segunda-feira, setembro 01, 2008

O que eu faria com seis milhões de reais?

Para os mais apressadinhos, já respondo imediatamente: o XI deve comprar TUDO em ações inalienáveis. A idéia não é só minha e é antiga. Vem lá de 1911, quando fizeram isso pela primeira vez. Pronto, está dito.
Daqui pra frente, vou brincar de adevogado: vou defender essa idéia.

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A quantia pertence ao Centro Acadêmico “XI de Agosto”, com os seus cento e seis anos. E que terá outros tantos. Esse é o motivo dessas palavras, que pretenderá fazer uma pequena viagem pelo mundo da Economia, das Finanças, do mundo do dinheiro e da nossa grotesca ignorância como povo brasileiro.

A discussão tem sido feita por alunos, como é óbvio. A ampla maioria tem cerca de 20 anos e, apenas um fato, sem qualquer ofensa, mal sabem gerir a própria mesada. Jamais citei a minha “suposta experiência”, mas nesse caso penso que ela pode ser de alguma valia.
Por certo aparecerão montes de sagazes interessados em dar “um melhor destino” ao valor. Ressalvo que o “melhor” é o melhor pra eles”. Devemos ser muito cautelosos com a ajuda que estão nos querendo oferecer.

Por essa razão escrevo aqui. Não falarei em uma Assembléia, com 30 segundos de tempo. Porém, gostaria da sua atenção para os pontos que pretendo ressaltar. Visam a colaborar com o debate acerca das idéias e sugestões.
Não tenho em absoluto nenhum interesse outro, a não ser o de aluno, que quer ver o XI continuar a ser dono desse patrimônio por mais cem anos.

I – Caso o juiz tivesse julgado de ofício, bloquearia a quantia, assim como todo o restante é bloqueado, inalienável. É óbvio que não foi o caso, mas o espírito deveria ser o mesmo. Afinal, o acessório faz parte do principal, como reza o bom Direito.
E aqui fica a sugestão: por ser um montante decorrente de propriedade inicial em Ações, nada mais óbvio e ululante que deveria ser integralmente revertido em Ações.

I I – A primeira contestação: o mercado acionário é um mercado de risco !
Já imaginou se aqueles franciscanos do começo do século XX tivessem raciocinado assim, como o XI teria sobrevivido durante esses 105 anos ? Ainda mais mal-criando franciscanos, que vêem no XI um pai rico. Querem tudo de graça, o XI tem que fazer benemerência, ajudar os menos favorecidos, cumprir uma função social, defender a Democracia e outros argumentos mais. À custa do quê? Ações. Por isso o XI deve reverter toda a verba recebida em ações. E sobreviver com dividendos e rendimentos. Não se fala aqui em especulação, valor das ações etc. Compra-se e esquece-se. Assim como o fizeram os doadores das ações, há 105 anos. E, claro, inalienáveis, como da primeira vez.

I I I – Vamos ver a origem disso dessa expressão aterrorizante, “mercado de risco”.
O Mercado de Ações é típico de países capitalistas. Hoje não se pode mais fugir dessa realidade. Iniciou-se no Brasil ainda no século XIX por puro modismo brasileiro. Macaquices, como dizem os argentinos. Onde já se viu não termos também uma Bolsa de Valores ? Criou-se uma, então. Um país subdesenvolvido, em pleno feudalismo, latifúndio de monocultura de exportação.Mercantilismo ? Zero indústrias. Mas com uma Bolsa de Valores. Ora, pois.

I V – Tinha que ter, mas não podia funcionar bem. Então, disseminou-se a expressão: “mercado de risco”. Para que ficasse um nicho restrito a uns poucos, como sempre. E o bom brasileiro, dentro da sua peculiar ignorância engoliu mais essa. Não disseram risco do quê. É “risco de ganhar”. O que não acontece com a nossa famigerada “caderneta de poupança” e seus congêneres, “renda fixa” e outros. O depositante tem a segurança... de que nada vai ganhar, exceto correção. Deixa o “risco de ganhar” para os senhores banqueiros, que fazem muito bem o seu papel. Enrolando os desavisados, pega os seus 6 milhões e faz o quê? Paga-lhe 1% e aplica tudo na Bolsa. E ganha vinte, trinta, quarenta por cento. E têm lucros de vários bilhões ao ano.

Lá pela década de 30-40 do século passado, conseguiram fazer com que o brasileiro entendesse “fazer poupança’, com “caderneta de poupança”. E lhes paga a beleza de seis por cento ao ano. Outro exemplo que nada tem a ver com esse assunto, mas demonstra cabalmente como usam da ignorância do brasileiro para que ele viva eternamente esmolando: o FGTS paga o absurdo de três por cento ao ano! Sabe lá o que é isso? Sim. E isso ocorre há 40 anos. E eles continuam vendendo a idéia de que isso é um excelente negócio. Só não esclarecem para quem. Para eles, lógico.

