“Existem n imagens da Monalisa em melhores condições
do que essa. Mas essa imagem é de uma foto que uma grande amigo fez, quando a
visitou no Louvre. Onde é proibido fotografar a moça. Pelo delito, por se
lembrar de mim, por me dedicar uma foto, dessa foto ser a Monalisa e o dito
amigo ter feito qualquer tipo de analogia entre a lembrança da minha pessoa e
uma obra do Leonardo da Vinci, apresenta-se-me mais como um inimaginável elogio
do que um mero presente. Por isso, ei-la!”
Existe um Ser que me acompanha.
Não o posso dizer imaginário, posto que tem existência real. Ou melhor, é, para
mim, uma realidade. Esse Ser, que convencionei para mim mesmo que é Feminino, é
irritantemente assexual, no sentido de Masculino ou Feminino. É mais ainda irritantemente
atemporal. Acompanha-me pela vida toda, mas não envelhece. Nunca foi criança,
nunca foi senil. É, simplesmente. Ela me ouve, pacientemente. Mas, ao final em
pouquíssimas palavras, determina o que eu devo fazer. Isso, eu não chamo de uma
conversa, um diálogo. É alguém bom ouvinte, mas que determina imperativamente.
Ponto.
A lembrança voluntária e pessoal
mais antiga que tenho é a de eu estar sentado, aconchegado, no colo de minha
mãe. Eu, com cerca de três anos. Ela, sentada em uma cadeira de madeiras,
dessas, da mais comum que existe. Estamos em uma sala completamente vazia. Em
um ângulo diametralmente oposto há um homem em uma escada, pintando a parede.
Enquanto isso, ela conversa com ele. Principalmente, dá palpites e ordens. É uma singela lembrança. E muito simples, não
fosse o fato de que essa cena, exatamente essa, aconteceu realmente, segundo
ela. Só que ela ainda era gestante e eu estava muito bem acomodado em seu
útero. A pintura da casa era um dos últimos retoques na casa, que seria inaugurada
com a nossa mudança, após o meu nascimento. E eu ainda não existia, nessa vida
extra-útero. Daí então é que a coisa complica um pouco.
Esse Ser que me acompanha está
sentado elegantemente em uma cadeira, dessas de madeira a mais comum, em uma
sala completamente vazia. E é nela que eu mantenho os meus monólogos e recebo
as determinações, em voz alta e em bom som. Mas, a despeito de quaisquer
teorias psiquiátricas que pode haver, e as há, o Ser não é a minha mãe. E a
sala que ela habita não é a sala da minha lembrança. Inclusive porque, salas
completamente vazias tem o incrível dom de serem muito parecidas.
Ao longo de toda a minha vida,
esse foi um mistério que sempre procurei explicar. Não desvendar, coisa que me
tem parecido impossível. Mas haveria de haver, no conhecimento do mundo, alguma
explicação plausível para isso. Eu os obtive todos, acho que todos. Busquei e
continuo a buscar. Mas há apenas o fato e a Presença, a despeito de
não-explicações, explicações obtusas, outras edrúxulas, outras fantasiosas,
outras ignorantes, outras simplesmente mentirosas e com segundas intenções. Eu,
apenas com esse dado, poderia tranquilamente abrir uma igreja e criar toda uma
teorização conveniente para os meus fiéis. No mínimo, ficaria isento do imposto
de renda.
As explicações passaram pela mais
simples, a minha “consciência”. Não. Passaram também por explicações em fases
freudianas. Acabei por concluir que o próprio Freud tinha lá as suas fixações e
procurou estabelecê-las para todo o mundo. Algo até muito semelhante ao que
parece que estou fazendo agora. Mas ele certamente tinha consciência, assim
como eu, da Presença. Não,não era o meu lado feminino que um brilhante dia,
numa epifania deslumbrante eu finalmente sairia do armário. Nada.
Devido às incursões pelo mundo da
escrita e da Poesia, passei a considerar essa Presença como sendo a minha Musa.
