domingo, abril 01, 2012

A minha conversão socialista

É incrível o poder que um livro tem de mudar a vida de um cidadão! Após ler tantos e tantos livros por essa vida afora, por mera curiosidade, decidi ler O Capital. Karl Marx, até então, para mim, o Mestre dos comedores de criancinhas. 

Feito a Saulo em seu caminho para Damasco, eis que vislumbro uma Luz ofuscante que me diz: por que me persegues? Mas, mutatis mutandis, não vi um jovem cabeludo hippie, mas um sorridente senhor careca. Isso mostra claramente como me afastei dessa obsoleta moral judaico-cristã. Agora sou Paulo! 

Devidamente filiado a um partido político que defende a grande causa dos fracos e oprimidos, fiz mais. Cumpri a promessa de ir de joelhos até Aparecida do Norte pela milagrosa cura do nosso Lula! Ia me desfazer de todas as joias que mantenho em casa, incluindo o meu tão querido Rolex. Mas, por via das dúvidas, ao invés de vendê-los e distribuir o dinheiro entre os pobres, resolvi penhorar tudo na Caixa Econômica. Com uma pequena parte, bem pequena mesmo, comprei um carrinho 1.0. De hoje em diante, nada de sair por ai com a minha Mercedes SLS 550 conversível. Apenas com um carrinho popular. Para as reuniões de fim-de-semana realizadas pelos companheiros do partido, para analisar mais a fundo os ensinamentos do nosso amado Mestre.

Nunca me apeguei em ter as coisas de memória, já que posso tê-las arquivado em algum lugar. Por isso, estou tendo certa dificuldade em assumir um novo vocabulário. Mas isso passa com o tempo. As técnicas utilizadas pelos nossos experimentados orientadores são infalíveis. Dentro de pouquíssimo tempo vou estar falando no tempo verbal certo. Eu e nossos companheiros vamos então estar podendo defender a Causa. Os pobres, em sua pobreza, são muito ricos em coisas que preciso aprender. É um pouco difícil, por ser algo teórico, já que não se deve aproximar deles, apenas usá-los como temas em nossas reuniões. 

Mas, juro mesmo, comecei a vislumbrar um mundo maravilhoso, sem Capitalismo, governado pelo povo, com todos tendo os mesmos direitos. Sem obrigações. Ah, é muito excelente! Como será bom viver em um mundo em que todos serão iguais. Claro que, fazendo parte da liderança intelectual do movimento, serei mais igual que os outros. Não posso perder meu tempo em trabalhar, já que há muitas reuniões, mas um bom salário eles vão me conseguir no Congresso. Sem aquela burocracia tosca de ter que prestar concurso, ter ir lá todos os dias. Nada disso. tudo ágil, desburocratizado e rentável como deve ser esse nosso Admirável Mundo Novo.  

Assim que conseguir assimilar melhor alguns conceitos, volto a escrever aqui para você. Quem sabe consigo levá-lo para conhecer melhor nossas ideias e ideais. Por exemplo, ainda não consegui conciliar a ideia de representação do povo, como maioria e passar a defender as minorias. Minoria por minoria deveria então defender os ricos. Isso é minoria de verdade. Mas, defendendo minorias, como posso ser o defensor dos ignorantes, que são a maioria? É preciso defender o Direito, mas desvinculá-lo desse conceito banal e capitalista de Honestidade. Ah, peraí que acho que já tô começando a entender a coisa...

São Paulo, primeiro de abril, desse último ano de 2012.

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