segunda-feira, junho 11, 2012

O fim do mundo, num dilúvio de hipocrisia

Eu tenho já a presença confirmada na Festa do Fim do Mundo, em 21 de dezembro, veiculada no Facebook. Está garantido que não haverá festa melhor. Mesmo porque, após ela, não haverá festa alguma. 

Já escrevi aqui mesmo, sobre o fim dos tempos. Só que lá, na visão, bastante ou totalmente impregnada com a descrição escatológica do Apocalipse. Visão que amedronta a humanidade há séculos, com anjos, trombetas, acerto de contas e tudo o mais. Acontece que, nesses tempos de agora, o Apocalipse virou videogame para criancinhas bem principiantes. A realidade é bem mais escatológica do que qualquer descrição futurística ou ficcional.
Os Maias preveem o fim dos tempos no dia 21 de dezembro desse nosso então derradeiro 2012. Para os judeus, cinco mil e tralalá. Para os chineses, sabe-se Deus lá quanto. Confesso que tenho certa ojeriza de escrever nos moldes de um "escrito científico". Recuso-me a citações de fontes e referências bibliográficas. Quem sabe, sabe. Quem não, que procure saber. Ora essas!  São esses alertas que sempre postergam eu iniciar a discorrer sobre algo. Mas, tendo dito, vamos a essa outra visão de fim do mundo.
A tal descrição maia refere-se ao fim de uma "era", fundamentando-se no percurso das estrelas e tudo o mais. Apesar de ser uma ideia literalmente viajante, é muito mais factível. Afirmam que, de alguma maneira, esse trânsito galáctico interfere em nossa vidinha aqui na Terra. E que, de tempos em tempos, finda-se um ciclo, iniciando outro. Isso sim é que é bem legal!
Imagine você: a nossa história ocidental conhecida é bem curta, astronomicamente falando. E é toda ela impregnada de um tom de estória da carochinha. Vai que vai e esbarra-se em uma afirmação mais inexpugnável que a Muralha da China: o conhecimento oriental. Revise aí os seus escritos e você vai constatar isso, caso não acredite no que aqui está sendo dito. É vero, creia.  Está lá falando-se do conhecimento filosófico aristotélico quando, cita-se, "seus conhecimentos adquiridos em viagens ao oriente".
Pois bem: crei para mim que o tal de Fim do Mundo será esse, o fim do império do conhecimento ocidental. Ainda bem, porque ele carece de fundamentação. Fundamentar que vem do Oriente não basta. Como é o conhecimento do Oriente?
Parece-nos então que iniciamos uma nova Era; saberemos, finalmente, em final apoteótico, como é o conhecimento oriental! Chega de intermediação!
Se você bem se lembra das aulas da dona Ermenegilda, no terceiro ano primário, o astrolábio, - recém-utilizado nas tais Grandes Navegações -, era invenção "oriental". A bússola também. A pólvora também. A Imprensa também. O Galileu também apresentou as suas novidades, com conhecimentos oriundos da famigerada "cultura oriental". E tantos outros "também", que não me lembra ou que não sei mesmo. Aos árabes coube algumas inovações na escrita e na Medicina, devido ao "seu estreito contato com o mundo oriental", em certa época. Que você vai consultar suas fontes, para saber quando. A escrita parece que chega à Grécia por meio dos fenícios em seu contato comercial com... o oriente. Aos judeus, por sua eterna andança diásporica pelo mundo afora, que certamente devem ter feito alguma clientela para o proibido além-Muralha da China.  Sempre claro, travestido de "turco", para todos os efeitos. Um vendedor nato e um agiota por consequência, num silogismo ímpar, de origem desconhecida. E não oriental. Defensores de uma estranha eugenia por se tratar de filhos diletos de deus, amargam vez por outra o sabor do próprio veneno, aplicados pelos gentios, o "resto". A distorção decorre da apreensão do conceito de casta, vindo também do oriente.
Pelo exposto, a cultura ocidental não sabe nada, nadinha. Resulta então que  nada  mais é do que uma cópia, uma tradução da "cultura oriental". Dado o ditado "tradutor traidore", ficamos com a versão acabada de algo que não temos como acessar o original, para confrontação de fidedignidade. Só sabemos agora que, após tudo devidamente copiado, foi acrescentado um novo ingrediente: o "direito autoral", que penaliza a cópia. Uma regrinha deveras engraçada: "é proibido copiar a minha cópia". Regra essa que tem se tornado difícil fazer-se cumprir, na atualidade. E, por paradoxal que possa parecer, é a "cultura oriental" que tem tornado difícil fazer valer essa regrinha da ilegalidade da cópia. E a gente compra cds e devs na esquina, a dois real, para o arrepio da indústria de som e imagem.
Diz a cultura popular, não sei se também oriental, mas "em todo mal há a semente de um bem equivalente". Isso, de certa maneira, reconforta-nos. Só não se sabe quando, nem como. Como a Justiça Divina: ela será inexoravelmente feita. Só não sabemos quando. Nem como. O que é uma injustiça desbragada!
E o fim do Mundo como o conhecemos resulta da germinação da semente, da Justiça Divina, da ação elementar da Natureza como não a conhecemos: o avesso do avesso, avesso não é. A Humanidade será regida pela cultura oriental. Eis o novo ciclo.
A nossa cultura ocidental, tudo depois de devidamente copiado, criou também outra coisa muito legalzinha: o Capitalismo. Um sistema genial, mas que confronta seriamente com qualquer outro, pois faz necessário supor a existência de um novo deus criado: o poder do dinheiro. Para o seu reinado, a existência também de uma ferramenta nova: a necessidade de adquirir algo, sempre mais, visando a um suposto conforto material. Não há mal nenhum, quando o aceitamos como um ser criado, para o nosso regozijo. Acontece que a vaga já estava ocupada, erroneamente interpretada. Já havia um deus criado anteriormente, só não se sabe se por influência de alguma cultura oriental. O fato é que já havia um deus. E, segundo esse, não há vaga para nenhum outro. Uma arbitrariedade ditatorial divina, digamos. Nada de concorrência.  Disso gerou-se o conflito. Que, como penso que bem explicitado, um erro grosseiro de avaliação.Você pode perfeitamente seguir os ditames de ambos: reze para um e compre do outro. Mas não, aquele deus criou mais um ditado: não se pode servir a dois senhores. Pode sim, senhor deus. Claro que pode! Dada a força empresarial que esse vingativo deus tem, fica então valendo o que chamamos de "reserva de mercado". Diz ele que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um servo do outro deus entrar no reino dele.