Num primeiro momento, tornei-a Mulher. Depois, Bela. Imensamente Bela. O seu
sorriso, que não é minha criação, mas algo dela, tem um enigma que deixa
qualquer Monalisa com inveja. Talvez o Leonardo tenha tido lá as suas
experiências semelhantes com a Presença. Sua voz é muito suave e de uma fala
compassada. Jamais alterou o seu tom de voz, para mais ou para menos. Não que
ela seja inteligente; ela é imperativa. Não há a encantada Sabedoria no que
diz; há uma ordem. Ordem que eu sigo. Sempre segui. E é com ela que treino ser
um bom discípulo. Faço exatamente, no que me é humanamente possível. Por vezes,
extrapola. E esse mundo exterior me lembra o quanto ela está sempre certíssima.
Mas, apesar de fantasiar assim, ela não é uma Mulher de quem eu seja
apaixonado. Eu não a amo. Ela me ama.
Nas minhas andanças pelo mundo
teológico fiz-me por certo tempo, crer ser ela o Espírito Santo. Ele, entre eu,
filho e Deus, Pai. Isso nos moldes em que se conhece popularmente por Deus que
acreditam. Apenas com a diferença que eu a trato como Pai. Sem ser aquele filho
inconveniente e incompetente. Que a ele só se dirige para pedir coisas ou para
reclamar da vida. Não. Apenas sigo suas determinações e faço o que precisa ser
feito. E em sendo bem sucedido, o sucesso serve-me de oferenda, em
agradecimento aos seus ensinamentos. No insucesso, sinto-me envergonhado. Isso
porque, em todos os casos, ocorreu porque não segui exatamente o que me foi
determinado. Sempre nas minhas conversas com Ela. Não há nada e nem ninguém na
sala que descrevi. Apenas Ela e eu, que chego. Não há intermediários nisso. Certa
vez fiz com ela uma viagem pelo mundo da Alma humana, ou que assim a denominam.
Algo branco, imenso e ofuscante como as
geleiras do Polo Norte. Sem fim. Não era a alma dela. Era a minha própria. Ela
fez com que eu a olhasse nos olhos para que, em reflexo e enxergasse os meus
próprios olhos. Realmente, os olhos como a porta da alma. Open up the doors. E então, experimentei algumas vezes realizar
isso com olhos outros. E eu, por mim mesmo, consegui fazer a mesma mágica
viagem pela alma daqueles olhos. Algo indescritível e deslumbrante. Em função
disso, passei a não querer mais olhar as pessoas no fundo dos olhos. Apenas um
olhar superficial. Porque não me interessam as almas de outrem. Segundo, porque
eu as visitei absolutamente iguais. Incrivelmente iguais.
Por experiências com substâncias
que alteraram por vezes temporariamente, por vezes definitivamente a minha
mente, cheguei a explicá-la como um Super Id, que seria superior e controlador
do Ego, do Superego e de todas essas coisas. Pois que era sempre ela que me
conduzia e acompanhava em viagens alucinógenas, incríveis, absurdas e por vezes
ameaçadoras. Mas ela fez-me ver que aquelas coisas, visões inumanas não eram
realidade, mas apenas distorções, no processo de expansão elástica da minha
própria mente. Uma alma de borracha, o que temos. Rubber Soul. E os olhos, a
porta da percepção.
Ainda por campos do espiritismo,
eles têm lá suas explicações. Que em absoluto me interessam, por serem
grotescas e esdrúxulas. Alan Kardec por certo parece que andou viajando nesse
mesmo trem, conhecendo a Presença. Mas também parece que nada entenderam e
enveredaram por caminhos obtusos. O mundo tem dessas coisas, ignorâncias. O
ventilador foi desenvolvido e criado para fazer o ar circular. Por isso ele
deve ser dirigido ao teto, posto que o ar se aquece e é esse que deve ser
circulado e expulso do ambiente, para que o ar inferior suba, limpando e
resfriando o ambiente. Mas as pessoas dirigem o fluxo do ventilador para a sua
cara. E isso se faz em todo o mundo, em todos os tempos, depois da criação do
dito cujo. Se o mundo não entende o mecanismo simples da ação e função do
ventilador.,como entenderiam assuntos da Alma humana, disso que nem sei se se
pode chamar Alma? A Presença. Um lampejo de Energia, a presença de Deus no
Humano, para que ele seja viável. Mas insistiram em falar sobre o que não
sabem. E falam asneiras, inexistentes.
