quarta-feira, abril 09, 2008

O Batizado na Sé e o espírito franciscano

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim, em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive
Fernando Pessoa
Mesmo com as veladas ameaças contra sua realização, eis que se faz o Batizado da Sé, dos Calouros-2008.

Cada turma parece que se personaliza por um “grito de guerra”. A desse ano, um poderoso chamado: “181, não é pra qualquer um!”. Muito embora com uma paupérrima rima, que de tão ruim nem rima é. A graça ficou então por conta disso. Mas é poderoso mesmo o chamado.

Tão poderoso, a ponto de conduzir a algumas divagações, indagações e constatações. O Batizado tem o incrível condão de transformar um simples aluno da Faculdade de Direito num espírito franciscano das Arcadas. E essa abismal diferença é visível, não aos olhos.

Estamos tão juridicamente envolvidos com esses assuntos de DNA, genoma, começo da vida, fecundação, que poder-se-ia aqui arriscar um longo e sinuoso caminho para melhor entender a maneira pela qual a grandeza das Arcadas impressionará ou não o franciscano com a sua grandeza.

Fica óbvio que a grandeza que o espírito franciscano traz não é a mesma grandeza das Arcadas. Algo como que potencial, germinal. Havendo a feliz fecundação do espírito contido no aluno com aquele das Arcadas, decorre daí um desenvolvimento, gestação essa de cinco maravilhosos e incomparáveis anos, o exercício diuturno do espírito. Se tudo der certo e nada der errado, brotar-lhe-á no peito uma nova alma, alma franciscana. Que o acompanhará pelo resto da existência. E será essa nova alma que terá então a grandeza das Arcadas.

Diante dessa analogia imbecil e verdadeira, a pergunta é: estaria então o franciscano grávido dele mesmo? E a resposta imbecil para essa pergunta é positiva. Sim. As meninas, por favor, omitam essa verdade em casa. Porém não um clone, mas maior, tal e qual as Arcadas. Que não tem a sua grandeza em si própria, mas decorre da grandeza dos seus alunos que se tornaram grandes.

Eis a analogia. Se você a captou direitinho, peço o favor: explique-ma melhor, que ainda não a captei inteira.

E então, no devaneio já dito, ficamos observando franciscanos. Alguns querem achar a grandeza numa Faculdade que ensina um bom Direito. Errado. A “Faculdade” é apenas um detalhe dessas Arcadas. Os nossos melhores professores encontram-se no Pátio, matando aulas. Outros a achar que o ótimo é que possibilita um bom estágio e depois um bom emprego. Errado. Hoje, você pode ser analfabeto e conseguir um bom emprego até no Palácio do Planalto, com direito à Cartão de Crédito e tudo o mais. Basta formar uma boa quadrilha. Outros ainda a achar um lugar legal, cujos alunos só pensam e fazem festas, umas atrás das outras. Errado. As gestões do XI são tão ruins que nas festas falta cerveja, ou ela já vem quente ou dá diarréia. Há os saudosistas, que acham que a vivência das Arcadas lhes renderá boas memórias. Errado. A melhor das vivências de nada você lembrará dela, a Peruada. Há ainda outros, para nossa felicidade pouquíssimos, que acham grandeza o sentar-se no Porão para beber, fazendo disso a sua atuação única. Errado. Mesa de bar a gente encontra em qualquer bar. E com cerveja mais barata que a cobrada pelo alemão.

O que não há em nenhum outro lugar do Universo são as Arcadas e esse espírito franciscano, num convívio que o torna ímpar. Afirmando isso, a quantidade de grandes que assim se tornaram após convívio nas Arcadas, sem ao menos aluno dela ser. Nomes assim não faltam em nossa História.
A grandeza não está numa parte de um todo. Para ser grande, sê inteiro. Viver a plenitude das Arcadas é viver o todo das Arcadas.

Esse todo processo criará então em sua maioria, bons franciscanos, aptos a externarem a sua grandeza para fora dos muros dessas Arcadas. Lá é que se mostrará a sua grandeza. Não aqui. Nesse Pátio, somos apenas projetos de gente em formação, qual um embrião num útero. Por essa razão fica engraçado quando um tímido chute, demonstrando o sucesso no desenvolvimento, dá ao franciscano considerar-se no direito de já se achar feito. E sai falando verdades por essas sacrossantas Arcadas. Engraçado. Mas nada mais é do que a ansiedade por mostrar-se grande. Isso não é uma anomalia, mas um bom prenúncio.

