terça-feira, agosto 28, 2007

Território Livre - a invasão na História e o presente

Para se entender o Presente, faz-se necessário conhecer o Passado. Como presentemente muito se fala sobre o sua função e qual a extensão Território Livre do Largo de São Francisco não custa fazer aqui uma Mágica e Misteriosa Viagem, para conhecê-lo e desvendá-lo, para que seja usado adequadamente e evocado com pertinência.

Nesses tempos em que as palavras são usadas e distorcidas ao bel-prazer de quem as ouve fica importante saber que esse Território Livre, por ser livre para manifestação de idéias, não significa ser res nullius.

A riquíssima História das Arcadas da Academia de Direito do Largo de São Francisco é pontuada de fatos que, por vezes nem fazem sentido e por outras afirmam a sua grandiosidade. A começar pela sua própria criação, em uma cidade absolutamente inexpressiva à época. “Não se poderia vislumbrar nada de bom que saísse de São Paulo”, era o pensamento corrente, contrário a sua criação por essas “terras frias e gente que fala de maneira esquisita”.

Tendo sido a sua criação feita por Decreto Imperial, a área física da Faculdade era território Imperial. Não havia competência do “Governador da Província” para quaisquer assuntos, para atuar sobre ela, ligada que era, diretamente ao Imperador.

Nem mesmo as investidas da Igreja Católica, inconformada com a expropriação do espaço podiam atingir a Academia. Ranço esse permanente, até os dias de hoje e evidenciado quando da morte de Julius Frank. Principiava ali o germe do que seria o Território Livre: se todo o imenso Brasil se curvava ao poderio da “Santa Sé”, o corpo e as idéias do grande Mestre ficaria mesmo nas Arcadas.

As idéias republicanas disseminadas entre os alunos e a ferrenha oposição de Líbero Badaró fizeram com que o Imperador mandasse calar aquela voz. Calou a voz, mas não as idéias: a partir de então, passou a Academia a receber alunos, cujas manifestações passariam a delinear o contorno ideológico deste território geográfico, constitucionalmente livre, incrustado na ainda incipiente São Paulo. Os nomes, todos aqueles que a gente proclama nos Pinduras, desnecessário aqui enumerá-los, muito embora o orgulho deles no incite a fazê-lo.

A história pessoal, as idéias e a atuação que cada aluno iria escrever ao longo de suas vidas, pontuaria o tracejado que forma o delineamento desse Território Livre, no seio das Arcadas. Porém, nunca se foi necessário recorrer ao “argumento de autoridade” de que os atos e idéias partiam dele, para que se fizessem ouvir, posto que ele continuava a ser inquestionavelmente livre.

Com o advento da República, a Academia de Direito continua a ser um território Federal. Portanto livre, dentro da esfera de ação poder Estadual. Há que se lembrar aqui, por ser um relato histórico que, até à gestão do presidente Washington Luís, a Presidência da República mantinha um telégrafo e um telefone ligados diretamente ao Centro Acadêmico “XI de Agosto”.

Foi apenas em 1932, quando da Revolução Constitucionalista que os alunos declararam oficialmente as Arcadas e o Largo como um Território Livre. Agora geográfico e ideológico. E foi aqui mesmo que, além de abrigar a iniciativa das idéias e liderança, esse nosso Pátio recebia a adesão de paulistanos, na guerra contra as manobras do então presidente, Getúlio Vargas. Era o Território Livre cumprindo a sua real função, não sendo de apenas alunos, mas compartilhando com eles os seus ideários. A Liderança sempre caracterizou as Arcadas e os seus alunos. Há no Pátio o Monumento em homenagem aos mortos na causa da defesa, tanto das Arcadas quanto de São Paulo. Porém, para atuar no Largo e nas Arcadas, apenas a força Militar Federal teria competência. Os interventores governantes em São Paulo não tinham competência para entrar , tornando amarradas as mãos da Presidência para combater os opositores.

A forte oposição àquele Presidente, tornado ditador, era congregada nas Arcadas. Ele então arquitetou o plano mais diabólico que se tem notícia na História do Brasil: manipulando os anseios naturais do povo de São Paulo, tentando também arrefecer os ânimos e a oposição ao seu governo, criou e presenteou o Estado com uma Universidade. Agraciando às Arcadas com o posto de primeiro Reitor daquela Universidade, a ser ocupado por um aluno, tornou a São Francisco uma unidade dela. Era o absurdo do “criador tornado criatura”.

