sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Nenhum homem é uma ilha?

A Ilha

Por esses tempos, em fevereiro de 2004, eu via o meu  bendito nome na Lista da Fuvest. Pastinha debaixo do braço, lá fui eu fazer a minha matrícula nas Arcadas. Aquele Pátio, já meu tão ansiado e antigo conhecido, agora era o meu Pátio! E uma sensação de deslumbramento se apossou de mim de forma definitiva, para sempre. 

Para um feito desses, entrar na São Francisco, merecia eu um presente à altura. Lá fui eu então para Fernando de Noronha. Para descobrir e desfrutar de todo aquele Paraíso. E também para descobrir incríveis semelhanças entre o sonho realizado e o prêmio recebido: as Ilhas. 
A Ilha



Há uma Lista de espera para entrar na Ilha. Certo está que não há vestibular para isso, mas a lista existe. E estar na lista custa caro. Muito caro. Estar lá também custa muito caro. Seria até um roubo, se as coisas não funcionassem lá perfeitamente. Tudo funcionava. Não há ali pessoas que ousem dizer que não estão gostando da visita. Se havia, tinham sido internadas por insanidade antes da minha chegada. Ali se sente a presença de Deus. Diz-se até que Deus fez o mundo como a um treino. Quando ficou bom na coisa, fez Fernando de Noronha. E fez dali a Sua morada. Você sente a Sua presença ali. Se tiver olhos para O ver, verá. A eventual incredulidade do leitor não muda a realidade das coisas. Há algo também muito especial: representa o fim da sua carreira de turista. Tudo o que se vier a conhecer no futuro será tudo muito bom. Porém, quando menos se espera, compara-se o que se vê com A Ilha. Dai tudo fica menos. Dado que fomos feitos a Sua imagem e semelhança, por vezes nos esquecemos disso. Ao estar ali, na Sua presença, lembramo-nos. E, tal Pai tal filho, sentimo-nos Deus também. Verdadeiro espírito santo.

Estava então apto eu a viver cinco mais do que maravilhosos anos de Arcadas. Uma Ilha de Excelência. Cercado de uma mar de mentes brilhantes. Distante de uma realidade de mediocridade que assola esse nosso Brasil. A sensação de circular pelos corredores e Pátio, como sendo aquilo tudo meu, por merecimento. Uma sensação de deslumbramento e orgulho de inscrever o nome na História, meramente por ser seu aluno. E  a oportunidade de efetivamente não ser só um expectador que aplaude ou critica, mas ator, fazendo essa História. São Francisco: não existe um lugar assim no mundo! Inútil explicar a quem não conhece e inútil explicar a quem dela faz parte. Ser Batizado nas puras águas da Sé nos instila o espírito franciscano, indelevelmente e para todo o sempre. Viver no olho do furacão, festas, conviver com pessoas geniais, festas, Pinduras, festas, Vigília, festas, jogos, festas, calouros, festas, A LATRINA, festas,  Pênix, festas, Centro Acadêmico, festas, o Mantra do XI, festas,  Loucademia de Letraz, festas. E a Peruada. Ah, a Peruada. Oba! Além de outras festas, sempre sobra um tempinho para a Faculdade de Direito. Que se faz excelente, pela excelência dos alunos, docentes e discentes. Realmente, um Universo à parte.  
Feita a última, a mais linda e mais triste das festas, a formatura: em cada canto do Largo, eu largo o meu coração.  
Não largo!
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A Pós-graduação, em especialíssimo  na São Francisco, cumpre alguns papéis dignos de nota. O mais comédia é de permitir a alguns alienígenas dizerem-se alunos, quando nunca conseguiram ser calouros nas Arcadas. Isso você vai encontrar nos escritórios e até no STF. Que não culpem franciscanos por serem então vilipendiados pela fraude legal, mas imoral.  Há o louvável, quando alunos-atletas precisam continuar alunos para competirem, e ganharem, em jogos pela Gloriosa. Toda-poderosa Sanfran. Há o admirável, quando alunos precisam galgar degraus necessários para serem antigos alunos a ministrarem aulas aos mais novos. E há o mais sublime e ininteligível aos que Dela não fazem parte: apenas e tão-somente continuar nas Arcadas.     
Disposto a cumprir mais esses papéis, excetuado, graças ao bom Deus o primeiro, faça-se então a pós-graduação.  
Mais uma vez, como troféu compatível: Fernando de Noronha, here I go.  Diz-se que "em time que está ganhando não se mexe". E que a gente se acostuma rápido com aquilo que é bom. Principalmente um franciscano.
De uma beleza absurda e intacta, A Ilha. Estranhamente agora, enfeiada por singelas observações: quebrou; estragou e não foi consertado; não tem manutenção; não tem mais, etc, etc, e etc. Sinal dos tempos. Parece que virou Brasil também. Exceto porque não tem bolsa-família. Talvez até por isso. Sendo que se cobra por dia de permanência, a "diária" deveria reverter em benefícios. O que ocorria. Agora parece que o arrecadado vai para algum caixa dois, como sói acontecer no resto desse País filho Dilma anta. Assim, para rimar com a Beleza da Ilha, a tristeza. Uma rima pobre, certamente. 

