deles se divertiam a minha custa, ligando e pedinho para que a "senhorita" anotasse um recado. O que me deixava absolutamente emputecido, mesmo sem nada dizer, ostramente falando. Fui então promovido a office-boy, aos XI anos. A tarefa era então circular mais do que notícia ruim por todo o centro da cidade. Sem participação direta de qualquer metafísica, entrei na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco por três vezes, por mera curiosidade. Nossa, como aquele prédio era (e é) muito lindo!  O que me chamava a atenção também era a beleza das Arcadas, mas, principalmente os nomes colocados em cada uma delas. Nomes conhecidos meus, por serem geralmente nomes de ruas, eu como um profundo conhecedor deles, para ser o excelente office-boy que era. Eu não sabia que aquele prédio era uma Faculdade. Inclusive por uma razão bem simples: eu não sabia o que era "ser uma Faculdade", o que significava isso. Direito então, muito menos. Juntando duas ignorâncias, outra: não fazia ideia do que vinha a ser uma Faculdade de Direito. São Francisco eu sabia porque era o nome do Largo. Portanto, nada de destino, premonição, sonho ou qualquer outro. Era apenas um lugar que conheci. Ou talvez não, não sei.   
Havia completado o meu quinto ano "primário" e chega! Estudar é coisa de rico e eu tenho mesmo é que trabalhar. E trabalhei. Aos treze tive contato com um rapaz inglês, que tinha uma banda de música que se tornaria muito conhecida. O nome dele era John Lennon e ele me disse uma coisa muito interessante, numa língua que eu desconhecia por completo, aliás nem sabendo que o português era uma língua ou idioma. Disse mesmo em sua própria língua, que tive que decifrar depois: You can do everything you want ( to do). Apesar de sentir que havia muita sabedoria nela, são sabia exatamente o que ela serviria para mim. Inclusive porque, o que eu queria não importava muito: eu tinha mesmo era que trabalhar para comer. 
Nesse tempo o "governo" do Brasil passou a ser de militares do exército. Isso em nada me afetou, porque eu trabalhava. E assisti os jogos da Copa do Mundo de 66 num painel colocado na Praça da Sé: lâmpadas que iam se acendendo, indicando a posição da bola, conforme um radialista transmitia o jogo, em vários alto-falantes colocados espalhadamente. Quanta tecnologia era aquilo tudo!!! Mas foram poucos jogos, já que o Brasil foi rapidamente eliminado. E a vida transcorria assim: eu trabalhava. E isso era tudo. Convivia 24 horas por dia com aquele amigo que havia feito e o meu querer passou a ser querer fumar maconha. Ah, muita maconha! Como dinheiro para ela eu não tinha, rapidamente desenvolvi uma artimanha genial: eu juntava o dinheiro dos garotos, ia lá comprar para eles. E a minha comissão era então em espécie. Depois fui ficar sabendo que o nome disso era "ser traficante". Vivendo e aprendendo! Depois disso, ao adquirir fama de ser "cabeça", era procurado pela meninada. E expandi os negócios, passando a vender pastilhas gintan como sendo "bolinhas" de alto valor alucinógeno. Quando, na realidade eram micro-esferas mentoladas para atenuar o mau-hálito derivado do álcool, da maconha, do cigarro e etc. Mas eles ficavam muito doidos, garanto! 
Já a copa de 70 foi transmitida pela televisão colorida! Que obviamente eu não tinha uma em casa. Coloridamente, o Brasil foi tricampeão do mundo e eu me vesti inteiro de verde-e amarelo. Eu vi o Pelé jogar. A TV Gazeta deve ter um tape perdido lá, pois eles me filmaram durante um bom tempo. Foi feita a primeira concentração festiva na Avenida Paulista, depois da vitória sobre o Uruguai. Quando eu ficar famoso esse tape provavelmente vai ser leiloado pelo E-Bay: dois real. 
Eis então a minha vida: eu trabalhava. E fumava maconha. E assimilava como meus os ensinamentos que recebia do amigo John Lennon e sua magistral banda, chamada The Beatles. 
