Peruada é sempre igual. Por outro lado, cada uma delas é absolutamente ímpar e diferente. Caso esse conceito lhe seja estranho, atribua a explicação a isso: são coisas da São Francisco! E tudo estará pacificado e esclarecido.
Sabe-se que, inclusive para facilitar a vida de adeptos, o Dia da Peruada será declarado "feriado universal no reino de Deus e adjacências". Projeto de iniciativa do nosso ínclito Legislador Tiririca. Da lavra, mas não de sua pena. Coisa feita por algum aceçor afeito às letras.
Por isso é que as imagens chegam à retina instantaneamente no presente, mas a História está lá, toda ela inscrita, em corações e mentes.
Acompanhe:
O Grito do Peru |
Tá! Ali tá o espírito |
As passeatas que então se organisam, culminando na já celebre "peruada", deixam após si uma multidão de dentes á mostra, numa gargalhada gostosa ou num sorriso fino, ironico.
É Peruada, X.I! |
De uns annos a esta parte, sobretudo, o "trote" dos academicos tem assumido um carater todo especial,
que faz com que o espetaculo agrade a quantos o assistam e não apenas aos que delle participem: é que a passeata dos "calouros" vem dando opportunidade a uma série fecunda de "charges", principalmente politicas,
A Peruada precisa voltar ao Pátio das Arcadas |
O Mote |
que têm, entre outras, a vantagem de pôr de lado umas tantas brincadeiras mais ou menos violentas, as quaes já provocaram reacções á altura.
De mais a mais, é bem facil aos moços lançar mão do "ridendo castigat mores".
Sempre presente |
Assim foi hontem. Depois dos indispensaveis preliminares, (banhos de farinha e de outras coisas de outras cores), que duraram cerca de um mez, os "veteranos" da Faculdade de Direito julgaram os seus "calouros" aptos a formarem com elles uma "frente unica", sahindo á rua uns e outros, de mãos dadas, para a "peruada".
Ipiranga |
A São Francisco |
ás 8 horas e meia, mais ou menos.
E até ás 13 horas o centro da cidade viveu momentos inesqueciveis. Bom humor, alegria franca; irnonia, fina, fininha, muito cortante...; passagens jocosas, de fazer rir a bandeiras despregadas, como se diz na rhetorica velha; e, pairando sobre tudo isso, ao lado de tudo isso, misturado com tudo isso, - o Ridiculo. Quando o ajuntamento do Largo São Francisco
O Largo e o povo |
Depois disso, uma vacca, tambem "de verdade". Magra, como convém aos tempos de hoje. Têtas murchas, "murchissimas", faziam alguem, que estava na calçada, pensar, talvez, sem a menor malicia, em certos thesouros. A vacca se arrastava a custo. Sobre o seu dorso, uma enorme aranha.
Fazendo o que? Pergunta-se o que que ha e a resposta vem logo atrás da vacca: um "calouro" caracterisado de forma bizarra, camisa preta, cigarro no canto da boca, vasta cabelleira, saudando "á fascista", ladeado por dois leiteiros; um distico - "Assim falou o leiteiro: entésa o braço varonil, sacode a juba leonina, faze-te o "Dux do Brasil", e depois outro - "Sem a força, que valor a "lei...teria?" - Nas mãos, fazendo delle uma petéca, o estranho "Dux" brinca com um xuxú. Um calouro maltrapilho conduz um letreiro: "Assim, eu vou..." Logo depois vêm mais xuxús: é "miss Xuxú, ao lado de "miss Constituinte", num carro
puxado por vinte e um calouros com as faixas dos Estados.
Um caminhão de Buchecha |
Ha ainda - estranha inspiração! - mais xuxús: em outro carro vê-se um homem que dorme, á sombra de um carramanchão de xuxús. Vela o seu sonho um calouro, "culote" e perneiras, busto nú, e abanando as moscas com uma vassoura. E ahi ainda um distico - Dorme, que eu velo, seductora imagem..."
Sobre uma carroça ha dois militares que brigam, brigam, e de repente se abraçam, se beijam, e tornam a brigar. Tambem alli um cartaz: "Amigos, amigos... negocios a parte." "E mais este - "Devemos agir "Chinicamente" - o "h", riscado com lapis vermelho.
Outra carroça é um "carro allegorico" dedicado ás calouras.
Trás o distico - "Advocacia das calouras - especialistas em direito de familia...", e vem cheio de panellas, berços, bebês. Sobre uma carroça está sentado um calouro, "disfarçado" de lente. Lê um formidavel livro, ao lado do seguinte cartaz: "Felizes os pobres de espirito".
Calouras |
Trás o distico - "Advocacia das calouras - especialistas em direito de familia...", e vem cheio de panellas, berços, bebês. Sobre uma carroça está sentado um calouro, "disfarçado" de lente. Lê um formidavel livro, ao lado do seguinte cartaz: "Felizes os pobres de espirito".
Ha um truculento militar a cavallo.
Em vez de dragonas tem - ainda... - xuxús. Fuma e bebe.
Se tivéssemos essa segurança todos os dias... |
Em vez de dragonas tem - ainda... - xuxús. Fuma e bebe.
Sobretudo bebe.
E por fim outro grupo.
Carregado por meia duzia de rapazes, um estandarte, onde se vê uma fieira desenrolada, tendo na ponta um pião. "Sem commentarios", diz ainda esse estandarte. Fechava o cortejo a "legião dos condemnados": uma porção de calouros semi-nús.
São João |
Quando a passeata entra na rua Direita espoucam rojões. E ha uma choradeira geral em frente ao palacio do governo,
onde os moços foram render suas homenagens. Choraram muito e dalli prosseguiram: ruas João Briccola, Libero, Viaduto do Chá, praça da Republica, 7 de Abril, Viaducto e largo S. Francisco, onde o cortejo se dissolveu, após uma "maxixada" geral".
Clamor em frente à Câmara, para um bando de surdos |
Transcrito de "O Estado de São Paulo"
Revista O “XI de Agôsto”
Ano XXX, maio de 1932, Num. 1, pp. 110-112.
Como queríamos demonstrar: os anos passam, mas As Peruadas ficam. Todas imensamente diferentes em sua paradoxal igualdade.
Aqui, a letra completa da música: :
Arcadas, XVI de outubro, anno CLXXXIII
Como queríamos demonstrar: os anos passam, mas As Peruadas ficam. Todas imensamente diferentes em sua paradoxal igualdade.
Aqui, a letra completa da música: :
Arcadas, XVI de outubro, anno CLXXXIII
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