Permanece e permanecerá para sempre o Território Livre ideológico, pois que não foi o território geográfico que tornou grande as Arcadas. Ela continua a abrigar a inigualável efervescência cultural dos alunos, permanecendo autônoma ideologicamente, recusando-se, como num retrocesso, a estagnar como simples “criatura”.

Essa, a História. Aos aficcionados em datas e nomes, reportem-se à historiografia. Aqui, apenas uma crônica.

XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI*XI

Posto isso, chegamos ao Presente.

Após um breve interregno de apatia e desencanto, as Arcadas despertam. A quase totalidade de alunos se insurge contra a idéia de que somos uma terra de ninguém. Quando um pequeno grupo de alunos, confundindo representatividade com propriedade, entrega a bandeira do Centro Acadêmico “XI de Agôsto” à revelia dos que os elegeram, permitindo a Invasão das Arcadas. Uma evidente traição, pois que devem nos representar e não agir como se fossem “donos” dela

Irresponsavelmente, ao invés de admitirem o grave crime cometido, ainda tentam sustentar uma tese anacrônica e falsa, com um mesmo discurso também anacrônico e falso. Para esse pequeno e traiçoeiro grupo, quaisquer que divirjam das idéias postas em seus corações e mentes, por meio de lavagem cerebral, somos todos tachados de reacionários, fascistas, racistas, autoritários, opressores, intolerantes, discriminadores e toda uma gama de adjetivos que decoraram e nem ao menos têm noção de sua exata valoração. Apelativamente, recorrem a frases feitas, distorcendo-as ao seu intento. Incrível como na São Francisco temos cinqüenta donos da Verdade absoluta, que são eles, e 2250 verdadeiros imbecis !

Com uma postura infantil, ingênua e burra, querem deter para si o monopólio de serem os únicos preocupados com todas as mazelas do Brasil. Para defender o que chamam Direito, cometem crimes, esquecendo-se que Liberdade e Democracia pressupõem deveres e não só direitos. E querem manter o antagonismo mentiroso e hipócrita que existe na sociedade em geral: a luta entre o Bem e o Mal, sendo eles, obviamente o Bem. Isso não cabe nas Arcadas. Nunca fomos e nunca seremos manipulados por interesses escusos, que se utilizam dos chamados “movimentos populares” para lograrem seus reais e sorrateiros interesses. Agitadores profissionais aportaram aqui, travestidos de “coitadinhos”. Um intento mentiroso jamais terá a adesão de alunos, como não teve. Por não sermos passíveis de subserviência, utilizaram-se e manipularam os membros da gestão do “XI”.

Disseram que não somos donos das Arcadas. Pelo menos nisso têm razão. Somos passageiros, posseiros pacíficos, a justo título, conquistado com o ingresso pelo vestibular e o Território Livre é o local designado para as nossas legítimas manifestações. Ou outras, às quais nos irmanarmos.
Quando optaram pelo omissão da verdade aos alunos, a pedido dos manipuladores dos movimentos sociais, mostraram muito bem de que lado estão: votaram por eles. Pois que fiquem com eles, então. Permitiram que as Arcadas fossem invadidas por líderes aproveitadores. Numa trágica mudança histórica, desta vez a força Estatal entrou aqui, não como antes, que nunca entrou efetivamente. Mas atendendo a louvável pedido do Diretor da Faculdade, no interesse dos alunos e em proteção a esse sacrossanto solo das Arcadas.

Esse antagonismo que quere criar não cabe aqui. É elementar que, em havendo antagonismo entre representante e representado, fica simples a questão: retira-se a representatividade por ela não ter sido por eles efetivada. Antes, traída.

Por essa razão, deve a Gestão do “XI de Agosto” fazer uma retratação pública, sendo esses membros tornados inelegíveis.

Quanto aos demais alunos, que fique o apelo para que, nas próximas eleições, não se deixem mais uma vez enganar por falas mansas e traiçoeiras, nem por aproveitadores de última hora, votos de amizade, propostas faraônicas e mentirosas e etc.

Tudo o que queremos é a São Francisco para os franciscanos. Só isso, nada mais. Mostre a sua cara e defenda essas Arcadas.

Luiz Gonzaga Arcadas, XXVIII de agosto, CLXXX

Um comentário:

Unknown disse...

Genial. Muito bom.

Pena que haja puca gente inteligente nesta faculdade.