Interessante como escrevia poesias, muitas poesias, sendo devidamente analfabeto. Muita poesia, uma escrita obsessiva aquela. No dia 19 de novembro dos meus vinte anos estanquei a minha caminhada ervangélica: chega de maconha! E decidi: vou estudar e ser médico. E me inscrevi para uma bolsa de estudos integral para fazer um curso chamado à época de "madureza". Integral pois não havia dinheiro para gastar com essas coisas de rico, chamada "estudar".  Exatos seis meses após eu tinha conseguido o diploma do primeiro e do segundo grau. Logo, fiz doze anos em seis meses. JK disse que faria melhor: 50 anos em cinco. Mas blefou e não fez não. O que me habilitava para seguir o famigerado cursinho objetivo. Depois de realizar por oito vezes o "exame psicotécnico", consegui a tal da bolsa integral. Leve-se sempre em conta que eu não tinha dinheiro para pagar a tal da mensalidade. Tenho a impressão de que o dinheiro sempre teve uma espécie de alergia de mim. Ao final do ano passei no vestibular, em uma faculdade de medicina particular, santo amaro chamava aquilo? Quanto? ha ha ha ha ha ha ai ai. Voltei eu para o meu exame psicotécnico e para um novo ano de cursinho. Sempre à noite e trabalhando pelo aí da vida, pra comer. 
Uma das grandes artes que o brasileiro desenvolveu foi transformar a privação em motivo de risada. Por ser brasileiro há sete gerações, não sei se isso é motivo de orgulho ou uma maldição genérica. Mas é exatamente por isso que desenvolvi um excelente bom humor. Pura privação transformando a vida em piada. Caso você não tenha o que comer, que faz bem para o estômago, ria, porque faz bem para  alma.
É preciso beber, pelo menos! Cadê o dinheiro, para tanto? Simples, basta ser motivo de apostas. Se eu ganhar, todos bebemos de graça, às custa do perdedor. E assim transcorreu aquele meu segundo ano: um grupo de cerca de 30-40 malucos naquelas imensas sala do objetivo. Nosa simulados, certa parte apostava em mim, outra parte apostava no jorge, ou em algum outro cara que se saia muito bem nas provas. Acontece que, para eu beber, era preciso ganhar. Se eu perdesse não beberia e além de tudo, o mais terrível: teria que pagar para os outros beberem. Opção para mim fora de contexto. Eu não tinha dinheiro. Eu ia à pé para o tal cursinho. Eu tinha que ganhar. Sempre. Fiquei sabendo que o Universo conspira a favor, quando se quer de todo o coração. E me apeguei nessa ideia e sempre fazia com que o universo conspirasse a meu favor. Bebi muito aquele ano, fazendo sempre jus ao singelo e antigo apelido de Pingão.
Final de ano, tudo acertado. Aquele bando de malucos passava o chapéu pelas salas, juntando moedinhas para que eu pudesse pagar a inscrição para alguns exames vestibulares. Absurdo isso de cobrarem taxa para fazer um exame. Imagine quatro ou cinco! Não que eu estudaria em qualquer delas. Havia um certo empecilho para isso, chamado absoluta impossibilidade de pagar às tais impensáveis mensalidades. Serviriam apenas de "simulados" para que pudessem apostar em mim. E eu poder gentilmente beber de graça. 
Como não havia um chapéu, havia um dos malucos que estava no Exército, que continuava no "governo" do Brasil. E então usavam o quepe dele para o devido recolhimento das contribuições para as minhas tais inscrições. O que também era incrível é que eu ignorava a existência deles, os militares. E eles a minha. Jamais fui interpelado, jamais fui torturado, jamais coisa nenhuma. Acho que é porque eu trabalhava. E trabalhava. E, no caso agora, estudava. Feito a um troglodita! Eu tinha que ganhar as tais apostas. Eu não estudava para aprender ou para passar nas provas e exames. Eu estudava para que ganhassem a aposta. E eu poder beber de graça. Curiosamente, a despeito de tudo, eu ia aprendendo coisas. 
Assim, passei em todos os vestibulares que prestei. Com isso bebi exageradamente! 