Ainda nos primórdios de minha
existência, quando ainda nada mais era do que uma massa amorfa, inóspita,
insípida, vazia e nula, embarquei numa mágica e misteriosa viagem, cujo
condutor era um ser incrivelmente humano, chamado John Lennon. Seu brinquedo
genial, chamado Beatles, levou a minha mente a esferas nem mesmo alcançadas
pelas viagens alucinógenas. Porém de uma elasticidade sem retorno. Alma de
borracha. Rubber soul. Para fazer jus àquela genialidade tamanha dele,
utilizando-me também do ar despretensioso e jocoso, passei a dar um nome para a
Presença. Uma brincadeira com um nome que já existe, apenas que se lhe modificando
uma letra. Ele trocou um “e” por um “a”. Transformou o beetle em beatle. E eu troquei um
“e” por um “i”. E transformei a Beatriz em Beatlis. A musa que
conduz-me ao Paraíso, feito Dante, que certamente foi outro que perambulou
também por essas paragens da Presença, que
procuro descrever. A Presença era então, Beatlis. A Presença: eu sou o Caminho,
a Verdade e a Vida. Beatlis, a Presença: eu sou o Carinho, a Vaidade e a Vida.
São explicações que eu tento
inutilmente dar para a existência da Presença. Tive uma filha e dei a ela o
nome de Beatlis, com toda a simbologia restante, na vã tentativa de ter no
mundo uma pessoa humana que representasse a Presença. Para me lembrar sempre
dela. Tentativa vazia, dado que a Presença me é presente durante todo o tempo.
Vã tentativa, posto que a Presença não é a condensação do Nada. É o próprio
Nada. Mas a Beatlis-filha existe em minha Vida.
Adoravelmente.
Numa fatídica noite, pedi,
implorei à Presença que fizesse com que a Presença, se é que havia, naquele
John Lennon tão importante para mim , tornasse para mim aquela Presença que era
minha. Como já dito, jamais pedi nada a Ela. Nem antes e nem depois disso. Ela
não atende a pedidos, ela determina. Mas ela acedeu e me atendeu. E me sorriu.
Um sorriso profundo, o qual jamais havia entendido e que não entenderia por um
longo tempo. Como também já disse, enigmático. Mas a minha tristeza de então
era tamanha que em nada estava disposto a entender um sorriso. E ela pôs-se
diante de mim e fez com que eu a olhasse nos olhos, profundamente. Tão profundo
a ponto de fazer aquela viagem pela alma que já havia feito e inclusive
desistido de praticar outras vezes. Nessa viagem a um branco monotamente
infinito, de um brilho indescritível, vi o que jamais ela me havia permitido:
eu vi a Presença. Presença que não era minha, mas produto do meu pedido
atendido. A Presença que havia tornado possível um John Lennon. E aquela
Presença era Ela própria, sem ser ela. Absolutamente a própria. E idêntica à
minha.
Com isso aprendi algo realmente
fascinante: a emulação. Viajar por mentes alheias. Sendo que sempre, a anfitriã
é a Presença. Não a minha, mas a do outro. Presença que é a própria minha, sem
ser. Num depois, vim a saber que Aristóteles falava estranhamente em emulação. Em sendo
quem é, deveria ser também um que a praticava. Com a emulação faz-se possível
viajar por mentes alheias, conhecer-lhes o conteúdo, sendo que há sempre e
sempre a presença da Presença. Incrivelmente idêntica à minha própria. Algo
como que um clone. E me vi experimentando sair eu mesmo fora de mim. Sai
realmente, sendo conduzido pela Presença, para fora do corpo. Senti um medo
tamanho. Incomensurável. Help! Procurei agarrar-me desesperadamente à Presença.
I wanna hold your hand. Temi desvincular-me o meu estado sei lá se de energia,
em definitivo do meu corpo humano. Jamais quis repetir a experiência. Temi ser
carregado pelo vento, analogia feita às coisas desse mundo daqui. Não tente
fazer isso em casa!
