sábado, março 08, 2008

Mulher: em Prosa e Poesia




Década de Sessenta: o Movimento Feminista

Um texto da Série: “palavras politicamente incorretas”.

As donzelas em 1950 e 1960 imitavam Marlene Dietrich, Ava Gardner e outras. Em roupas, penteados, trejeitos pintura e tantos quetais. Quantos sussurros abafados, quantos orgasmos solitários dedicados a Marlon Brandon, “símbolo sexual” do momento. Ser mulher significava então ser objeto de cama e mesa. Era preciso ser “prendada” para “conseguir” um bom casamento. E manter-se de boca calada, tal e qual as candidatas à Miss Beleza faziam.
Cai o pano.
Aparece Brigite Bardot, verdadeira prostituta, que teve o descaramento de aparecer de maiô em fotos e filmes. Nessas plagas tupiniquins, Leila Diniz. Claro, a Liga das Senhoras Católicas estourou ! Torceram o nariz. Tanto que o nosso Beijo Eterno teve que ser roubado e transplantado aqui para esse Largo, Território Livre. Escandalosamente nus e se beijando ?! Livre inclusive dessas bárbaras preciosidades. Bom franciscano que era, o Presidente Jânio Quadros proibiu o biquíni em praias brasileiras. Mas não a pinga. Um desacato à moral aquilo.
E a coisa foi então tomando forma. As cocotas casadoiras passaram então a querer coisas horrorosas, como se expressar, ter vez e voz, trabalhar, estudar e outras liberdades libidinosas. Pode isso ? Pode, sim senhora ! E a pílula anticoncepcional ofereceu essa abertura ao mundo todo. Mocinhas queimavam seus sutiãs.
É, a coisa já não era mais como antigamente mesmo. Ao som de Norwegian Wood, fumando maconha, sentados no chão, com indefectíveis calças “Lee”, adolescentes rejeitavam todo o modus vivendi de até então. Bandeiras, as mais diversas: um mundo sem fronteiras, um mundo sem guerras. O Amor, na realidade o sexo, enfim, livre. It’s time for bed. Para esse não obteve qualquer resistência. Quando havia coisas do tipo “mamãe não deixa, papai não quer”, bastava recorrer à “ser moderna” e pronto! Ficava resolvido o impasse. Afinal, Hippie vem de hip, quadril.
De toda essa parafernália resulta o Movimento Feminista, com todos os seus pertinentes avanços e retrocessos, algo muito salutar ao processo. Resulta também que a Mulher conquistou o seu direito de ser mais uma a consumir, o que era a intenção sub-reptícia inicial. Conseguiu a igualdade de ser escravo, tal e qual o homem. Woman is the slave of the slaves nos cantou John Lennon. Passou a trabalhar, as estudar, a conquistar e criar novas posições, coisa que antes era apenas resultado da inventividade do Homem. Passaram a aparecer no cenário mundial tanto quanto aparecem nas capas de revista.
Tudo isso foi muito positivo, muito embora possa parecer que haja algo de jocoso no descrever da evolução histórica dos fatos. Positivo e sério, o que não exclui o animus jocandi. É que estamos no século XXI e o movimento feminista completa os seus cinqüenta anos. Em 2008, no Chile, na Alemanha, a Líder maior é mulher. Nos EUA a candidata em potencial também. E até para brasileiros, conhecidos como macaquitos, o Tarzã deu lugar à Jane. A Presidente do STF é uma mulher. Tudo porque a pauta séria do Movimento não era pertinente a “ser mulher” mas a “ser humano”. Como tal, iguais. Perfeito. Claro, com suas necessárias e vitais diferenças perfeitamente superponíveis.
Agora, fica apenas uma questão interessante. Aquela cocotas sonhadoras citadas inicialmente eram adolescentes em 1950/60. Tiveram então lá seus filhos e filhas. Que tiveram então, por sua vez, seus filhos e filhas. Filhas essas adolescentes de hoje. Algumas na São Francisco. Que vivem num mundo em que, por falta de novos valores, voltou os seus olhos e mentes e avidez pecuniária para a Flower Power, a geração Hippie . Haja vista a enxurrada de bandas musicais revolucionárias que nos visitam, com seus crooner caquéticos e septuagenários cantando “Baby, I love you”. Verdadeira clínica geriátrica musical, viramos nós. Mas, salvando a Pátria, diríamos que “música é música” (e vice-e-versa, como querem alguns) e, quando boa, como tal é eterna. Ao contrário dos músicos.
Ao contrário também das reivindicações. É um anacronismo o “retorno pelo retorno” de um Movimento Feminista. Problemas existem por certo, mas distante da condição de “ser mulher”, desenterrando um movimento. Porque, se não, logo mais veremos alguns tirarem do seu velho baú de recordações a carcomida placa “Pelo fim da Guerra no Vietnã” e sair por ai. Ou convidarmos o jovem Roberto Carlos para cantar “Quero que vá tudo pro inferno” na Sala dos Estudantes.
Movimento Feminista, em 2008 ? É mais plausível aqui a aplicação da máxima, em Latim que é pra dar mais autoridade: suum cuique tribuere. Porque os oprimidos são os fracos. Ao se isolar dos fracos como movimento, enfraquecem-se mais.



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Para provar que essas palavras politicamente incorretas apenas são verdades colhidas e não partem originalmente de um horroroso opressor machista, incluo a minha visão da Mulher, feito Poesia. Palavras-verso que dedico às mulheres, franciscanas ou não. Feministas ou não.

E l e g i a

Olhos
Para admirar-te

Corpo
Para amar-te

Alma
Para alçar-te

Verbo
Para louvar-te

Deus
Para criar-te

Femina: arte


Luiz Gonzaga Arcadas,VIII de março , CLXXXI

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