As minhas poesias já tinham preocupação com a semântica, ortografia, sintaxe e tudo o mais. Muito embora a viagem continuasse lisérgica. Outros escritos, as sangradas escrituras, prosa. Paradoxalmente, a melhora vernacular não se refletiu quando fui fazer a tal de fuvest. Sinceramente, eu sou o balão de ensaios para a decretação das Leis de Murphy. Aquele foi primeiro ano em que introduziram a "redação" nos vestibulares. Como de hábito, a mesmice de gabaritar provas: português, inglês, história, geografia etc. Claro, posso errar uma questão em física e duas em matemática? Agora, a nota de redação: 0,2. Apesar de não conter erros, o pecado mortal: havia fugido do tema. Viajei, achando que redação era texto de A Latrina. Não era. Você, como um atento leitor, já concluiu: foi reprovado! Erro seu: aprovação na Escola Paulista de Medicina. E muita cerveja então. 
Por ser uma Escola Federal, não havia a minha incompatibilidade de gênios com o tal do dinheiro para a impensável mensalidade. Bastava agora eu providenciar para arranjar o dinheiro da condução, certo? Então prestei um concurso para o Banco do Brasil. Bastante gente parece que queria o tal do emprego, cerca de 37.000 inscritos. Tendo sido o décimo terceiro da imensa lista, consegui algo impensável, solução aparente para todos os meus males: trabalharia à noite. Resolvido, certo? 
Bom, se você considerar que trabalhar até às seis da manhã, ir para a piscina da Atlética e ficar dentro da piscina para não dormir e aguardar a aulas às noite, é uma solução, pode-se considerar como assunto resolvido. Permanecer na piscina não significava nadar, pois isso implica gastar energia. E não podia desperdiçar energia.  E eu não podia comer, pois se comesse corria o risco de dormir na aula. Logo, a fome mantém o estado de alerta. Chegada a hora do almoço fazia-se necessário comer alguma coisa, dado que saco vazio não para em pé. Decorre que o pós-prandial já dá sono, imagine então para aquele que passou a madrugada inteira trabalhando? Mas para tudo há solução. A solução era assistir, na parte da tarde, as aulas devidamente em pé. Como em alguns experimentos desse tipo permaneci em pé mas me encostei na parede, dormi em pé. E desabei, consequentemente, feito à maça do Newton. Logo, a brilhante solução era: devia permanecer em pé, porém não encostado na parede.
Você sabe que a descrição de tudo isso me dá uma agonia extrema?
Nesse ponto eu tinha dinheiro sobrando, pois o meu bom salário não era gasto, por absoluta falta de tempo para tal. Eu havia cumprido a chave-mestra do meu querido amigo: você pode conseguir tudo aquilo que você quer. Eu era o estudante de medicina que havia planejado ser, a despeito de tudo e de todos. No dia dezenove de novembro de mil novecentos e oitenta nasceu a minha filha, cujo nome foi uma reverência e homenagem ao meu eterno amigo, num jogo de palavras, tal qual ele havia feito para nomear o seu feito, a sua banda: Beatlis. Logo, a existência dela como sendo uma criação minha em reverência a quem me forneceu a chave para emergir de um estado de ostra por meio da criatividade, à genialidade dele e amizade única, colhida por toda a minha existência.   
No dia oito de dezembro de mil novecentos e oitenta o meu espírito foi assassinado, por meio de quatro tiros que partiram de Nova Iorque. Como não se pode viver sem espírito, corporifiquei em mim o espírito do meu sempre amigo, John Lennon, que já não se serviria mais dele. E viveria outros vinte e oito anos com ele. Uma vida emprestada. 
E abandonei o curso de medicina, bem como o emprego que tinha. Tornei-me então vendedor de brinquedos infantis nas feiras. Parece que certas coisas costumam rondar a vida da gente. A minha parece que rondava as feiras. Antes, como um pequeno gatuno em busca da "mistura" do almoço. Depois, vendendo brinquedinhos, "chora que a mamães compra". Por mais incrível que possa parecer, a vida é engraçada! A vida é mesmo uma piada!     