Pela vida toda tentando explicar
a mim mesmo o que vem a ser a Presença. Dei-lhe feições humanas, sexo, nome e
tantas coisas. Porém, assim como o diagnóstico obtuso dos médicos, de “virose”,
fiz muito e fiz nada. O mistério continua. Eu a conheço muito e ela sabe de
tudo sobre mim. Vivo a minha vida segundo os seus desígnios. Mas nada sei exatamente
sobre Ela, exceto as minhas divagações como respostas.
No maravilhoso mundo dos
computadores, existe um ícone, que nos faz acionar um programa, para que
realizemos algo. Mas não sabemos o Programa. Não conhecemos a sua linguagem,
não sabemos “dialogar” com ele. Muito menos criá-los. E mesmo assim, fazemos
uma infinidade de coisas, por meio dele, na mais completa ignorância sobre ele.
Faz-me parecer que os humanos assim o são. Dada a incrível similitude que há
entre o computador o e o ser humano. Inclusive já tendo, em seu início, sendo
chamado de “cérebro eletrônico”. O que eu crio, a partir dele, pode e é, totalmente
diferente do que outro criou. Então, a Presença poderia ser o “programa” que
nos rege, fazendo eu a minha vida do jeito que tem que ser, eventualmente igual
ou diferente da de outros humanos. O “Programa” é o mesmo. O que haveria de diferente é o consciência da
existência, a possibilidade de dialogar ou monologar com ele, entender a sua
linguagem e até mesmo a consciência da linguagem e a possibilidade de ler e
reproduzir os comandos. Uma explicação incrível, plausível. O nosso
desenvolvimento, elasticidade de alma, nos levaria a essa consciência. Sim,
plausível. Inclusive acessado por alguns poucos, como os nomes que já disse
aqui. Mas que ainda continua a não explicar a Presença em sua amplitude.
Não vivo para explicar a
Presença. Vivo-a, simplesmente. Apenas que estou aqui descrevendo os processos
investigativos. E porque hoje o Martim completa os seus trinta anos de
existência e precisa saber disso como deve ser. Com os conhecimentos todos que
havia obtido sobre, com e por ela, a Presença, impus-me como objetivo que
falaria à Presença que por certo deveria existir nele. Idêntica à minha, sem
ser. Intangível isso. Não bastava que apenas nomeasse com trejeitos de
genialidade, como fizera com a Beatlis. A Presença não é humana. Não pode ser.
E eu a ele, Martim, sempre me dirigi
como quem se dirige à Presença. Como a Presença a mim se dirige.
Condescendente, complacente, mas de uma imperatividade implacável. Mas isso não
é humano. É a linguagem da Presença. Que me ama, sei disso, mas que jamais me
fez um afago, um gesto humano, apesar de Ela ser a própria expressão do Amor.
Quis fazer uma vida dirigida a sua Presença, para que ela, a Vida, fosse,
diferentemente dos demais, elástica. Alma de borracha. Que, num depois, vai
saber que um gesto, apesar de aparente beleza e cheio de significados, pode ser
falso. Como geralmente o é. O Beijo de Judas. Esse, o
trecho que lhe cabe, pelo aniversário. O conhecimento que precisa, por herança
e continuidade. Por expansão. Foi preciso uma disciplina rígida e implacável
para transmitir a mensagem de ser Filho de Guerreiro, etmologia tupi-guarani do
nome Martim. Tal rigidez de comandos, hoje vejo que na vida fenomênica
prescindiu do calor humano, do gesto de carinho, do afago e tudo o mais. Tão
necessários à Vida humana. Mas essa ausência não nega o Amor. Amor que
transcende o Humano, posto que por dação divina. A Presença. Isso sei que fiz em plenitude, como um bom
discípulo. Se errei na dedicação humana, por pouca demonstração de Amor, peço
perdão. Mas ele existe. Amo mesmo muito você, Martim. Tanto que esse bilhete,
verdadeiro codicilo pode e deve representar um comando para a sua vida que se
inicia. Quem me estimula a lhe passar esse comando é também o orgulho que sinto
de você.
Por esses dias, andam falando
sobre a “descoberta” da Partícula de Deus. A energia que gerou a matéria.
