“Pós-pronunciamento da Presidente eleita:
Meu primeiro ato como Presidente da República é pedir um favor
ao povo brasileiro: gostaria de ser chamada Presidenta.
A língua portuguesa não contempla a função com o feminino, o que
já tem uma representação simbólica importante do domínio masculino para o cargo.
A nossa eleição engrandece ainda mais a conquista feminina na vida nacional. Não
pretendo aqui praticar, portanto, o terrorismo com o idioma, a despeito de competência
comprovada na área, criando um neologismo, em causa própria. A homenagem será a
todas as mulheres. Nem pretendo impor um erro crasso por meio de decreto, muito
embora meu partido seja exímio praticante do autoritarismo com máscara de
democracia. Consciente que não sou dona do cargo e nem do País como um todo.
Sei também que fui um poste eleito pelo meu antecessor, para permanecer no
Planalto por um período de quatro anos e que depois terei que deixá-lo, sem
levar nada, nem um crucifixo, nada. Nem mesmo aquelas metralhadoras do Exército
que conheci lá e que eu gosto tanto e de que tenho tão ternas recordações.
É nessa condição que faço o pedido. Se o
povo brasileiro entender o meu pedido e quiser me chamar de Presidenta, em nome
do todo exposto, agradecerei. E se assim for, passarei então, somente após essa
aceitação explícita e com o aval do povo que represento, a referir-me a mim em
todos os documentos oficiais, como Presidenta. Se o povo assim não quiser,
respeitarei a sua vontade, assim como respeitarei os limites do meu cargo e
também do nosso idioma. Obrigada!”
Tivesse
sido esse o discurso da Presidente, ou algo que o valha, seria eu o primeiro, acompanhado
de milhões de brasileiros a acatarem o pedido da Rainha. Que mal teria, em nome
do grande feito? Nenhum, ora bolas! Crie-se então o neologismo provisório:
habemus Presidenta! E Camões repousaria em paz.
Mas
não: “eles” têm por hábito o feito autoritário. Governam e legislam praticando
atos de terrorismo, até mesmo contra a inofensiva última flor do Lácio. Uma
mudança na Língua Portuguesa proposta por Lei. Existe isso? Para o PT existe. Só
faltava mesmo era ser uma Emenda Constitucional. Além do absurdo linguístico,
ficamos ainda com o absurdo jurídico: uma Lei com poderes retroativos. Existe
isso? Claro, para o petismo existe, posto crerem que não foram eleitos, mas
tomaram de assalto o Poder como algo próprio.
Com
a aprovação da Lei, tenho que providenciar algo que me é muito particular, mas
que aqui acabo por ter que declarar. Acontece que o orgulho da minha família
quatrocentona é o diploma de Técnico em Artes Diversas,
obtido pela bisavó da minha bisavó, lá pelos idos de 1800. Pretendo, munido do
texto da presente Lei, buscar o local onde foi emitido o tal diploma, que não
sei se passa a se chamar diplomo, quando for para homem, para que haja essa
clamorosa manifestação contra o sexismo na linguagem: a bisavó da minha bisavó
era uma Técnica. E não um técnico, como lá consta. Daí está promovido o imbróglio: cadê a tal Escola? Como posso
providenciar a modificação para “Técnica em Artes Diversas”? A quem devo responsabilizar isso? Ao
bisavô do bisavô do dono atual da tal escola? E no caso do diplomado ter uma
opção sexual grotescamente diferente daquela que a Santa Mãe Natureza lhe outorgou,
qual gênero devemos escolher? E se o bisneto do bisneto, dono da escola na
atualidade não cumprir a famigerada Lei? Qual será a sanção? Será ela penal ou
civil?
Não
por acaso que leis nunca podem ser retroativas. Mas o séquito de bajuladores
busca sempre obtusamente apoiar incondicionalmente as barbáries cometidas pelos seus
ditadores de plantão, com justificativas injustificáveis. Apelam sempre à
famigerada obediência ao Estado de Direito, obediência essa que será cobrada
quando da edição de leis esdrúxulas e absurdas, sempre em benefício próprio.
Já
o Monteiro Lobato, com dons proféticos admiráveis, além da previsão de um negro
para a Presidência dos EUA, também já matutava tormentas semelhantes às minhas,
com a sua personagem que nasceu por um erro de colocação de pronome. Mesmo ele,
magistral em sua ficção não conseguiu prever que entraríamos o Brasil em uma Era Mintológica,
cujo Rei nunca sabe de nada do seu reino de barbaridades e, a despeito disso,
cria uma comissão (o “quanto” de comissão ainda a ser determinado) para buscar
a Verdade, que é obviamente diferente do seu modo de fazer as coisas. Por ter aplicado um receita com todos os componentes do populismo, tornou-se a voz inquestionável desse nosso paisinho inominável. Conseguiu até mesmo, com o aparato do dinheiro estatal, que deveria ser nosso, eleger um poste. Ou, como ela quer agora, uma Posta.
Sendo
assim, dona Presidenta, a sua assistenta pode deixar de ser estudanta da matéria
e mandar um relatório, ou uma relatória, já que relata sandices femininas,
explicando que nunca houve sexismo em linguagem ,exceto é claro ao sexo oral. Havia
e há uma determinada e infensa convenção, há séculos e séculos, amém. Mas que
agora há sim, não só um sexismo, mas verdadeira sodomia com o idioma, cuja violência
aplicada faz presumir, conforme o nosso Código Penal ter havido um hediondo
crime denominado estupro. E, como também prevê tal estamento, torna-se lícito
abortar a tal lei 12.605, verdadeira anencefalia cultural e jurídica. Que foi
editada em 3 de abril, mas certamente caberia ter sido editada no dia Primeiro
de Abril. Aí sim, todos riríamos da brincadeira.
2 comentários:
"Sandices femininas" não! SANDICES FEMINISTAS!
Essa mulher é uma vergonha. Só perde pro "antO" (não é pra flexionar tudo, agora?) do eleito anterior... Honoris causa em causar bobagens.
O POEMA DE CÂNDIDO DE FIGUEIREDO
Z, 1457
zabaneira
zabelé
zabra
zabucajo
zabumba
zaburro
zaco
…
Cunhambebe
Chamem o Oswald!
"Sandices femininas", não! Sandices FEMINISTAS!
Só perde pro "antO" (não é pra flexionar?) que a precedeu. Doutor honoris causa por causar absurdos.
O POEMA DE CÂNDIDO DE FIGUEIREDO
Z, 1457
zabaneira
zabelé
zabra
zabucajo
zabumba
zaburro
zaco
…
Cunhambebe
Chamem o Oswald!
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