Já há algum tempo, correm pelas Arcadas sussurros de uma insatisfação manifesta, porém latente, surda. Alunos são certametne parcela da população geral. Trazem com eles reflexos do que ocorre para fora dos muros desse nos Jardim de Pedras. 

E o que ocorre lá fora é uma mediocridade espantosa, o povo sendo conduzido feito boiada no pasto, a hipocrisia do politicamente correto reinando absoluta, onde "matar os pais a paulada pode e é normal, mas fumar passou a ser crime hediondo". A tão combatida lei do mais forte substituída pela lei do mais esperto. Uma política de pão-e-circo, tão antiga quanto o Imperio Romano, é-nos apresentada como a criação genial de um analfabeto. Certo é que o Brasil não prima por ser nada notável nos últimos quinhentos anos. Mas tenho certeza absoluta que há uma grande orquestração mundial para manter esse famoso paisinho de merda como sendo um paisinho de merda eternamente. E até isso já é previsto pelos espertos: recebe o nome de Teoria da Conspiração. E fica tudo por isso mesmo. E o povo todo, subserviente em sua absoluta ignorância deposita o seu voto, certamente trocado por alguma benesse, confirmando a continuação da pobreza de espírito e da mediocridade de uma república das bananas. Somos agora colônia da China. 


Sem novidades, até então. Sempre houve, mediocridades à parte, certa pequena parcela desse povo absurdo que tinha um cérebro pensante. Verdadeiros cidadãos, que assim podiam ser chamados, realmente. Não burro no pasto.  Dessa parcela dsurgiam os alunos da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Uma elite pensante. a Inteligência Brasileira. Mentes brilhantes, esses franciscanos.

Na vigência da Lei do Mais Esperto ficou vergonhoso ter o que comer. Por falta de palavras, virou moda a ridícula repetição da frase para encher linguiça, hodiernamente sem trema. Copiemos entâo: ficou vergonhoso ter emprego, ficou vergonhoso ser elite de alguma coisa, ficou vergonhoso ser "branco", ficou vergonhoso ser hetero-alguma-coisa, ficou vergonhoso ser inteligente, ficou vergonhoso principalmente ser pensante.   O que dá status mesmo é ser miserável, é ser ignorante e analfabeto, é precisar de cotas para  substituir o esforço próprio, é ser negro coitadinho, é sempre ser de alguma forma dependente do poder público, para reelegê-lo eternamente.


E parece que passou então ser vergonhoso ser franciscano. Ser uma elite pensante da sempre melhor escola do País. Parece haver uma "culpa" em sermos melhores. Uma força maligna que puxa para baixo, para o mais fundo dos infernos. E assistimos então a unibanalização das Arcadas. Isso o que corre surdo pelos corredores.


Turma CLXXXIV


Dizem alguns que esse processo cíclico ocorre feito a ondas, ao longos dos anos. Desses últimos 184 anos. Espera-se que sim. Por isso, quando chega o mês de fevereiro, diferentemente dos brasileiros em geral que esperam o carnaval, esperamos os novos calouros franciscanos. Sangue novo nas Arcadas. 
Apostando neles a satisfação de constatar que habitamos ainda a mesma Ilha de Excelência que nos permite comemorar  naquela nossa tão similar Ilha de Beleza, até nas ondas. 

Nenhum homem é uma Ilha? Somos.


Arcadas, XI de fevereiro, CLXXXIV

2 comentários:

Vivian disse...

Amei o texto! Obrigada!

*Maira* disse...

*suspiro* SanFran nunca terá 100% de excelência porque não me quis hahshahhasha Tem, portanto, só 99,999999%! Quando eu entrar pela posta dos fundos, essa porcentagem pode até subir um pouquinho, mas enfim... hahshaha
E ah, quando me sequestrar, quero que meu cativeiro seja em Fernando de Noronha ok?

bjuss*
p.s.: o meu ex-noivo tá na segunda foto com os calouros dele ;)!