Escritos hindus de há mais de cinco mil anos já afirmavam que tudo o que existe
é uma mera condensação do Nada. Feito à fala da Presença, não era uma suposição
ou hipótese ou algo que o valha. Era uma afirmação. Nada há de novo sob o Sol.
A Presença então é a Partícula de
Deus. Tão igual e tão idêntica e tão diferente, que desconsidera o grau de
percepção que dela temos, para que exista. Permite que possamos fazer qualquer
coisa, qual uma extensão do que somos. Sem qualquer dificuldade, já que somos
de origem comum.
A Presença |
A Presença então é o nosso Anjo
da Guarda, que não é nosso em particular, posto que cada qual o temos, todos
idênticos, sem sexo e sem forma, como eu poeticamente tornei a minha,
nomeando-a Beatlis. Algum outro, poeticamente cismou de colocar-lhe um par de
asas. Pois que seja. É a Sabedoria a que se referia Salomão, anterior ao Homem
e ao mundo. É o Espírito Santo de Deus a que se referem os religiosos. A
fagulha de uma energia cósmica resultante do Big Bang, como o querem os
astrofísicos. Para mim fica sendo como que a partícula unitária de Deus,
presente em cada uma de todas as coisas, dando-lhes Vida. Positivamente não é
Aquele a quem se dirigem fiéis em toscas orações vazias, por vezes intermediada
por um desfilar enorme de santos. Isso não é Deus, é um clubinho.
Leonardo da Vinci pintou-a. Daí
aquele maldito sorriso que tão bem conheço, mas que desconcerta quem o vê. Ele
nominou-a Monalisa e o quadro apresenta também simbolicamente os dois níveis
possíveis. Os que têm e os que não tem conhecimento da Presença. Sempre
lembrando que conhecê-la não significa sabermos dela, nada mais do que a
Presença. Não nos é dado entendê-la, posto que somos criatura e ela faz parte
do Criador. Ela portanto nos extrapola. Assim como os níveis de conhecimento
nada tem a ver com o que usamos como “ser melhor”, “evoluir para”. Não. Há a
Sabedoria na Matemática. Há a Sabedoria na Harmonia Musical, muito embora nela
eu jamais tenha conseguido discernir. A Seqüência de Fibonaci, os
produtos notáveis da Matemática são apenas indícios, entroncamentos que levam a
ela, sem mostrá-la. Os meridianos de acupuntura são expressão da Presença nos
humanos. Por essa razão temos seres humanos que não são “perfeitos” no sentido
humano, como a Síndrome de Down e outras coisas, mas que tem um agudo senso
matemático, uma memória absurda. Ou seja, há a expressão da conexão direta com
a Presença, expressando-a, mesmo sem ter plenitude em outras funções. Mozart
ouvia aos cinco anos uma Sinfonia e chegava em casa e a reproduzia
completamente. Por vezes até corrigindo e acrescentando coisas. Portanto a
Presença não cria gênios, tais quais os conhecemos, conforme os vários nomes
citados. Pela razão que todos têm a Presença e não é ela quem os diferencia. O
mundo naquele momento é quem os possibilita gênios, fora do normal, fora do que
todos somos. Há Sabedoria, há a Presença na Natureza. Há a Presença na
agricultura desenvolvida pelo Homem, posto que intervem na Natureza tal qual é,
fazendo-a produzir e criar aquilo que lhe é conveniente. Há coisas que
conhecemos que são impossíveis de terem acontecido por evolução, por
conhecimento acumulado e etc. Então, há de ter ocorrido de um humano, há
milênios atrás, sabedor e consciente da Presença, ao se identificar com a
Presença existente naquele vegetal, recebeu dela a informação, a “inspiração”,
de que deveria agir de tal maneira para que obtivesse “x” resultado. Se não,
como explicar que se tem que espetar algo na transição entre a raiz e o caule
de uma planta para que ela produza tal fruto? Foi um feliz acaso ou um
sem-número de tentativa realizadas por um único indivíduo, devidamente
orientado pela Presença.Há, pois, a Presença na Natureza. O mesmo Da Vinci
afirmava aprender mais observando a Natureza do que um dia em uma biblioteca. A
Presença ensina, informa, expões, esclarece. Há a Presença, Sabedoria na
linguagem. No caso da linguagem humana por mais que tenhamos “n” idiomas e
dialetos, a raiz, a origem é a mesma. A presença da Presença, na configuração
da linguagem para a comunicação. Nos animais a linguagem é plena, sem
modificações ou “evolução”, tal qual encontramos nos humanos, com a sua teoria
da Matriz Indo-europeia para todas as línguas. Mas os animais, apesar de não
demonstrarem a capacidade ou a necessidade de modificar a sua própria
linguagem, conhecem a linguagem alheia. Não em seus meandros, mas como uma
linguagem alheia. Por essa razão, algumas vertentes religiosas utilizam a
expressão “falar na língua dos anjos”. Acaba sendo verdade, pois que é a origem
da origem, a Presença. Quando criança, ao ser alfabetizado, cerca de 7-8 anos,
passava horas no quintal da minha casa, com um giz roubado à escola
sorrateiramente a escrever palavras na cerca de madeira que havia. Não me
lembra as palavras, mas hoje sei que eram palavras criadas, inexistentes, ao
menos na língua portuguesa, a que mal conheço. No meu mundo e no mundo real.