É certo também que nem sempre a gestação sai a contento. Observamos alguns com cromossomas deletérios, propiciando a criação de débeis mentais e fora-da-realidade. Sem nem a si próprio terem conseguido formado corretamente, acreditam que podem mostrar ao mundo como é o mundo ideal. Pegam as suas bandeiras vermelhas e saem por ai gritando palavras de ordem. Pior de tudo: por saberem-se rejeitados, posto que mal-formados, querem infestar esse nosso Pátio com alienígenas invasores. Anualmente eles mudam de nome, mas a idéia é sempre a mesma: querem estar no XI, para mostrar aos seus amigos que franciscano é mesmo débil mental. Errado. Eles o são. Graças ao bom Deus, Forum embora pra nunca mais voltar.
Numa gestação é amplamente conhecido que drogas causam mal-formações. Formam-se anencéfalos, a alardearem coisas desconexas, como se fossem engraçadas. Esporadicamente, republicam um único exemplar de jornal que conseguiram criar, sempre com a ajuda de XI para compor uma única frase. Pior fica quando tal frase é uma tese racista ridícula, uma brincadeira de mau-gosto como todas as demais, tipificada como crime constitucional. Daí quem nos invade as Arcadas é o Ministério Público e tal. Coisa horrível isso. Para o bem de todos e felicidade geral das Arcadas, tal excrescência somam um máximo de meia dúzia de mal-formados, a escória. Decorrente da falta de cérebros por ação de drogas, acomete-lhes também uma Demência Precoce, vivendo de um suposto passado de glórias. Por isso a singela denominação, Exglória.
Há também aqueles que, Freud explica, para se fazerem aceitos, adoram agradar a todos. Para isso não tem uma idéia, tem logo mil. Uma há de agradar, pelo amor de Deus. E assim, assumem o XI. Mas a marca registrada fica. Querem sempre resgatar o que não são, resgatar a História que desconhecem, resgatar o grande espírito que fracamente lhes habita. É um caso típico de subnutrição do espírito e sua consequente superficalidade e fragilidade. Parecem o Garçon no dia do Pindura, com um eterno sorriso no rosto, do tipo “vota em mim, que eu sou legal”. De uma idéia boa, conseguem uma realização medíocre, pífia. São engraçados e inofensivos. Exceto quando, para eternamente querer agradar, roubam idéias alheias, fazendo parecer aos demais que têm idéias geniais. Já apresentaram maquete do Campo do XI parecendo o Morumbi, já fizeram Congresso que cabia ao DJ. O Diabo, viu, esse Resgate!
Há os que, aqui nem Freud explica, vêem em tudo isso um mero exercício de umbiguismo, que as Arcadas não são nada disso, que é fama de um passado morto, que é um bando de arrogantes e tal. Mas saem correndo para os seus nichos de origem, a se vangloriar humildemente de ser franciscano. Qual crianças que não conseguiram auditório em casa, talvez por concorrência de irmãos mais graciosos, procuram a casa do vizinho para aparecer. De preferência a de um casal sem filhos. E sempre anunciando solenemente ser um franciscano. Há até caso o caso de um que, num sexo casual, não diz à parceira nem mesmo seu nome. Mas segreda que é franciscano. Pode isso ?
Essa maravilhosa diversidade a torna inigualável. Um universo à parte, um diamante com 2299 facetas e uma exclusivamente pra você mostrar o seu brilho. Ou não. Um baú com um tesouro, cuja chave é o espírito franciscano. Você pode usá-lo como a um banquinho, para alardear hipócritas idéias de igualdade entre seres humanos; para implorar um bom emprego; para sentar-se nele e lamentar. Ou simplesmente abri-lo e tornar-se imensamente rico: a grandeza das Arcadas. Só o que não há é uma mão que vá guiá-lo. Esqueça. Se esperava isso, colherá a frustração. Em uma escola de liderança não cabe a pergunta: “o que é que eu devo fazer agora?”

Bem na entrada das Arcadas deveria haver um espelho, com os dizeres embaixo: “aqui, toda a grandeza franciscana”. Ali você enxergará muito mais do que aqui vai escrito. Ou poderá não gostar do que está vendo. São seus os olhos. Mas a imagem também.
Apesar de toda a grandiloquência, ter o espírito franciscano nada mais é do que vestir a camisa da Sanfran. Literalmente, como o fazem nossos atletas.( Nesse ano, com uma pequena falha, ainda não anunciaram a presença da Sanfran nos JJEs, mas apenas a da usp.) Como agora, tendo que ir até Franca, só prá buscar o caneco do Deca-campeonato. Trabalheira, viu ! Nas eleições para o XI vou propor um Jurídicos delivery ! Assim não temos que ficar todos os anos viajando por esse São Paulo, só prá buscar as Taças. Assim: por gentileza, entregar no Largo de São Francisco, 95. Que tal ? Aos que não desenvolveram dotes físicos, defender simbolicamente a camisa da Sanfran nesse nosso mundo social, em quaisquer que sejam os seus amplos aspectos, como sendo a sua própria pele. Porque, em você não fazendo isso, azar o seu! Eles vão esperar de você a grandeza das Arcadas, querendo você ou não. Simples assim, o espírito.
O início dessa Mágica e Misteriosa viagem: o Batizado na Sé. O espírito franciscano? Não é prá qualquer um! Como no início, a frase, mola propulsora de todas essas divagações: “181, não é prá qualquer um!”. Quando uma turma inteira declara isso, em uníssono, já parece um excelente começo. A marca molhada de pés descalços nesse Pátio das Arcadas anualmente, revigora nos já batizados, acima de tudo, a vitalidade desse velho e sempre novo espírito franciscano.

Luiz Gonzaga _____________________________________ Arcadas, XI de abril, CLXXXI

Um comentário:

pedro muller disse...

"Mesmo com as veladas ameaças contra sua realização"

Por que não queriam o banho da sé antes dele ser realizado, se a merda e a sindicância aconteceram depois?



Pedro