Após dois anos voltei à tal da Medicina bem como ao famigerado banco que havia saído. Então, tudo o que eu queira era me transformar em um sujeito normal. Eu havia aprendido que eu era capaz de fazer tudo o que quisesse. Logo... estava enganado. Parece que ser normal é algo como ser muita areia para o meu caminhaozinho. Um cancerzinho na língua fez o médico me dizer que eu deveria fazer o meu testamento, arrumar todas as coisas, porque em cerca de seis meses eu partiria desta para a melhor. Posso garantir que não é nem um pouco agradável você ouvir alguém dizer que você é um morto em potencial, com validade para seis meses. Não, não, eu não quero morrer. Eu não posso morrer. Eu não tenho o direito de dispersar esse meu espírito ao nada, dado que ele não é meu, ele me é emprestado. E é vital respeitar um pacto de amizade. 
Efetivamente não morri. Constatei que o universo já não mais conspira a favor, mas é possível fazer com que ele exista para realizar o que você quer.  Como um divino prêmio a tudo isso, quatro anos mais tarde aprendi como funciona esse intrincado negócio de amar. Fui ensinado a isso. Amar não é algo intuitivo, mas algo que se aprende como. E eu aprendi, constatando com isso que o verbo é efetivamente intransitivo. Simplesmente se adquire a capacidade de amar... a tudo e a todas as coisas, em essência. Uma fagulha de Deus, o que quer que esse nome signifique, dentro. Analogamente ao Sol. Para receber um raio de Sol é preciso estar em sintonia direta. O raio é o próprio Sol, mas não é o Sol. Ele nos ilumina explicitamente e nos alimenta e torna a vida possível porque somos então o próprio Sol. Assim, Deus é o Sol e o raio de Deus é o Espírito Santo, que nos traz vida e Sabedoria, alimento para o nosso espírito, que é o próprio Deus em nós. O Sol não é Deus e eu não sou Akenatom. Foi apenas uma pobre analogia. Deus é ... não sei.

Por força do meu próprio trabalho, que incluía a Medicina e o Direito, cansei-me de lidar com os causídicos. Por não lhes entender o vocabulário, conceitos e valores. Universo desconhecido de médicos. Eles me disseram que para entender tal linguagem, era preciso que eu fizesse Direito. Pois bem, andei duas quadras, fiz uma prova e fui fazer o tal Direito. Simples assim. Logo no primeiro dia de aula, reunidos para um café, os diversos alunos racionalizavam os incontáveis motivos por não terem passado na São Francisco. Tais como: "a segunda fase foi baba; pena que não passei na primeira"  ou "a prova é feita para selecionar só quem eles querem" e outras preciosidades. Poucos dias após, uma palestra no anfiteatro. Como não houve aula em função da palestra compareci. O salão vazio. Razão: o palestrante era "da casa". Voltei então para a aula, que não houve. E os alunos foram beber no bar. E eu também, for sure. Nas conversas, a renitente presença do assunto São Francisco, como um sonho dourado e distante, inacessível. Eu sou ótimo ouvinte e excelente observador. Como bônus, sou mais do que excelente em interpretar comportamentos. Características minhas, por opção. Passados alguns outros dias, alguns professores "franciscanos" lotando o anfiteatro. Nas outras aulas, de pratas da casa lotando o boteco ao lado da faculdade. E aquela situação me reacendeu algo antigo, que, já nessas alturas do campeonato eu havia deixado de lado. Mas a coisa, talvez porque represada, fez-me reacender um sonho antigo: estudar nas Arcadas. Na minha segunda encarnação como um alfabetizado tomei conhecimento de que poetas, escritores, políticos e um monte de outras áreas do atuar humano era realizado, sempre com maestria por alunos egressos da São Francisco. E um aforisma em cima disso: um poeta que se preza tem que passar pelas Arcadas. Isso para mim foi decisivo. Abandonei aquela instituição, pois tornei-me afeito a ser reverenciado, não reverenciar. Se reverenciavam a Meca, eu iria para Meca, ora pois!