Mas que devem fazer parte de algum idioma por esse mundo afora. Fazia aquilo
sob a influência de estar magnificado com a descoberta das palavras e de seu
significado. E ficava então a criar outras. A primeira linguagem por certo foi
concedido ao humano pela Presença. Ela não evolui, mas involui ao longo do
tempo, algo avesso ao uso, mas usual no comportamento humano, o emburrecer-se.
Enfim, a Presença é sempre a
mesma, já que representa a Sabedoria, que é a fagulha de Deus nas coisas. A
Partícula de Deus como querem agora. O oxigênio e todas as outras partículas
que existem, ao adentrar a um organismo, passam a conter a Inteligência da
Sabedoria e não são iguais aos que estão fora. Agem como que comandados agora,
subservientes a um Sistema que o dirige. Há uma mesma Presença, a Sabedoria
regendo todas as coisas. Apenas o que muda é a “configuração” que é dada. Ao
mapearem genomas diversos, concluíram que o genoma humano é 98% igual ao de um
vírus. Erraram. Depois perceberão que não são 98%, mas 100%. Apenas com uma
configuração diferente. Talvez até por essa razão, e dizendo-a real e
verdadeira, quando leem os meus escritos os tais me tacham “o chato”, que nunca
termina. Ou seja, eu, apesar de humano ajo, ao escrever, com a configuração de
um chato, para quem assim pensa. Assim como eu tacho de anta aqueles que acham
essas idéias uma pura viagem. Um humano que tomou contato com esses meus
escritos, mas não tem a condição mental de acompanhar a minha longa viagem, age
como uma anta. Somos cada qual como se fôssemos um elétron, com uma região de
orbital no qual estamos. Há uma única possibilidade de mudança de orbital e ele
é finito, mas a nós parecendo infinito, dado a diferença de dimensão entre nós
e eles. Elétrons são todos idênticos. Algo como a imensa geleira branca que enxergo
na visualização daquilo que chamei de alma humana. É o espaço orbital. Não se
vê o segundo estado, posto que não há dois, mas apenas um estado de ser, em um
ou outro. Não é um “espaço percorrido”. Há um estar. Quando hindus falavam
sobre o que existe ser uma mera condensação do Nada explicavam corretamente
aquilo que, depois de tanto tempo os nossos astrofísicos nominaram de “a
partícula de Deus”. Há maneiras de agregação e elas são finitas, assim como as
notas musicais entram em repetição, acima de determinada conformação. E essa
agregação do Nada em forma de matéria é que vai formar os componentes químicos
que conhecemos. Conformação essa que é única e que vai entrar em repetição. Por essa
razão existem mesmo os universos paralelos. Não como os quer o Homem, que
tenhamos uma réplica de um Luiz Gonzaga em outros universos. Não há. Isso é possível
mas improvável. Haja! Não há uma repetição, mas há infinitas repetições, posto
que um elétron tem o seu espaço orbital. Outro eletro, absolutamente igual tem
o seu espaço orbital absolutamente idêntico. Mas que não são o mesmo. O
conceito matemático de igualdade e identidade.