V – O capital do XI foi doação de ações de alunos. Uma boa ação, digamos. Modelo aliás que poderíamos reintroduzir agora. Alunos doando ações para o XI. Acho uma excelente idéia.

Para aqueles que ainda insistem no “mercado de risco”, lembro que a Humanidade já passou por duas guerras mundiais, o Crack da Bolsa de NY, n crises localizadas e mundiais, algumas dezenas de guerras “particulares”, o Brasil já mudou várias vezes de moeda, desvalorizou zilhões por cento a cada mudança. E mesmo assim, o XI acaba de receber uma pequena verba, decorrente de atualizações do capital inicial, lá de cem anos atrás. Sempre lembrando que, no entremeio, viveu 105 anos bancando franciscanos, suas festas, seus ideais e devaneios. Que risco bendito é esse ? Santo risco!

V I – Toda a defesa dessa teoria, tendo-se como pano de fundo um Brasil-colônia, ora de um ora de outro país. Que dizer de um mundo agora sem fronteiras, a dita globalização? O País agora tem que se desenvolver e crescer, mesmo que não queira, mesmo que o seu povo seja ignorante, mesmo que os imortais coronéis tão atuantes assim não o queiram. Estamos tendo prova inconteste disso.

O País cresce, a despeito de ter um bando de democráticos ladrões no seu gerenciamento. Estava tentado a dizer “incompetentes”, mas não é verdade. São altamente competentes. No enriquecimento ilícito, espoliando o Estado. E, apesar deles, o País cresce. Porque assim o mundo o exige. Cresce 4%, a China XI%, mas tudo bem. Se não tivéssemos analfabetos no Poder, seria mais. Mas estamos finalmente entrando na Era da Revolução Industrial. Ufa !

V I I I – E a Bolsa de Valores é característica do Capitalismo que estamos timidamente entrando agora. Um pouco retardados, é certo. Mas, finalmente. E, segurem-se os comunistas de plantão, mas Adam Smith já apregoava que o mercado tem mesmo uma mão invisível que auto-corrige o sistema. E, ao longo de todo esse tempo, criaram-se mecanismos para proteger o termômetro do Capitalismo: a Bolsa de Valores. Melhor prova disso não há: o XI está, em 2008, recebendo valores corrigindo um capital aplicado em 1920. Ou seja, todo o ordenamento jurídico de um País protegendo o capital investido em Bolsa. Isso é risco de ter segurança. Qualquer depósito em Banco, o Sistema apenas protege até 200 mil (cerca de). O resto é risco. E esse é risco de perder.

I X – Existe um comparativo que é feito. A nossa Bolsa de Valores foi regulamentada em 1965. Se naquela data um cidadão tivesse comprado uma casa e outro tivesse aplicado igual valor em ações, hoje um teria uma casa velha, caindo aos pedaços. O outro teria, em dinheiro vivo e disponível, o equivalente a quarenta casas novas, idênticas àquela de 40 anos atrás. Isso ele tendo reaplicado os juros e dividendos das ações. Não se está falando apenas do Capital, que oscila diariamente. É um ótimo exemplo.

X – Já foi aventada a criação de um Fundo de Investimentos. É outra falácia. Pode até ser um recurso para quem tem 10 mil pra aplicar e então não dá pra aplicar sozinho. Tem que se juntar a outros, pra formar um bom capital. Os gestores do Fundo têm lá os seus acertos para comprar essa ou aquela ação. No interesse deles. Se perder, eles pedem “desculpas”. Se ganharmos, eles ganham a maior parte. O risco fica por conta do XI. Sou mais simplista. O XI deve adquirir todo o montante em ações da Petrobrás. Vai pagar 0,5% de corretagem e ponto final. Claro, vai esquecer na Custódia essas ações, para sempre. Mas receberá semestralmente , juros e dividendos do Capital. E, com esse dinheiro, poderá então fazer a sua redistribuição de verbas para as Instituições e etc. Mas nada de ficar sustentando um “Fundo Gestor”, durante cem anos. Sugiro até que, junto com a compra alienada crie-se um a cláusula de revisão: a cada XI anos os alunos da época decidirão então o que fazer.

XI – ouve-se pra lá e pra cá, as Instituições todas das Arcadas se armando de argumentos convincentes pra receber mais verbas. Tudo por causa dos seis milhões. Até considero que seja importante rever a distribuição. Mas esse deve ser um assunto à parte. O investimento do montante é um assunto isolado.
Nem quero também, não tenho essa pretensão, que simplesmente aceitem o que estou aqui tentando dizer. Apenas que os alunos decidam por trazer para a Sala dos Estudantes especialistas no assunto “mercado financeiro”, nas suas mais diversas modalidades. Ouçam e analisem o que eles tenham a dizer. Não números futuros, imaginários. Mas, principalmente, sobre números passados. E então possam tomar a decisão de fazer a única coisa plausível, devido ao montante: a compra de ações.

Luiz Gonzaga Arcadas, XI de setembro, CLXXXI

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