O fato é: criaram uma cultura dita ocidental, não para contrastar, mas fazendo de tudo para que ignorássemos por séculos a tal cultura oriental.

O Capitalismo é um tsunami e quer engolir tudo. E foi feita a besteira: ensinaram aos chineses a fazer a boneca Barbie (são produzidas lá, a baixíssimo custo). Eles gostaram da ideia. E copiaram o Capitalismo por inteiro. Com uma vantagem: aquele bom Capitalismo do Adam Smith, tal e qual foi criado. Sem as distorções criadas depois. Distorções que fizeram com que o preço da barbie saísse de um dólar, venda com lucro, para 500 dólares. Ou mais. Eles continuam a fazer a Barbie, com nomes tipo Parbie, só que a dois dólares. O distinto e paciente leitor dessas minhas divagações já observou que a frente dos automóveis orientais tem a "cara" com os olhos puxados? Considentando os farois como sendo os olhos, claro. Então, meu querido, os carros orientais já dominam o mundo, certo?

Com essas e com outras, chegou então o grande momento: a cultura oriental vai engolir a ocidental, com a mesma arma criada pelo ocidente, copiando o oriente. Eles copiam o ocidente, que copiaram o oriente. Enrolado isso, não?

Então: diz-se que "quando se está pronto, parece que o Universo conspira a favor". Veio um suposto Bin Laden e, com um canivete, fez desmoronar não apenas duas torres, mas o pilar maior da atual cultura ocidental: o senso de superioridade dos norte-americanos. Com a derrocada, a crise em dominó do ocidente. Com a crise, tudo fica baratinho que é uma coisa! E são de pronto arrematada... pelos orientais. Considere que a falência é de Estado e não de empresas. Com isso vão, aos poucos, tornando-se donos do mundo, materialmente.

Como queria demonstrar: sem terremotos, tsunamis, catástrofes nem Apocalipse. Apenas ingerindo do próprio veneno. Um fim de mundo paciente e silencioso, sem barulho. Coisa típica... oriental. E, seguindo os ditames das estrelas, entramos em uma nova era: a da cultura oriental. Que enfim conheceremos. Talvez o dia 21 de dezembro marque a data em que eles tomarão posse oficial de tudo. Com o seu modelo peculiar de Estado assumirão Estados em frangalhos em um sistema falido. Ah, será bem legal essa festa, viu!

Pelo pouco já demonstrado, os donos do poder ocidental tem mesmo que estar com muito, muito medo. Imagine você que é pena de morte para tráfico de drogas. Pena de morte para corrupção. Pena de morte para a traição à Pátria. E preparem-se para pagar a bala da execução! Levando-se em conta que eles não tem um deus tirano e vingativo, com uma indústria religiosa rançosa e exploradora do sentimento de culpa, isso anula o moralismo hipócrita. E se a moda pega, vai ficar difícil sobrar alguém para puxar o gatilho.

O pano de fundo que facilita e em muito as coisas para tal transferência de domínio consiste na degenerescência do paradigma do Estado ocidental(*). Ao ruir o pedestal do maior deles, os demais, ancorados neles, afundam-se em efeito cascata. Já no Brasil é em efeito cachoeira:  momento em que os três Poderes deixam de ser poderes republicanos na lição de Montesquieu e adotam o modus operandi de quadrilhas organizadas, formaradas para meramente espoliar o Estado, com exclusividade concedida pelo inocente voto daqueles que serão expoliados. Acredito até que o Fim do Mundo esteja agendado para o dia 21 a pedido de brasileiros: finalmente é sexta-feira! Mas aqui é diferente: o fim do mundo já impera há quinhentos anos.

 Como um arremedo, não custa lembrar que a cultura oriental é isenta do nefasto componente da eugenia, em torno da qual, e com o qual, erigiu-se toda a dita cultura ocidental que conhecemos e que cujo fim é recebido com tanto augúrio. Não porque a sequente possa ser melhor, mas apenas por ser dessa diferente.

Brindemos pois. Rei morto, Rei posto! Vida longa ao Rei!

* = frase atribuível a um eminente Mestre na Faculdade de Direito. 

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