O grande erro que é cometido é
supor que a Presença atue no mundo fenomênico, criado. Não, não atua. A Presença é
personalíssima, fazendo com que sejamos cada um como que água, na forma de um
cubo de gelo. Uma conformação determinada que passou a existir. A morte
representando nada mais do que a desconformação, voltando a ser “água”. A água
toda é a Vida, a fagulha de Deus. A Vida não se extingue. No exemplo, a
Presença atuou como temperatura, agregando a água. Por essa razão o universo
criado pelos ditos “espíritas” nada mais é do que a tentativa de supor a
Presença como algo que existe e que “toma conta de um corpo” e depois de outros
e etc. Não. A Presença é a fagulha, a partícula de Deus. Não há matéria, não há
forma. Ela existe em mim e deixará de existir em mim. Nesse intervalo
existirá em mim a Vida, a configuração de um sistema que está em funcionamento,
representado pela Presença. A Presença é o “On” de que o sistema operacional
está em
funcionamento. Assim como a projeção de um filme em uma tela.
Não há vida na tela e nem no espaço em que a imagem é projetada. Ao deixar de
ser projetada deixa de existir, existindo apenas em uma película, a origem. A
vida então, como nada mais sendo que a expressão energética da fagulha, fagulha
essa absolutamente idêntica em tudo o que conhecemos. Manifestando-se
diferente, conforme uma “configuração”, que não me venha você perguntar como é
tão diferente e ampla. Não sei.
Não se pode querer fazer
equivaler o indivíduo e sua Presença com o mundo do Homem, o que o Homem criou,
chamando-a “sociedade”. Enveredando por esse equívoco é que o ser humano cria uma série de grupos, seitas, religiões, e etc, com a finalidade de tentar fazer com que aquele
certo indivíduo saia da condição de desconhecedor para conhecedor da Presença,
como nos dois únicos modos possíveis, retratado por Leonardo da Vinci,
simbolicamente de maneira tão brilhante. Essênios, templários e outros tantos grupos, até à atualidade seguiram e seguem pelo mesmo caminho, o de "despertar" para a Presença. O despertar é interior, não se apreende de fora. Há até, em certas épocas, a existência
de comuns e de nobres. Nobres sendo aqueles privilegiados que tem conhecimento
e noção da Presença. Não há essa diferenciação em níveis de “qualidade de ser”.
Há o conhecer e o não-conhecer. Assim como há o ligar e o desligar. Não há uma
evolução, um processo. Há uma condição de estado. Como já dito, aqueles nomes
citados são conhecidos como gênios, mas jamais pela atuação da sua Presença no
mundo. Uma vã tentativa, por erro na essência da coisa. Não há essa evolução.
Há a identificação da Presença. E não será por influência externa. Não é porque
eu estou aqui há séculos falando sobre a Presença que existe em mim e que por
certo existe em você, que você então dirá: “está bem, agora eu sei sobre a
Presença”. Não, não será assim. Ou você se aperceberá da Presença ou não. A
Presença não forma gênios. Todos a têm. Nesse exato instante, há milhares,
milhões no Planeta que têm consciência da Presença. E não são gênios. Mas a
consciência da Presença não atua nesse nosso mundo criado, não lhes concede
ascensão na hierarquia social, intelectual, nada, nada. Não há um Caminho, uma
escolha de um melhor Caminho. Há um único Caminho. Que não se ensina e que não
se aprende. Portanto, seitas inválidas. Inválidas em finalidade. Podem
existir quando quiserem, como um aglomerado de pessoas, com alguns convictos da
Presença, outros não, independente do que aprendam. A Sabedoria não é
acumulação de conhecimentos, mas mera percepção da existência da presença.
Outras tentativas há, quando
falam erradamente em “temor de Deus”. Que é facilmente entendido e distorcido
para o temor como estado de medo. Não. Temor é reverência, não é medo, temor,
receio. A reverência como quando utilizada como instantânea, naquele momento de
reverência. A Presença só se faz perceptível em estado contínuo de reverência.
Por isso ela é imperativa. Ela ignora completamente o meu querer e as minhas
razões. Eu devo aceitar ser ela para que ela se manifeste. Algo como quando
você instala um programa em seu computador na maneira “manual” e não aquela
determinada aprioristicamente por quem o elaborou. Você tem essa possibilidade.