Querer fazer a São Francisco é sonho disseminado entre estudantes. Fazer é que são elas. Isso me fez reverter ao tempo em que eu afirmei, ainda analfabeto, que faria Medicina. E que eu tinha um ensinamento, verdadeira chave-mestra que abre quaisquer portas que eu quiser. Como eu já não tinha uma vida de um garoto de 17 anos, com outras responsabilidades, não poderia abandonar tudo e ir sentar uma outra vez em bancos escolares, para que qualificar em um cursinho. Mas eu seria um aluno da São Francisco, com toda a certeza. Fiz isso de estudar sozinho mesmo.  E o meu resultado foi milésimo lugar. Tudo bem, eu tenho paciência. E método. E trabalhar também eu tinha. Algumas palavras são reincidentes nesse relato. Trabalhar é uma delas. Tenho o hábito de me alimentar três vezes ao dia. Preciso trabalhar. Ano seguinte: colocação seiscentos. Idem, idem. Nesse meio tempo, li muito e estudei muito a História fascinante das Arcadas. Uma frase marcou-me profundamente a alma: "tive o nome inscrito com aluno das Arcadas e isso me basta", de Fagundes Varela. Ano seguinte: colocação 200 (menos, mas não sei qual). Eu terei o meu nome inscrito como aluno das Arcadas. Havia juntado dinheiro durante oito anos para viver os cinco da Facvldade. Novidades, "viver" nas Arcadas" não tem o significado direto de "estudar direito". Isso é apenas um triste pedágio a ser pago por estar alí, naquele lugar mágico e transbordando magia. A atividade discente mais importante é participar das festas de confraternização entre alunos. Haja festas! Participei de todas, todos os anos, sem exceção. É Peruada, oba! Outra atividade era interagir com os demais franciscanos a lhes garimpar a sua genialidade. Fiz isso de forma intensa. Tornei-me fã incondicional de cada um deles, sem exceção. Tornei-me fã de mim mesmo, apenas e tão somente por ser um deles. Isso nunca coube em mim. Aqueles corredores, um intenso desfilar de egos inflados. Eu, como sempre um extremista radical, sempre tive para mim como o maior ego de todos. Levei ao pé da letra: na Facvldade da História só o que me cabe é fazer História. E fiz o que pude. Adotei como minha (como muitos fazem) a frase de Fagundes Varela: tenho o meu nome inscrito na Academia. E isso me basta. Sempre achei que deveria haver uma janela com um espelho na porta das Arcadas. com a inscrição: daqui você contempla a grandeza dese lugar.
No relato parece que resta claro que o meu Olimpo é o mérito. Decorre daí a minha aversão absoluta ao que chamo "comunistas", quaisquer com com o canhestro discurso de esquerda: eles fogem do mérito. Por isso, vivemos em rota de colisão.
Acontece que, ao fim da graduação finda-se o meu tempo de vida emprestada, com o espírito amigo. Ele precisa voltar à Origem. E eu não posso, mais uma vez viver sem um espírito. Não é assim que funciona. Então criei, nos estertores de mim mesmo, feito a um deus grotesco, bastardo e fake, um espírito: Roy Babbosa. Um aluno das Arcadas, misto de Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Padre Vieira e James Joyce, ensopado nos opiáceos do Fernando Pessoa e discípulo do Machado de Assis.
Mas não bastou. Depois da graduação, o Mestrado. Antes dele, novamente uma tentativa de assassinato: desta vez, na forma de bactérias inoculadas em meu cérebro, num lugar estranho, exatamente onde haviam me ensinado como lidar com elas: no Hospital da Escola Paulista de Medicina. Eles, parece que se esqueceram como faz isso. Eu não. Uma reles bactéria contra um neurônio meu é feito a um Braxil x Alemanha. Também nesso jogo mortal, o placar foi sete a um. E, ao invés de um atestado de óbito, recebi o título de Mestre. Na Facvldade de Direito do Largo de São Francisco. Orgulho-sonho meu. Depois, um artigo publicado na Revista da Facvldade. Eu, um colecionador de sonhos. E agora, o Doutorado na São Francisco: eu???
Fim da estória.
Tomorrow never knows.