Sabendo que esse sistema é falho e nada abrangente. O “arbítrio” humano é isso:
um desejo pedido de se tornar capaz de ser menos. Eu posso comandar. Mas vou me
tornar uma sequência interminável de erros, por vezes incorrigíveis. A Presença
exclui o meu arbítrio. Devo ser ela. Para tanto, em estado perene de reverência
e aceitação.
Há na Medicina demonstrações da
atuação da Presença na vida humana, de forma desconexa como resultado. Pessoas
que afirmam ouvir vozes e outras coisas do gênero. E elas ouvem mesmo. E é a
manifestação da Presença em suas vidas. Não há Haldol que resolva isso, por
mais que assim o queiram os psiquiatras e a Psiquiatria. O que ocorre é um
conflito de comandos entre os mandamentos, orientações e comandos sociais de
comportamento e ações com aquele “sistema Operacional” em funcionamento para
que a vida seja possível, cujo “ícone” é representado pela Presença. Certa vez,
eu tinha três computadores em
rede. Na central, coloquei o sistema em comando para
“desfragmentar” o disco rígido. Para que isso ocorra, faz-se imperativo que não
se utilizar o computador para mais nada. O que faz todo o sentido. Como se é
possível verificar e corrigir um Sistema quando em funcionamento? Não o é.
Faz-se então preciso que não esteja sendo utilizado. Pois bem, sabedor disso,
fui para um outro computador, para continuar a escrita desses meus escritos
viajantes. Quando retornava à central, o indicativo da desfragmentação acusava:
0%. Repetia a operação e ele começava a desfragmentar outra vez: 0... 1...
2%... E eu voltava para os meus escritos no outro computador. Lá pela décima
primeira vez que eu voltava e estava estancado em 0%, recebi uma bronca
terrível e para mim inimaginável do computador: “Por favor, decida de você quer efetuar a desfragmentação ou se
pretende utilizar o computador. Não é possível realizar simultaneamente as duas
tarefas”. Eu fiquei vermelho de
vergonha! Obviamente, terminei a desfragmentação. Pois muito bem: humanos estão
sob o comando da Natureza por meio da Presença. Os comando da vida em
sociedade, por muitas vezes iguais ou semelhantes aos comandos da Natureza, em
outras conflitam com eles. A pessoa está sob comandos então distintos. Sob o
comando social ela é frágil, pois desconhece ou não tem poder sob os comandos,
por insuficiência, econômica, social, intelectual e etc. Por outro lado, pelas
mesmas insuficiências, se ela desconhecer também e simultaneamente o sistema
operacional dessa fagulha de Deus, cujo ícone é a Presença o veículo, que é o
seu corpo, vai entrar em conflito e, analogamente aos computadores, vai travar.
E é nesse ponto que os queridos psiquiatras vêm com os seus Haldol, Fluoxetina,
Carbamazepina, Lítio e tudo o mais. Não.
Talvez então esses escritos tenham alguma utilidade. Quando eu digo que
a Presença fala, tem voz, expressão enigmática e etc estou utilizando uma
analogia com o nosso mundo fenomênico, onde há voz, expressão, etc. Tenho plena
consciência de que não ouço vozes. Mas eu ouço a voz da Presença. Porque tenho
consciência da existência dela, como algo paralelo às coisas do mundo criado
pelo ser humano. Inclusive que são comandos distintos, que podem, eventualmente
ser conflitantes. Por muitas vezes o são. E eu domino isso. Porque domino. Por
alguma razão que desconheço, sei da Presença em minha existência. Como já dito
fartamente, essa consciência de sua existência independente de qualquer
cultura, conhecimento ou evolução. Existe, simplesmente. Por essa razão, essas pessoas
ditas “doentes mentais” que ouvem vozes e tudo o mais nada têm de doença: tem
de desconhecimento da Presença. Ou do conflito dos comandos. E entrarão em
conflito real, somaticamente. Talvez lhes faça bem não tomar Haldol, mas ler
essas minhas sangradas escrituras.
Essa convincente explicação me
permite descansar em paz.
11.07.2012
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